Se em um passado não tão distante o acasalamento do gado era direcionado pela intuição do produtor, agora a tomada de decisão é ditada pela ciência, com a ajuda de programas que funcionam como um “Tinder da pecuária”.
A partir de um banco de dados, softwares com ferramenta genômica comparam as informações das vacas e dos touros e identificam em quais casos o cruzamento irá gerar bezerros com DNA de maior qualidade.
Além do acasalamento dirigido, que resulta em animais geneticamente superiores, os programas geram indicadores de desempenho e certificação e contribuem com a preservação do meio ambiente.
A tecnologia é a principal aliada da pecuária de ciclo curto, em que são garantidos animais precoces sexualmente e prontos para o consumo humano também mais cedo.
“Em geral, a fêmea zebuína emprenha a partir dos 24 meses. Hoje, conseguimos que 70% emprenhem antes dos 15 meses, que são as superprecoces, e 77% antes dos 18 meses. Já o ponto de abate foi encurtado de 30 para 24 meses”, diz o produtor Anselmo Laranja, da fazenda Porto do Engenho, em Cariacica.
Para ele, não basta o gado ser melhorado. É preciso também apresentar desempenho. Por isso, os animais passam por certificação que envolve maior rendimento de carcaça e desossa, com carnes de melhor qualidade. O gerenciamento do rebanho, o controle da qualidade do pasto e de suplementos para o gado também são monitorados, de acordo com os dados computados.
“Uma tecnologia amplamente testada e que traz resultados é a inseminação artificial. A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) gera eficiência reprodutiva dos rebanhos por meio da indução e sincronização da ovulação das fêmeas. Funciona como locomotiva que melhora nutrição, práticas de manejo e mão de obra”, explica Breno Dallas Maestri, veterinário e produtor rural.
Mais eficiência no pasto
Criação de gado deve aumentar, em espaço menor, graças à melhoria no manejo e nas pastagens
A pecuária deve crescer verticalmente nos próximos anos, produzindo mais dentro da mesma área que tem hoje no Estado. É o que aponta o presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil, Nabih Amim El Aouar.
“Melhorando as pastagens, a genética do rebanho, independente da raça bovina, e utilizando todo o conhecimento com manejo dos animais, estimamos que a área de pastagem no Estado caia de 1,3 milhão de hectares para um milhão de hectare nos próximos 10 anos, no mesmo passo em que nossa produção aumentará”, afirma.
O Espírito Santo tem um rebanho de 2,1 milhões de cabeças de gado bovino, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2020 (PPM/IBGE), sendo que mais de 15 mil propriedades criam gado de corte (animais para abate).
De acordo com Nabih, há 20 anos, a raça predominante criada no Estado era a Girolando, caracterizada por gado em várias tonalidades (marrom, preto e branco) e de estatura média. Porém, com a chegada do gado Nelore, raça proveniente da Índia, a preferência dos pecuaristas foi mudando.
“A predominância em todo o país é do gado Nelore. Cerca de 70% dos animais criados no Espírito Santo são dessa raça. Isso porque ela se adaptou muito bem ao clima do brasileiro, mais quente, além de serem animais maiores e que precisam de menos cuidados do que as demais raças”, explica.
A chegada de novas tecnologias vem ajudando os pecuaristas a fazer com que o gado seja mais produtivo. De acordo com Nabih, técnicas como a inseminação artificial e a melhoria na alimentação - rações, concentrados, sal-mineral - fazem os bois chegarem mais cedo ao ponto de abate.
“Hoje, existe uma denominação chamada ‘boi-china’, que é a exigência para que o animal criado em pastagem não passe de 30 meses (2 anos e meio) para abate. Os pecuaristas passaram a se esmerar a produzir animais mais precoces, pelo preço de venda e pelo tempo de chegada ao ponto, podendo produzir mais em menor prazo”, explica.
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