As principais tecnologias e tendências no mercado rural serão destaque na edição de 2024 do TecnoAgro, que chega com o tema "Agro Inteligente". O evento, realizado pela Rede Gazeta, será quarta-feira (28) e quinta-feira (29), no Steffen Centro de Eventos, na Serra, e tem como proposta ser o ambiente ideal para explorar e discutir avanços que colaborem com a produtividade e a sustentabilidade no campo.
O TecnoAgro 2024 tem mais de 20 palestrantes já confirmados e que são referências quando o assunto é tecnologia para o campo (clique aqui para se inscrever). Um deles é o gerente de inovação aberta da Bayer, André Koji Fukugauti, que estará no painel "Inteligência artificial no agro". A conversa será mediada por Fabíola de Paula, apresentadora do Bom Dia ES. Ele estará ao lado de Carlos Ribeiro, da startup Sensix, e de Samuel de Assis Silva, professor de Departamento de Engenharia Rural da Ufes.
Na conversa com a reportagem de A Gazeta, Fukugauti falou sobre como iniciativas em tecnologia e a inteligência artificial podem ajudar no dia a dia do campo e também refletiu sobre os desafios em relação às mudanças climáticas para o agronegócio. "A tecnologia mostra como a IA pode ser uma aliada para lidar com os desafios do agro", afirma.
O tema do TecnoAgro deste ano é inteligência artificial no campo. Pode falar um pouco sobre como a tecnologia tem auxiliado no dia a dia do campo, principalmente a IA?
A inteligência artificial, não diferente de outros setores, está revolucionando o agronegócio também. Através de análise de grande volume de dados em tempo real, a IA possibilita percepções baseadas em fator de solo, clima, situação das plantas e isso reduz as aplicações nas pesquisas por questão de custo. A agricultura tem evoluído ao longo do tempo e, com a tecnologia avançando, a IA tem a função de otimizar essa evolução. Para isso tem algumas ferramentas, como drones, satélites operados por IA, que identificam pragas e doenças rapidamente. Máquinas agrícolas também operam com a mínima intervenção humana, aumentando cada vez mais a produtividade e operações. E a Bayer, desde 2017, apoia a digitalização do campo no Brasil com a plataforma Climate Fieldview, em que já apresentamos solução de prescrição personalizada de sementes usando IA. Hoje, a plataforma já monitora mais de 38 milhões de hectares no Brasil e 90 milhões globalmente.
Pode citar, por favor, mais alguns exemplos de como a tecnologia tem sido usada e seus ganhos?
Uma das ferramentas chamamos de LLM, que é tipo um ChatGPT que adaptamos para o agro com essa parceria. Essa nova etapa, que começou em novembro, reuniu dados que possibilitaram ao produtor fazer perguntas para a plataforma e trazer algumas informações que levamos para ele. A plataforma ajuda basicamente a obter dados agrícolas ambientais e ajuda a responder qualquer pergunta que ele tenha. Ele consegue diferenciar áreas colhidas e plantadas e sua produtividade entre uma área e outra. Muitas vezes, o produtor faz uma amostragem no campo e toma como fato real e nem sempre é a figura que ele deveria considerar para tomada de decisão. Com a plataforma, dá para ter uma total visão e não só uma amostragem. Assim, a tecnologia ajuda na tomada de decisões.
Onde ainda há espaço para mais uso e quais são os benefícios?
Ainda tem muito a desenvolver em relação a outros setores. Eu diria que tem muita oportunidade em relação a processos ainda, na questão da operação, aumentar eficiência e ajudar a enfrentar desafios climáticos e de sustentabilidade. O produtor ainda olha muito a propriedade como fonte de renda e acreditamos muito que ele consegue aumentar a produtividade sendo mais sustentável e protegendo o meio ambiente. Podemos usar a IA de forma personalizada para ajudar o produtor a digitalizar o campo. Com dados, ele pode ter uma gestão mais perfeita para que consiga cada vez mais extrair o máximo, principalmente preservando o solo para que consiga uma sustentação maior ao longo do tempo.
No caso do Espírito Santo, quais são as principais oportunidades de uso?
Para café e cacau, culturas importantes no Espírito Santo, a IA pode ajudar muito no manejo, identificando o momento ideal para colheita, tornando a produção mais eficiente. Também consegue otimizar o uso da água. Vejo que a agricultura digital acaba ajudando o que nos ajuda. Se pegar toda a rede de influência entre cooperativas e consultores que atuam na região, a IA tem potencial gigantesco, não de substituí-los, mas sim de ajudá-los a empoderar e ajudar o produtor lá na frente.
