Um trenó mágico, renas e um Bom Velhinho que adora distribuir presentes na noite de Natal. Sim, estamos falando do Papai Noel. Com o seu sorriso solto, ele não poupa esforços para fazer a alegria das crianças que se comportaram bem durante o ano. Mas quem é e como surgiu a sua história?
Para os pesquisadores, aquele que é um dos principais símbolos do Natal é uma mistura de diversas lendas, simbologias e tradições de diferentes culturas, épocas e origens.
Para começar, a imagem que dele conhecemos só foi consolidada no final do século 19 - em torno dos anos de 1820. Foi quando surgiu o senhor barbudo, de bochechas vermelhas, alegre, simpático, com roupa vermelha, trenós e renas. Mas até chegar a este momento, Noel passou por muitas mudanças. Veja o vídeo abaixo
QUER ENTENDER UM POUCO DA HISTÓRIA DO PAPAI NOEL?
Para começar, vamos voltar um pouco no tempo, lá no início da Idade Média, como nos relata Ítalo Francisco Cúrcio, que é pedagogo, pós-doutor e doutor em Educação, professor e pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Ítalo Francisco Curcio
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
"Existem indícios de que figuras semelhantes ao Papai Noel já existiam desde os primeiros séculos da era cristã, associadas a culturas pagãs e nórdicas"
Foi o momento em que o mundo presenciou um caldeirão de fatos, como a desintegração do Império Romano e as invasões das populações bárbaras à Europa trazendo consigo suas tradições culturais e religiosas. Era ainda a época da expansão do Cristianismo.
Um tempo em que ainda não se tinha a comemoração do Natal na forma como conhecemos hoje, que resultou de uma série de adaptações e incorporações de divindades, festas e mitos das religiões pagãs.
O professor Ítalo destaca que o Papai Noel é o resultado de um sincretismo - uma mistura de lendas, santos, divindades -, mas que não tem nenhuma vinculação com religião. “O Natal, uma data importante para o Cristianismo, trata-se apenas de uma celebração social. O Papai Noel não integra a liturgia desta celebração no âmbito da igreja”, explica.
Foram as pequenas partes destas muitas lendas que foram formando o que hoje conhecemos como Papai Noel e até a data em que ele distribui presentes, o Natal. O que dizem algumas delas:
- Velho Inverno - Um senhorzinho que batia na casa das pessoas pedindo por comida e bebida. E quem o atendesse com generosidade desfrutaria de um inverno mais ameno.
- Deus da Europa Nórdica - Odin, o deus mais poderoso das crenças do Norte da Europa, também representado como um idoso barbudo e grisalho. Segundo a crença nórdica, ele passava pelas casas entregando presentes para as crianças, desde que elas colocassem as botas perto das chaminés. Odin ia montado em seu cavalo de oito patas, Sleipnir, que voava pelos céus.
- Basílio, de Cesareia - Há citações ao folclore grego e bizantino, com referência a um bispo, nascido na Capadócia, cujo dia 1º de janeiro - Dia de São Basílio -, é considerado momento de troca de presentes na região da Grécia, onde também é conhecido como Agios Vasilis.
- Francisco de Assis (Itália) e Pedro Valdo (França) - ambos ricos, abriram mão de suas fortunas, doadas para os pobres.
MAIOR CONTRIBUIÇÃO PARA HISTÓRIA DE NOEL VEM DE SÃO NICOLAU
Mas os elementos mais frequentes na história de Noel vêm da vida de outro santo da Igreja Católica: São Nicolau. Um bispo nascido na Ásia Menor, região conhecida hoje como Turquia, por volta do ano de 270 d.C., como explica o professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Ciências da Religião Edebrande Cavalieri.
“São Nicolau passou uns vinte anos na cadeia durante o governo do Imperador Diocleciano que impôs perseguições extremamente violentas aos cristãos. Era filho de nobres e tendo ficado órfão herdou a fortuna da família. Chegou a Bispo de Myra na Turquia, foi preso e torturado para renegar a fé cristã. Resistiu até a chegada ao poder Constantino, que deu liberdade aos cristãos”, conta.
A tradição cristã relata que Nicolau ajudava pessoas necessitadas, especialmente viúvas, idosos e crianças. Entre os muitos milagres atribuídos a ele, há o relato de que teria ajudado três jovens pobres, cujo pai não teria recursos para pagar os dotes de casamento, exigidos à época. Vindo de uma família rica, ele teria deixado na casa das jovens bolsas com moedas de ouro, o que é uma das origens da doação de presentes.
