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8 em cada 10 alunos saem do ensino fundamental no ES sem saber matemática

8 em cada 10 alunos saem do ensino fundamental no ES sem saber matemática

Resultados da prova do Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) 2021 foram apresentados nesta sexta-feira (18) pela Sedu e mostram que 56% dos estudantes do nono ano sabem somente o básico, enquanto 26% conhecem ainda menos que isso

Publicado em 18 de fevereiro de 2022 às 15:33

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Em média, 8 em cada 10 alunos do Espírito Santo deixam o ensino fundamental e entram no ensino médio sem saber o necessário em matemática, uma das principais disciplinas da base curricular. O dado, que foi apresentado nesta sexta-feira (18) pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), integra os resultados da prova do Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) 2021, e mostra que 56% dos estudantes do nono ano sabem somente o básico da disciplina, enquanto 26% conhecem ainda menos que isso.

O exame, geralmente, é aplicado anualmente, mas, devido à pandemia, a rede estadual unificou os currículos, juntando 2020 e 2021. O mesmo ocorreu com a avaliação, que também analisa o desempenho dos estudantes em língua portuguesa.

Aluno na sala de aula
Estudante fazendo prova. (Shutterstock)

Embora os dados não mostrem uma queda tão grande de desempenho ante ao período pré-pandemia, existe um sutil aprofundamento de resultados que já estavam aquém do esperado nas duas disciplinas.

8 em cada 10 alunos saem do ensino fundamental no ES sem saber matemática

A pontuação geral em matemática (258) indica que os estudantes atingiram somente o nível básico de aprendizado. Para alcançar a proficiência, que é considerada o patamar adequado, a média deveria ser de 300 ou mais. 

Padrões de desempenho:

  • Até 200: abaixo do básico
  • 200 a 275: básico
  • 275 a 325: proficiente
  • Acima de 325: avançado

O mesmo acontece na avaliação de língua portuguesa, onde a pontuação geral média é 256, quase estagnando em relação aos anos anteriores.

O problema, entretanto, não é inteiramente novo. Ainda em 2021, avaliação diagnóstica realizada pela Sedu, com as turmas do ensino fundamental e do médio, revelou a necessidade de um programa de reforço, que foi reformulado pela pasta para atender a todas as 429 unidades da rede. A medida pretendia justamente conter esses prejuízos provocados pela pandemia da Covid-19, já identificados, e ajudar os alunos no processo de aprendizagem.

"É preciso reconhecer que já havia uma 'pandemia' antes da Covid-19. O lado positivo é que é lógico que a crise poderia ter prejudicado ainda mais e, se ela não prejudicou quase nada nos anos finais da educação básica, é porque as ações da Secretaria de Estado da Educação foram importantes para mitigar os efeitos da Covid-19 sobre a nossa área", avaliou o secretário estadual da Educação, Vitor de Angelo.

O secretário pontua, entretanto, que quando o aluno não consegue alcançar o nível de proficiência nas disciplinas, isso indica que ainda que é necessário desenvolver mais ações para reforçar e aprofundar as habilidades. "O correto seria o estudante ser proficiente. Se é mais do que isso, é ótimo. Se é menos do que isso, é preocupante."

CORRIDA PARA COMPENSAR ATRASO

A avaliação do Paebes não aponta se os alunos foram aprovados ou reprovados para o próximo ano, apenas traz o recorte de seus conhecimentos no momento em que foram testados. Aqueles que passaram de ano e entraram no ensino médio, porém, precisam correr para se adaptar, tendo em vista que, a partir de 2022, a grade curricular básica passou por mudanças.

Doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Maria Schwartz considera que, mesmo que o currículo do ensino médio fosse igual ao anterior, haveria dificuldades. Entretanto, agora é preciso fazer um esforço a mais para compensar os resultados mais fracos.

Aspas de citação

Independente do currículo, novo ou antigo, esses alunos também tiveram que estudar sem o aparato necessário. Apesar de não ter havido uma piora muito grande nos resultados, também não houve uma melhora. Não houve o suporte, os recursos que uma escola oferece, e isso também precisará ser compensado de alguma forma

Cleonara Maria Schwartz
Doutora em Educação e professora da Ufes
Aspas de citação

E complementa: "A escola vai ter que fazer programações, entrar com outro tipo de atividade, algum tipo de material que as crianças possam trabalhar na escola, mas também sejam orientadas a ter uma nova rotina de estudos em casa."

A opinião é compartilhada pela professora e consultora educacional Maria José Cerutti, que avalia que, agora, reformular a rotina de estudos será fundamental para reverter a situação.

Aspas de citação

Os estudantes conseguirão compensar esse atraso na aprendizagem, mas isso depende das metodologias que as escolas vão utilizar e também de como será estruturada a rotina de estudos em casa

Maria José Cerutti
Professora e consultora educacional
Aspas de citação

"Essa permanência desse resultado mostra que esses alunos mais velhos estão mais habilitados a utilizar a tecnologia, a procurar na internet estudos interativos, têm mais autonomia e, mais que nunca, vão ter que fazer uso dessas habilidades", explica  a professora.

ENSINO REMOTO PROVOCOU ATRASO EM ALFABETIZAÇÃO

Ao passo que possibilitou aos alunos desenvolverem atividades escolares sem perda completa do ano letivo, o ensino remoto não conseguiu suprir as necessidades dos alunos, especialmente no primeiro e segundo ano do ensino fundamental, quando normalmente se dá o processo de alfabetização.

Foram nestes anos que foram indicadas as principais quedas de resultados nas duas disciplinas, ainda que a maior parte dos estudantes seja considerada proficiente em português e matemática.

Professor na sala de aula
Professor na sala de aula. (Freepik)

"É muito complicada a alfabetização acontecer por vias remotas, esse processo demanda um profissional interagindo o tempo inteiro, com conhecimentos específicos da alfabetização. É um processo em que a criança se apropria da linguagem escrita, há fundamentos impossíveis de se trabalhar sem forte acompanhamento presencial e, na pandemia, as crianças não tiveram esse suporte adequado porque ou os pais estavam trabalhando em casa enquanto a criança estudava, ou deixavam a criança sozinha ou com outra pessoa, ou tentavam, mas não tinha os conhecimentos, as técnicas necessária", pontua a doutora em Educação e professora da Ufes, Cleonara Maria Schwartz.

Diante disso, essas crianças precisarão agora ser alfabetizadas mais tardiamente do que o esperado, e as escolas terão que se reorganizar e oferecer a esses alunos um suporte adequado.

Para a professora e consultora educacional Maria José Cerutti, isso já era esperado. "Por mais que as escolas tenham tentado fazer o melhor, o Estado também, de disponibilizar recursos, preparar os professores, mas houve um tempo em 2020 em que, até se adaptarem à nova realidade, demorou um pouco. Ninguém esperava que aquilo fosse acontecer. Somente por volta de junho, julho, as coisas começaram a funcionar, mas não foi a mesma coisa e, ainda hoje, não voltamos por completo à normalidade."

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