A cada manhã, um recomeço. A saudade aperta, mas a esperança chega. Há momentos mais difíceis, outros mais leves. A verdade é que viver sem Alice é desafiador. Há 6 meses, em um consultório médico, conheci a Amanda Guedes, em uma data muito especial: minutos antes dela ter a certeza de que seria mãe pela segunda vez. A emoção era grande, mas, ao mesmo tempo, cercada pela tristeza da perda recente da filha de 3 anos, assassinada no quintal de casa em Vila Velha, vítima de bala perdida. Lembro que a Amanda não conseguia sorrir nem para uma foto.
Meses depois, voltamos a nos falar e ainda era muito difícil sorrir. Mas já dava para ouvir o coração do Emanuel, que foi gerado uma semana antes de a Alice partir, e sua descoberta veio como um suspiro de vida em meio a tanto sofrimento.
Agora, perto da tão aguardada chegada do Emanuel, eu e Amanda conversamos mais uma vez. E olha quantas novidades: ela e o pai da Alice se casaram, ganharam uma "charreata" cercada de carinho, e ela também foi batizada em uma igreja evangélica. Para conviver e tentar superar o luto com as suas consequências, a fé tem sido a grande aliada dessa mãe. Sem falar nas manifestações de carinho que recebe de todos os lados.
Fotos de gestante da Amanda Guedes
CASAMENTO
Agosto foi um mês de muitas emoções para o casal. "Eu e o Giovane estamos juntos há 5 anos. Com um ano de relacionamento, engravidei da Alice, a gente mora junto há mais ou menos 4 anos. Agora a gente se casou, oficializamos o nosso relacionamento no dia 14 de agosto de 2020 no cartório. E recebemos a benção dos nossos pastores e de Deus", conta.
BATISMO
Pouco tempo depois, no dia 23, Amanda foi batizada em uma igreja evangélica, o Ministério Gratidão. “Eu desci as águas para que Deus venha cumprir o propósito Dele em minha vida”, diz emocionada.
Amanda afirma que foi criada na igreja e é grata aos pais por isso. “Essa força que tenho hoje, posso dizer que vem de berço, através da criação da minha mãe. Acreditar no impossível, naquilo que não se explica, que é Deus, foi o que me manteve viva. Só quem passa, quem vive, sabe o que é realmente o poder do Senhor nas nossas vidas e foi com a minha vida. Deus nos sustentou", destaca.
Amanda Guedes
Mãe da Alice e do Emanuel
"Quero agradecer a Deus porque não permitiu que eu desistisse. Hoje eu sou uma nova criatura e quero servir ao Senhor"
DEPRESSÃO E LUTO
Após perder a filha assassinada de maneira tão repentina e brutal em fevereiro deste ano, Amanda desenvolveu uma depressão. Ela faz tratamento, o que é fundamental nesses casos, mas, de maneira especial, acredita que a fé tem contribuído para a sua melhora.
“Minha depressão me levou ao fundo do poço, ainda estou em um processo de tratamento. Mas quem me tirou do fundo do poço foi Deus. Quero dizer para que quem passa pela mesma dor, do luto, que há um ser que pode tirar desse fundo do poço, que é Deus. Deus te ama mais do que qualquer coisa. Há um propósito no que você está passando, a sua vida vai servir de exemplo para muitas pessoas que passam por isso. Deus tem um plano para sua vida. Aonde Deus não restitui, Ele te recompensa de alguma forma. Há um propósito, Deus lá na frente vai te honrar, vai te erguer. Há um Deus que cuida de você”, afirma.
CHEGADA DO EMANUEL
Com 33 semanas de gestação, Amanda é pura ansiedade para a chegada do Emanuel. "Hoje, o plano do Senhor para a nossa família é o Emanuel, que é o nosso bebê arco-íris. A gente passou por muitas provações, mas o sentimento é de gratidão muito grande, porque a gente conseguir chegar até aqui. Estamos em uma ansiedade que não tem tamanho".
Sobre um futuro casamento no religioso, ela diz que pretende se casar um dia, mas já com o Emanuel participando desse momento tão especial.
Não precisa nem dizer o tamanho da nossa torcida para que o Emanuel nasça cheio de saúde e para que a Amanda - e toda a família - tenha cada vez mais motivos para sorrir.
MORTE NA SEGUNDA
Como diz no começo desta reportagem, a cada dia, um recomeço. Na última segunda-feira (30), com esse texto pronto, Amanda me contou sobre a morte do Vinícius Martins, o jovem que era o alvo dos tiros, que acabaram levando a Alice.
Hoje, após já ter conseguido perdoar o rapaz, Amanda diz que tudo isso é muito triste. "Não desejo essa dor de enterrar o filho para nenhuma mãe. Quando tudo aconteceu, ele me pediu perdão diversas vezes. Depois de um tempo, perdoei. Infelizmente, ele não soube dar valor a oportunidade que Deus deu pra ele. Minha filha se foi no lugar dele, e ele não mudou de vida. Mas espero que Deus tenha dado a oportunidade dele ter pedido perdão até o último suspiro, de ele se reconciliar com Deus e que Deus conforte os familiares dele, a mãe, porque isso é muito triste".
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