Com o passar dos séculos, São Nicolau ficou conhecido por toda a orla do Mediterrâneo, mais tarde por toda a Europa e, por fim, pelos americanos. Locais onde seus feitos eram comemorados e parte da sua história acabou sendo atribuída a Noel.
“Com o tempo foi-se combinando inverno, que é uma festa pagã, com a festa do deus sol, que também é uma festa pagã, que vão desaparecer com o Cristianismo, mas que acabaram associadas ao Natal cristão. Posteriormente você vai ter o Noel, que surge no século 19, associado a São Nicolau, um bispo bondoso, que se despojou de suas riquezas e atendeu aos pobres. Veja como as coisas acontecem aos poucos”, pondera Ítalo.
NOEL QUE CONHECEMOS SURGE NO SÉCULO 19
Mas e como chegamos ao atual Bom Velhinho, cuja imagem era baseada em pessoas altas e magras, muitas delas usavam as vestimentas da época, grossos casacos de pele para aguentar o frio, em sua maioria com a coloração marrom? Em comum com o atual Noel, elas tinham só a idade e a longa barba branca. Lembra que tudo começou a mudar no final do século 19? Vamos às transformações:
1823 - Surge a primeira descrição de Noel, em um poema do escritor inglês Clement Moore - “Uma visita de São Nicolau” -, imaginando que Papai Noel cruzava os céus num trenó, puxado por oito renas (Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago). Ele entrava pela chaminé e deixava os brinquedos nas meias. Já tinha barba branca, rosto sorridente, barriga arredondada e se vestia de pele da cabeça aos pés.
1860 - 1886 - Neste período, o velhinho rechonchudo e de barba branca aparece com traje de inverno, em uma publicação da Harpers Weekly, em Nova York. O cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem para o Bom Velhinho, com roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto. No início ele mais se assemelhava a um gnomo. Com o passar dos outros natais, ele foi melhorando seu projeto original até que o velhinho ganhou uma barriga protuberante, boa estatura e uma abundante barba branca.
1931 - É neste ano que o desenhista Haddon Sundblom adaptou a imagem de Noel, criada por Nast, em um comercial da Coca-Cola e adicionou um saco de presentes, um gorro e manteve a cor vermelha em suas vestes. Mas somente depois da Segunda Guerra é que o marketing ganhou destaque e o personagem Noel acabou sendo aceito.
Mas as mudanças não terminam por aí. Ao longo dos anos seguintes surgiram novas adaptações.
NOEL GANHA MAIS UMA RENA
Com a ajuda de outro escritor, Robert L. Maio, Papai Noel vai receber uma ajuda extra em sua equipe. Trata-se de um livro voltado para crianças. A ideia foi da loja de departamento Montgomery Ward e rapidamente se popularizou por todo o mundo.
1939 - É criada a rena do nariz vermelho. Rodolfo era ridicularizado por outras renas por ter um nariz vermelho e brilhante. Mas em uma véspera de Natal, o Bom Velhinho estava com problemas para encontrar o caminho da entrega dos presentes devido a forte nevada. Então, ao ver o nariz de Rodolfo, logo o convidou para guiar o trenó pela noite escura.
Assim, a equipe de Noel passa a ter nove renas: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago.
O QUE O FUTURO RESERVA PARA NOEL?
Mas não se engane, Noel ainda continua em transformação, seguindo as mudanças sociais das últimas décadas. Por exemplo, ele abandonou o cachimbo e já não fuma, e foi ficando mais diverso. Confira:
- Noel ficou mais magro
- Em alguns países já temos um Bom Velhinho negro ou oriental
- Nos trópicos, de vez em quando, ele prefere uma roupa mais fresca
- E a novidade de 2021 foi um Noel gay
“É a evolução desta simbologia e deste simbolismo, adequando-se à demanda da sociedade. Hoje temos mensagens trazidas por estes símbolos adequadas à realidade contemporânea. Noel também muda aos poucos, se adequando à diversidade que vivenciamos e estamos aprendendo a respeitar. Não é fácil porque vai contra muitas tradições, mas é importante”, pondera o professor Ítalo.
Com tantas mudanças, quem sabe no futuro, além das cartinhas, ele aceite receber os pedidos de presentes por aplicativos de mensagem? O que acha, Noel?
VEJA COMO FOI CRIADO O ANÚNCIO DE NOEL NA COCA-COLA
A Cola-Cola fez um vídeo explicando como surgiram e foram produzidos os anúncios com o Papai Noel ao logo dos anos. Confira abaixo:
* No vídeo, que é em Inglês, você pode incluir legendas em português. Vá em configurações, clique em legenda, e depois em tradução automática.
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