Montanhas em Santa Teresa esconde o segredo do melhor vinho tinto seco do país
Montanhas em Santa Teresa esconde o segredo do melhor vinho tinto seco do país. Crédito: Carlos Alberto Silva

Segredos da vinícola capixaba dona de um dos melhores vinhos do país

Montanhas de uma cidade da Região Serrana do Espírito Santo escondem a produção do tinto fino seco escolhido o mais saboroso do Brasil

Publicado em 23/12/2020 às 10h47
Atualizado em 24/12/2020 às 16h29

Seja no Antigo ou no Novo Testamento, as referências ao vinho são muitas. A bebida tem protagonismo em passagens bíblicas como as Bodas de Caná e a Santa Ceia. Além disso, a Sagrada Escritura diz que Jesus produziu vinho de qualidade a partir de água. Nas vinícolas espalhadas pelo mundo ainda ninguém descobriu como ter tal dom. Mas a busca por uma bebida que também possa ter um sabor divino persiste.

No Espírito Santo, uma vinícola tem tentado se aproximar entre  os produtores 'celestiais'. Brincadeiras à parte, uma coisa é certa: uma propriedade localizada no município de Santa Teresa, na Região Serrana do Estado vem chamando a atenção pela qualidade da bebida que produz. Típico de regiões frias, o vinho elaborado no Vale do Tabocas é o melhor tinto fino seco do país e foi o campeão da Wines of Brazil Awards 2020.

O sítio que produz esse vinho leva o mesmo nome da comunidade onde está localizado, Tabocas. Parte da plantação de café que havia no local foi extinta para dar lugar ao parreiral, nome dado ao plantio de uva, e à vinícola que hoje é sucesso.

O Vale do Tabocas é o responsável pelo Terroir, ou seja, o conjunto de características que tornaram esse vinho único. Terroir é uma palavra francesa, sem tradução, que significa um encontro perfeito do solo com o clima. É dessa relação íntima e forte que nascem as uvas de qualidade, ideais para a fabricação das melhores bebidas.

"Aqui no Tabocas temos um conjunto de características ambientais que vão interferir no vinho e dar a sua identidade. A penalidade da nossa bebida vem, principalmente, do perfil aromático, que é bem interessante e diferenciada", comenta Vinicius Corbellini, que é um dos três sócios da Vinícola Tabocas.

Vinícola Taboca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
(essa foto foi tratada)
Vinicius e Divanir são sócios da vinícola Vale do Tabocas. Crédito: Carlos Alberto Silva

O vinho produzido na propriedade usa uma espécie famosa de uva Vitis vinifera, a Cabernet Sauvignon. A história desse vinho começou em 2006 quando três amigos decidiram plantar essa variedade da fruta. Em 2007, eles acabaram produzindo um lote de 100 garrafas do vinho para o consumo próprio. Até essa data o plantio era voltado ao cultivo de uva de mesa, de uma variedade sem caroço, que era vendida na região.

Vinicius Corbellini

sócio da Vinícola Tabocas

"Começamos com um vinhedo pequeno e observamos que os nossos amigos gostavam bastante do vinho. Então, resolvemos investir na atividade e desenvolver o trabalho de viticultura aqui. O nosso cultivo era todo voltado para uva de mesa, mas, com o passar do tempo, vimos que a região de Santa Teresa tem o clima todo propício para a produção de vinho, o Terroir"

A primeira safra destinada à produção de vinho comercial, foi colhida em 2008. Com o crescimento da produção com foco no vinho, a uva de mesa deixou de cultivada em 2011. O tempo passou, a vinicultura foi se aperfeiçoando e em 2020 o parreiral produziu cerca de 4 toneladas de uvas, que se transformaram em aproximadamente 3 mil garrafas de vinho.

Produção de vinho no Vale do Tabocas

Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas. Carlos Alberto Silva
Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Divanir e Vinicius são sócios da vinícola que fica no Vale do Tabocas. Carlos Alberto Silva
Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Parreiral da Vinícola Taboca, que produz vinho em Santa Teresa. Carlos Alberto Silva
Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Parreiral da Vinícola Taboca, que produz vinho em Santa Teresa. Carlos Alberto Silva
Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Divanir e Vinicius são sócios da vinícola que fica no Vale do Tabocas. Carlos Alberto Silva
Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Vinicius sócio da vinícola Vale do Tabocas na sala em que o vinho amadurece em dornas de jequitibá-rosa. Carlos Alberto Silva
Com predominância de colonização italiana, a cultura da uva é antiga na região serrana do Espírito Santo.
Garradas da Vinícola Taboca . Carlos Alberto Silva
Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa. Carlos Alberto Silva
Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Divanir é um dos sócios da vinícola que fica no Vale do Tabocas. Carlos Alberto Silva
Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa. Carlos Alberto Silva
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa
Vinícola Taboca produz vinhos em Santa Teresa

Hoje o local trabalha com quatro variedades de uva: a cabernet sauvignon, a chardonnay, a malbec e a Alvarinho, que começou a ser cultivada este ano pelo grupo.

1,5 HECTARE

SERÁ A ÁREA DE PRODUÇÃO DE UVAS EM 2021

As frutas estão sendo produzidas em uma área de um hectare de plantio, que será expandida para 1,5 hectare até 2021. Além disso, a propriedade conta com uma agroindústria onde a bebida é fabricada.

"Somos em três sócios e apenas nós trabalhamos na propriedade. A minha parte é mais de processamento em vinho e manejo do vinhedo. O Divanir fica com o trato do vinhedo e o Sandro é o agrônomo e também responsável pelos rótulos dos vinhos", conta Vinicius.

Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Vinicius pegando vinho da dorna com uma pipeta e colocando na taça. Crédito: Carlos Alberto Silva

Vinicius explica ainda que do plantio até a produção são, em média, de 3 a 4 anos, sendo que todo ano é colhida uma safra de uvas. O período de maturação das uvas tem que ser com pouca, ou quase ausência de chuvas, e com frio.

"Esse clima permite termos um vinho bastante diferenciado, de excelência. A colheita é manual e feita durante o mês de agosto, que é no final do inverno. E, no vinhedo já é feita uma pré-seleção dos cachos que irão para a vinificação", comenta.

Vinícola Taoca. Produção de vinho em Santa Teresa. Primeira vinícola a elaborar vinho fino, o Tabocas
Rótulo tem característica única: une melhor clima e melhor solo. Crédito: Carlos Alberto Silva

O vinho capixaba concorreu com mais de 1,2 mil rótulos de todo o país em um concurso que aconteceu no Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro vinho envelhecido em dornas de jequitibá-rosa a ganhar uma medalha de ouro. A madeira dos galões é originária de árvores caídas da Floresta Amazônica e a produção é feita por uma empresa mineira.

"O vinho estabilizado fica de 5 a 12 meses nas dornas para dar esse afinamento", conta Vinicius.

5 A 12 MESES

TEMPO DE MATURAÇÃO DO VINHO NAS DORNAS

Apesar de a madeira vir de tão longe, essa árvore também é encontrada no Espírito Santo, sendo um símbolo do Estado. Esse tipo de madeira, aliás, já era adotado pelas cachaçarias, que é outra tradição capixaba. A safra premiada na Wines of Brazil Awards é a de 2017.

As expectativas são positivas para a vitivinícola, além de aumentar a área de produção e plantio a agroindústria capixaba também vai começar a abrir para visitas, matando a sede dos amantes do vinho tinto.

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