Enquanto parte da população brasileira mostra-se ávida pela vacina contra a Covid-19 para poder retomar as atividades normais, parte apresenta uma conduta antivacina e não pretende tomar o imunizante quando estiver disponível no país. Seja por viés ideológico, seja por desconhecimento, o grupo se recusa a receber as doses que poderão prevenir a infecção pelo coronavírus, que já matou 4.996 pessoas apenas no Espírito Santo. Para estes que se opõem à imunização, A Gazeta ouviu especialistas, que relacionaram argumentos favoráveis à vacina.
Elda Bussinguer, pós-doutora em Saúde Coletiva e professora da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), faz apontamentos na área de saúde e jurídica que sustentam a relevância da vacinação.
"A primeira questão importante é que vivemos em um mundo, cujo processo civilizatório só chegou até aqui também por conta da ciência. O conhecimento produzido tornou a nossa vida melhor, e isso inclui a vacina. A minha geração conhece milhares de pessoas que tiveram suas vidas e saúde comprometidas, o seu futuro, porque não existiam algumas vacinas, como a da poliomielite, que deixou tantas pessoas com paralisia", observa Elda, também articulista em A Gazeta.
O médico imunologista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel de Oliveira Gomes, acrescenta que, não bastassem os benefícios individuais, a pessoa que é imunizada também garante a proteção social. "Vale a pena enfatizar que a vacina tem uma importância social muito grande. Além da proteção personalizada, quem se vacina contribui para a chamada imunidade de rebanho, e indivíduos que não podem ser vacinados são indiretamente protegidos", atesta.
Essas são apenas duas das justificativas apresentadas pelos especialistas. Elda Bussinguer e Daniel Gomes têm mais a dizer. Confira os argumentos que pode usar com aquelas pessoas que ainda não se convenceram.
Desde o advento das primeiras vacinas, há grupos que se opõem a sua aplicação. Mas o que a história demonstra é que, ao longo dos anos, as vacinas garantiram a prevenção de doenças, reduziram o índice de mortalidade e de sequelas provocadas por agentes infecciosos que passaram a ser combatidos pelos imunizantes, a exemplo da paralisia infantil. Por outro lado, não há registro histórico de tragédias causadas por vacinas.
Antes de serem disponibilizadas para a população, as vacinas passam por três fases de testes em humanos. Na primeira, o foco é a segurança, ou seja, é verificado se a substância provoca toxicidade ao organismo dos indivíduos. Vencida essa etapa, são realizadas outras duas, com grupos maiores de pessoas, para avaliar a eficácia da vacina, o que significa dizer que os testes vão apontar se o imunizante serve para prevenir a doença para o qual está sendo desenvolvido. Com uma abrangência maior, a segurança do produto continua sendo avaliada. Quando os ensaios são concluídos, a vacina ainda é submetida à aprovação de uma agência reguladora, no Brasil representada pela Anvisa.
À medida que a ciência está se desenvolvendo, o controle ético também fica maior. Há comitês de ética e pesquisa no mundo inteiro, inclusive no Brasil, que acompanham o desenvolvimento das vacinas e a sua segurança. São cientistas que avalizam o que está sendo produzido e não vão colocar em risco a sua credibilidade dando anuência ao que não é seguro.
Antes de mais nada, a vacina serve para proteger o indivíduo. A pessoa vai estar imune ao risco de se infectar ou desenvolver a doença, e de ter todos os problemas associados. No caso da Covid, a reação inflamatória no organismo varia bastante entre os pacientes, mas, além de afetar o aparelho respiratório, há registros de problemas cardíacos, neurológicos, motores e renais. Para prevenir a infecção pelo coronavírus, as pessoas deverão tomar duas doses.
As pessoas que tomam vacina protegem a si, e também àqueles que, por problemas de saúde ou outra condição, não podem mesmo se vacinar. É a chamada proteção social, que só é garantida quando há uma cobertura vacinal mínima do público-alvo, popularmente conhecida como imunidade de rebanho. Para a Covid, ainda não há uma estimativa sobre o percentual a ser alcançado, mas, para outras doenças, tem sido de no mínimo 80%. Vale lembrar que, no caso da Covid, ainda não há vacinas para crianças e os adultos que forem imunizados vão protegê-las indiretamente.
O movimento antivacina atual se posiciona sobretudo em relação ao imunizante da fabricante chinesa Sinovac, que estabeleceu parceria com o Instituto Butantan, do governo paulista, para o desenvolvimento da Coronavac. No entanto, o conhecimento científico hoje é globalizado, e determinar uma origem passa ao largo da intensa troca de experiências que os pesquisadores de vários países realizam. Além disso, a China, particularmente, é fornecedora de insumos para muitos medicamentos no Brasil, e um boicote aos produtos do país significaria deixar de ter uma infinidade de remédios.
Os institutos brasileiros envolvidos no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 - Butantan e Fiocruz - são reconhecidos internacionalmente por sua produção científica e contribuição à saúde pública do país.
Caso os argumentos de saúde não sejam suficientes, é importante ressaltar que a vacina no país é obrigatória. Há diversos dispositivos jurídicos que demonstram a sua obrigatoriedade, o que poderia levar os movimentos antivacina a serem criminalizados. Ninguém será procurado em casa e levado a um posto de vacinação, mas o Estado pode usar de outras estratégias como, por exemplo, impedir a participação em seleções públicas.
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