Ela começou resgatando uma gatinha prenha, que estava abandonada na rua no bairro Rio Marinho, em Cariacica. A ideia era acolher até o momento do parto, ficar com o animal e alguns filhotes e doar os outros. Hoje, cinco anos depois, a cuidadora de idosos Marinete Angela de Souza, de 49 anos, toma conta de 130 gatos. Sem emprego, ela dedica a vida para cuidar dos animais.
No início, ela acolhia os pets dentro da própria casa. "As pessoas passavam, viam que eu tinha gato e passaram a abandonar na minha porta. Fui pegando, com pena, na intenção de doar para tirar da rua. Aí comecei a resgatar. Já tirei muitos da rua, mas as coisas foram ficando difíceis", contou Angela.
Com a pandemia da Covid-19, tudo ficou pior. "Antes eu tirava do meu próprio bolso. Até uns 52 gatos eu que bancava. Eu estava trabalhando na época, aí foi ficando difícil e mais ainda quando eu perdi o emprego", lembrou a cuidadora.
A casa foi ficando pequena para tantos felinos. "Não tinha mais espaço para mim, eles estavam quase me colocando para fora", brincou Angela. Foi aí que um vizinho cedeu os fundos da casa dele para ela poder acomodar os gatinhos.
"Comecei a pedir ajuda, doações. É tudo feito de pallet, tudo foi doado. Eu falo que é um gatil, mas é uma coisa muito simples. Não é meu, a qualquer momento posso sair daqui. Ele (o vizinho) não me cobra aluguel porque sabe que eu não tenho condição de pagar, aí eu construí tudo com doação", disse.
O espaço, hoje, acomoda 100 gatos. As janelas são teladas e há prateleiras para eles poderem subir. Os outros 30 animais ficam na casa de Angela, porque precisam de mais cuidados: são filhotes, gatinhos com deficiência ou os que estão se recuperando de alguma doença. "Meu sonho era ter eles todos perto de mim", ressaltou.
RESGATES
Das muitas histórias de resgates emocionantes, Angela gosta de lembrar de uma, a da Estela. "Eu peguei a Estela cheia de sarna, não tinha nem olho. Magra, só era osso e pelo. Ela estava com uma infecção nas partes íntimas. Eu levei no veterinário para castrar e fazer a cirurgia, e ele disse que ela não aguentaria e que iria ficar na mesa de cirurgia. Eu já tinha preparado tudo para fazer o enterro dela. Quando acordei de manhã e abri o quarto onde ela estava, ela estava sentada olhando para minha cara e miando."
Hoje, Estela está saudável e foi adotada por uma família de Minas Gerais. "Se recuperou, está linda, gorda. Esse resgate me marcou, foi um milagre", reforçou.
Com o gatil cheio, Angela não consegue fazer mais tantos resgates. "Quando eu vejo na rua, quando é filhote, eu pego. Quando as pessoas me ligam e falam que têm um gato para resgatar, muitas das vezes eu estou falando 'não' porque não tenho mais condições. Tenho que doar esses primeiro para poder abrir espaço para pegar mais."
AMOR PELOS GATINHOS
Quando alguém pergunta para Angela o que os gatos representam para ela, a resposta vem rapidamente: "Eles representam minha vida. São tudo o que eu tenho. Eles são os meus filhos, eu trato eles como meus filhos que eu não tenho".
Marinete Angela de Souza, de 49 anos
Protetora de animais
"Se eu pudesse, salvaria todos, mas não tenho condição. Não estou recebendo ajuda, então não adianta eu pegar um animal e deixar ele com fome passando necessidade"
DOAÇÕES PARA CUIDAR DOS BICHANOS
Sem emprego, Angela mantém os gatinhos com doações. O problema é que elas diminuíram bastante: por mês, ela precisaria de 200 kg de ração, que custa cerca de R$ 2 mil. Com pouco dinheiro, a cuidadora só está conseguindo alimentar os felinos uma vez por dia.
"Eu não tenho renda nenhuma. Para minhas próprias contas e alimentação eu faço faxinas para poder suprir minhas necessidades. Não tenho padrinhos, só pessoas que ajudam lá no Instagram, lá tem todas as informações", explicou.
Todo o dinheiro que chega vai para a ração. "Eu não consigo ganhar ajuda para comprar areia para eles, por exemplo, então fazem tudo no chão. Para alguns eu coloco farinha (de mandioca, onde fazem as necessidades). Como são 130 gatos, se eu tirar (dinheiro) para comprar areia, eles vão passar fome. Então eu dou preferência para ração, que é o alimento deles, e eles fazem tudo no chão. Eu venho aqui duas vezes por dia para lavar."
Um veterinário conhecido de Angela também faz cirurgias por um preço mais baixo. "A castração eu faço com um veterinário que cobra mais em conta, mas nem isso eu estou tendo como pagar, porque não estou conseguindo ajuda, então deixo eles (os gatos sem castrar) separados."
SAIBA COMO AJUDAR
Angela recebe doações através do Pix, pelo número 27988728657; pelo Picpay, que é angelasouza73, e por transferência bancária. A conta é da Caixa, agência 0173, operação 013, conta 000500019-8. Mais informações estão no Instagram, o perfil é @gatinhos_da_angela.
Ela também participa de feiras de adoção, duas vezes por mês: no Shopping Moxuara, em Cariacica, e no Shopping Praia da Costa, em Vila Velha.
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