Quais bons exemplos você pode dar do que tem sido feito no Brasil?
Há muitas iniciativas. Inclusive, no painel que vou participar, vai ter um colega que é nosso parceiro que faz o trabalho de pegar imagens de drone em momento chave da cultura e consegue processar essas imagens com a IA para tomar decisões importantes na lavoura, analisando sementes e solo. É possível fazer várias camadas de análises para que ele possa melhorar a produtividade no solo. Além disso, outras questões também envolvem a tecnologia e IA e vão além da fazenda. A IA pode ser usada na questão de crédito, para fazer análise de documentos, fazer a busca de pontos de crédito. E, fora da porteira, também há startups que trabalham com commodities e facilitam toda essa interface com o agricultor e também há as que cuidam da logística. Então, a IA chega para eliminar as barreiras que antigamente o produtor tinha para acesso a cadeia como um todo e, ao mesmo tempo, ganha eficiência na plantação de grãos. Então, toda a cadeia, desde antes do plantio até a comercialização, hoje terá ferramenta que traz benefício para todos.
Quais são os desafios em relação às mudanças climáticas no agronegócio?
Realmente é bem preocupante e um desafio para o agro. Na tecnologia, existem pontos não para resolver totalmente, mas para preparar melhor e ter maior sustentabilidade. Exemplo disso é o desenvolvimento de novas variedades de sementes mais resistentes a condições adversas, o monitoramento de dados também ajuda a prever eventos extremos e a mitigar impactos, ajudando na estratégia de manejo. E também o gerenciamento de risco porque, com isso, é possível diversificar o cultivo, dando flexibilidade de cultura, dependendo da fase do ano e condições climáticas, podendo adotar práticas agrícolas que sejam menos vulneráveis a essas mudanças.
Como as empresas do agro podem se preparar para afetar menos o meio ambiente e emitir menos carbono e usar menos recursos hídricos?
Eu acho que uma das alternativas para as mudanças climáticas e também para a redução da emissão de carbono passa pela rotação de cultura e uso de energias renováveis, cujo Brasil é referência, e reciclagem de água; são manejos que fazem muito sentido. E outras medidas que promovem uma produção mais sustentável e que otimizam recursos contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Existem algumas estratégias para isso. Aqui na Bayer temos o PRO Carbono, que é um programa que promove práticas agrícolas sustentáveis, resultando na redução de emissão de gases do efeito estufa, reinjetando carbono no solo. O programa permite que os produtores gerem mais crédito de carbono que são comercializados, e a nossa pretensão é que, através das boas práticas agrícolas, ele já produza mais e comece a preservar para depois ter acesso ao crédito. Desde o lançamento, há dois anos, já temos 1.900 produtores participando do programa e 300 mil amostras do solo analisadas. Eu diria que as parcerias são importantes na agricultura regenerativa para ganho de manejo de solo e biodiversidade. Nesses exemplos com situações extremas, um solo com mais matéria orgânica aguenta muito mais. Com isso, se consegue ter uma agricultura muito mais preparada para situações adversas.
Tivemos chuvas em Mimoso do Sul, aqui no ES, e no Rio Grande do Sul que tiveram consequências para o agro. E, depois, períodos de seca. Quais são os prejuízos e cuidados para o agronegócio nessa época e como a tecnologia pode ajudar a evitar que situações como essa se repitam.
Acreditamos que o agro pode adotar tecnologias e sistemas mais apurados de monitoramento climático. É possível, sim, ajudar a prever os extremos e planejar ações preventivas. Ao mesmo tempo temos a possibilidade de adotar práticas de manejo sustentável com o plantio direto e cultivo de cobertura amplamente disseminado no cenário brasileiro são essenciais para melhorar a retenção de água no solo. Assim, a cultura consegue tanto suportar melhor os períodos de chuvas intensa e também, no momento de seca, manter mais umidade na terra. O uso da IA e a análise de dados também podem ajudar na tomada de decisões muito mais assertivas, como uso de água e adaptação às condições do clima. A tecnologia pode ajudar com sistema de drenagem inteligente. Também temos um modelo de gestão de seca que pode ser feito usando IA, porque a gente consegue prever, por exemplo, situações de seca e manejo. Essas estratégias de tecnologia mostram como a IA pode ser uma aliada para lidar com os desafios do agro. Aposto muito na colaboração das entidades, para conseguir prevenir e nos antecipar a esses problemas e ter uma folga para minimizar os efeitos.
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