Carro 'aprisionado' ao lado do antigo prédio da Fundação Cecilano Abel de Almeida (FCAA), no Campus de Goiabeiras, da Ufes
Carro "aprisionado" ao lado do antigo prédio da Fundação Cecilano Abel de Almeida (FCAA), no Campus de Goiabeiras, da Ufes. Crédito: Carlos Alberto Silva

À espera de leilão, carro de fundação da Ufes é aprisionado com barra de ferro

Carro faz parte de um conjunto de veículos que fazem parte do patrimônio da antiga Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA) - que era ligada à Ufes -, e cujo processo de extinção tramita na Justiça estadual

Publicado em 13/10/2020 às 05h00
Atualizado em 13/10/2020 às 05h01

Uma cena inusitada chama a atenção no Campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória: um carro “preso” por barras de ferro. Está há tanto tempo no local que o mato já cresce ao redor das rodas. O Gol, ano 2010, faz parte de um conjunto de pelo menos seis veículos que estão abandonados no local, sofrendo com a deterioração causada pela ação do tempo, enquanto aguarda ser leiloado.

Além dele, há ainda um corsa Classic 2008, de quatro portas; uma Toyota 2.5 SW4D/1992, Kia Besta 1995; um Chevrolet Corsa 1998/9 e Chevrolet Astra 2003. Todos abandonados e sendo destruídos pelo tempo. Reportagem de A Gazeta, em 2018, já denunciava a situação.

O veículos fazem parte do patrimônio da antiga Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA) - que era ligada à Ufes -, e cujo processo de extinção tramita desde 2014 na Justiça estadual. O impasse, desde então, tem sido encontrar um administrador que possa identificar o tamanho do seu patrimônio e de suas dívidas. Em 2018, os débitos estimados superavam R$ 80 milhões.

O processo tramita na Justiça estadual e, em julho deste ano, o Juizado da 1ª Vara da Fazenda Estadual, Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde determinou que seja realizado o leilão de venda dos veículos. “Autorizo a realização de leilão eletrônico em razão da pandemia devendo ser informado a este juízo os atos praticados”, diz o texto da decisão.

O documento também autoriza a liberação do imóvel que antes era ocupado pela FCAA, e que pertence à Ufes, assim como o armazenamento dos móveis e documentos em sala a ser cedida pela Universidade até que o processo seja concluído.

Carros apodrecem no Campus da Ufes. Os quatro veículos pertencem a extinta Fundação Ceciliano Abel de Almeida
Carros estão abandonados no campus da Universidade Federal do Espírito Santo. Crédito: Carlos Alberto Silva
Carros apodrecem no Campus da Ufes. Os quatro veículos pertencem a extinta Fundação Ceciliano Abel de Almeida
Crédito: Carlos Alberto Silva
Carros apodrecem no Campus da Ufes. Os quatro veículos pertencem a extinta Fundação Ceciliano Abel de Almeida
Crédito: Carlos Alberto Silva

LIQUIDAÇÃO DA FUNDAÇÃO

A liquidação da FCAA foi pedida em 2014, por intermédio de uma ação ordinária proposta pela promotora Arlinda Maria Barros Monjardim, da 28ª Promotoria de Justiça, que faz a curadoria das fundações. Além das dificuldades financeiras, é relatado na ação que, em maio de 2014, todos os membros do conselho administrativo e o curador da Fundação Ceciliano Abel de Almeida renunciaram a seus cargos, deixando a instituição sem um responsável por sua administração. E segue assim até hoje.

Na ocasião, a dívida estimada era de quase R$ 30 milhões. Mas, em 2018, o débito estimado, só com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) chegaria a R$ 80 milhões, mas que ainda precisam ser comprovados. Havia ainda pendências trabalhistas, como o salário dos funcionários que não era pago. Também há débitos referentes a encargos trabalhistas, como INSS e FGTS. Por outro lado, a fundação teria recursos a receber por serviços prestados a prefeituras e que ainda não foram quitados. Levantar estas pendências seria papel do administrador judicial.

Criada em outubro de 1977, a fundação era uma instituição de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento tecnológico. Seu principal objetivo, segundo informações de seu antigo site, era apoiar e incentivar as atividades da universidade. Ao longo das últimas décadas, porém, a FCAA esteve envolvida em diversas denúncias e foi alvo de ações de improbidade administrativa que ainda tramitam na Justiça.

LIXO E SUJEIRA PELOS CAMPUS DA UFES

Quem percorre o Campus de Goiabeiras da Ufes, em Vitória, vai se deparar com muita sujeira e abandono. O mato cresce alto e em alguns centros o lixo se acumula. Em uma destas áreas, por exemplo, há uma montanha de carteiras e de outros equipamentos acumulados.

Em outros pontos há um grande acúmulo de restos de janelas que foram retiradas dos prédios, para serem trocadas por novas, e que estão sendo acumulados com o resto de material de construção. Há também muito acúmulo de folhas e do mato, que cresce sem ser cortado.

Quem chega à Universidade Federal do ES - Ufes - encontra um cenário de total abandono. Isso porque por todo o Campus existe lixo. Muito lixo.
Quem chega à Universidade Federal do Espírito Santo, encontra um cenário de  abandono. Crédito: Carlos Alberto Silva
Quem chega à Universidade Federal do ES - Ufes - encontra um cenário de total abandono. Isso porque por todo o Campus existe lixo. Muito lixo.
Crédito: Carlos Alberto Silva

RESPOSTA DA UFES

Por intermédio de nota, a Ufes informou que mantém o cronograma de manutenção do campus, com a coleta diária do lixo e o aparo mensal da grama, nos locais em que há maior circulação de pessoas, e a cada dois meses, nas áreas mais afastadas.

No entanto, explica que o serviço de varrição do campus e realizado por trabalhadores apenados (detentos), conforme convênio firmando entre a Ufes e a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Um trabalho que foi afetado pela pandemia do novo coronavírus. “Os trabalhadores não estão autorizados a sair do presídio devido à pandemia da Covid-19”, informa a nota.

Em relação aos carros abandonados, a Ufes informa que eles pertencem à extinta Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA). “A Universidade não pode ter acesso a eles, nem a outros bens da fundação”, explica a nota.

Prédio da Fundação Cecilano Abel de Almeida na Ufes. Na frente, um veículo da fundação modelo Gol lacrado. Todo o patrimônio da fundação foi arrestado pela Justiça
Crédito: Carlos Alberto Silva

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.