Seja no Antigo ou no Novo Testamento, as referências ao vinho são muitas. A bebida tem protagonismo em passagens bíblicas como as Bodas de Caná e a Santa Ceia. Além disso, a Sagrada Escritura diz que Jesus produziu vinho de qualidade a partir de água. Nas vinícolas espalhadas pelo mundo ainda ninguém descobriu como ter tal dom. Mas a busca por uma bebida que também possa ter um sabor divino persiste.
No Espírito Santo, uma vinícola tem tentado se aproximar entre os produtores 'celestiais'. Brincadeiras à parte, uma coisa é certa: uma propriedade localizada no município de Santa Teresa, na Região Serrana do Estado vem chamando a atenção pela qualidade da bebida que produz. Típico de regiões frias, o vinho elaborado no Vale do Tabocas é o melhor tinto fino seco do país e foi o campeão da Wines of Brazil Awards 2020.
O sítio que produz esse vinho leva o mesmo nome da comunidade onde está localizado, Tabocas. Parte da plantação de café que havia no local foi extinta para dar lugar ao parreiral, nome dado ao plantio de uva, e à vinícola que hoje é sucesso.
O Vale do Tabocas é o responsável pelo Terroir, ou seja, o conjunto de características que tornaram esse vinho único. Terroir é uma palavra francesa, sem tradução, que significa um encontro perfeito do solo com o clima. É dessa relação íntima e forte que nascem as uvas de qualidade, ideais para a fabricação das melhores bebidas.
"Aqui no Tabocas temos um conjunto de características ambientais que vão interferir no vinho e dar a sua identidade. A penalidade da nossa bebida vem, principalmente, do perfil aromático, que é bem interessante e diferenciada", comenta Vinicius Corbellini, que é um dos três sócios da Vinícola Tabocas.
O vinho produzido na propriedade usa uma espécie famosa de uva Vitis vinifera, a Cabernet Sauvignon. A história desse vinho começou em 2006 quando três amigos decidiram plantar essa variedade da fruta. Em 2007, eles acabaram produzindo um lote de 100 garrafas do vinho para o consumo próprio. Até essa data o plantio era voltado ao cultivo de uva de mesa, de uma variedade sem caroço, que era vendida na região.
Vinicius Corbellini
sócio da Vinícola Tabocas
"Começamos com um vinhedo pequeno e observamos que os nossos amigos gostavam bastante do vinho. Então, resolvemos investir na atividade e desenvolver o trabalho de viticultura aqui. O nosso cultivo era todo voltado para uva de mesa, mas, com o passar do tempo, vimos que a região de Santa Teresa tem o clima todo propício para a produção de vinho, o Terroir"
A primeira safra destinada à produção de vinho comercial, foi colhida em 2008. Com o crescimento da produção com foco no vinho, a uva de mesa deixou de cultivada em 2011. O tempo passou, a vinicultura foi se aperfeiçoando e em 2020 o parreiral produziu cerca de 4 toneladas de uvas, que se transformaram em aproximadamente 3 mil garrafas de vinho.
Produção de vinho no Vale do Tabocas
Hoje o local trabalha com quatro variedades de uva: a cabernet sauvignon, a chardonnay, a malbec e a Alvarinho, que começou a ser cultivada este ano pelo grupo.
1,5 HECTARE
SERÁ A ÁREA DE PRODUÇÃO DE UVAS EM 2021
As frutas estão sendo produzidas em uma área de um hectare de plantio, que será expandida para 1,5 hectare até 2021. Além disso, a propriedade conta com uma agroindústria onde a bebida é fabricada.
"Somos em três sócios e apenas nós trabalhamos na propriedade. A minha parte é mais de processamento em vinho e manejo do vinhedo. O Divanir fica com o trato do vinhedo e o Sandro é o agrônomo e também responsável pelos rótulos dos vinhos", conta Vinicius.
Vinicius explica ainda que do plantio até a produção são, em média, de 3 a 4 anos, sendo que todo ano é colhida uma safra de uvas. O período de maturação das uvas tem que ser com pouca, ou quase ausência de chuvas, e com frio.
"Esse clima permite termos um vinho bastante diferenciado, de excelência. A colheita é manual e feita durante o mês de agosto, que é no final do inverno. E, no vinhedo já é feita uma pré-seleção dos cachos que irão para a vinificação", comenta.
O vinho capixaba concorreu com mais de 1,2 mil rótulos de todo o país em um concurso que aconteceu no Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro vinho envelhecido em dornas de jequitibá-rosa a ganhar uma medalha de ouro. A madeira dos galões é originária de árvores caídas da Floresta Amazônica e a produção é feita por uma empresa mineira.
"O vinho estabilizado fica de 5 a 12 meses nas dornas para dar esse afinamento", conta Vinicius.
5 A 12 MESES
TEMPO DE MATURAÇÃO DO VINHO NAS DORNAS
Apesar de a madeira vir de tão longe, essa árvore também é encontrada no Espírito Santo, sendo um símbolo do Estado. Esse tipo de madeira, aliás, já era adotado pelas cachaçarias, que é outra tradição capixaba. A safra premiada na Wines of Brazil Awards é a de 2017.
As expectativas são positivas para a vitivinícola, além de aumentar a área de produção e plantio a agroindústria capixaba também vai começar a abrir para visitas, matando a sede dos amantes do vinho tinto.
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