Comparar o desempenho de aprendizagem com o gasto em Educação é um caminho que pode ajudar tanto a identificar as dificuldades da rede pública na construção de um ensino com mais qualidade, quanto para descobrir as políticas assertivas nesse processo.
A gerente de Desenvolvimento e Pesquisa do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, comenta que a realidade identificada no Espírito Santo, onde maiores gastos com aluno na rede municipal não resultaram em melhores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), já foi observada em outras cidades e Estados pela país, demonstrando que não são, necessariamente, os mais ricos a conquistar o mais alto desempenho.
Municípios do Ceará, por exemplo, e mais recentemente de Alagoas, tiveram avanços muito significativos, e muito maiores se comparados a outros locais com mais recursos. Mas isso não quer dizer que a educação, para melhorar, não precise de mais recursos, adverte.
Nesse sentido, afirma a gerente do Itaú Social, é importante avaliar o que está acontecendo nas redes municipais que conseguiram avançar, mesmo com poucos recursos, e de maneira espelhada, também as que tiveram mais gastos e, ainda assim, com avanços tímidos.
É preciso colocar uma lupa no contexto do território e entender o que acontece naquela região, como é a atuação da secretaria na gestão pedagógica, como é a proposta curricular, a formação continuada de professores e gestores escolares, o tipo de acompanhamento técnico e o apoio oferecido às escolas, recomenda.
Patricia Guedes aponta que também é necessário colocar uma lente de aumento na gestão administrativo-financeira, identificando como é o planejamento dos recursos, da estrutura, se as escolas mais vulneráveis estão recebendo maior atenção, o que representaria mais equidade para a rede.
Ela explica que a atenção não deve se voltar apenas ao nível de desempenho, mas também aos percentuais de alunos com distorção idade-série, pois há um risco maior de abandono; às taxas de aprovação porque reprovar não aumenta o aprendizado, mas, ao contrário, desestimula o aluno; e ao nível socioeconômico das escolas e, nas mais vulneráveis, destinar mais insumos e suporte.
Outro indicador importante, na avaliação de Patricia Guedes, é a adequação docente. A especialista observa que, sobretudo nos anos finais do ensino fundamental, há um grande gargalo devido à falta de formação específica dos professores, principalmente nas áreas de Matemática e Ciências. É uma dificuldade estruturante que pode comprometer o processo de ensino-aprendizagem.
Depois do professor, a gerente de Desenvolvimento afirma que estudos indicam que a qualidade da gestão escolar é a que mais faz diferença no desempenho das escolas.
No componente gastos com Educação, Patricia Guedes frisa que o investimento deve ser direcionado, entre outras áreas, à valorização do professor, que precisa ser incentivado a permanecer na carreira, não só com melhor remuneração, mas com formação permanente e condições de trabalho adequadas.
O cientista social Joilton Rosa tem avaliação semelhante sobre a carreira profissional do educador, ainda pouco valorizada no país. Ele acrescenta que, com essa estratégia, o professor terá melhores condições de realizar o trabalho em sala de aula e, assim, contribuir para aumentar os indicadores de qualidade da educação.
Mas ele lembra que, embora o professor seja elemento imprescindível nesse processo, há outros componentes que também precisam ser considerados na composição de um bom desempenho educacional.
Joilton Rosa aponta ainda que as questões sociais podem ser determinantes na vida escolar das crianças e jovens. A falta de acesso à tecnologia, tão evidenciada agora na pandemia da Covid-19, é apenas uma face da desigualdade, mesmo entre alunos da escola pública. Na escola, é a falta de um calçado, a impossibilidade de comprar um lanche na cantina, entre outras restrições que, muitas vezes, deixam o aluno desmotivado.
Temos um país muito desigual, e as distâncias econômicas influenciam não só quando a aula é on-line, mas também dentro do ambiente escolar. Essa desigualdade gera menos estímulo aos alunos e, por isso, é preciso um olhar mais atento da escola e do professor para eles, pondera o cientista social.
No Espírito Santo, 73% dos municípios avançaram nos resultados do ensino fundamental na rede pública, num comparativo das duas últimas edições do Ideb, com provas aplicadas em 2017 e 2019. Nos anos iniciais, a maioria alcançou a meta; nos anos finais, porém, apenas 12% tiveram esse mesmo desempenho.
Esse é um trecho da análise feita pelo Todos pela Educação dos indicadores de Estados e municípios do país.
Do Estado como um todo, a trajetória do Espírito Santo é muito parecida com a do resto do Brasil. Olhando para as três etapas, avançou em todas elas. Porém, nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, não alcançou o que era esperado para essas etapas em 2019, observa Caio Sato, coordenador do Núcleo de Inteligência da instituição.
O destaque positivo, reforça Caio, é que o ensino médio teve um crescimento expressivo de uma avaliação para outra, colocando o Espírito Santo no ranking da rede estadual com a segunda melhor nota do país (4,6). Nesta etapa, especificamente, é um Estado que tem mostrado destaque quando comparado ao resto do país, muito embora ainda esteja distante do esperado da meta.
A rede privada do Espírito Santo também não alcançou as metas, porém Caio Sato argumenta que as escolas particulares estão num patamar mais elevado e, nesse cenário, fica cada vez mais difícil avançar.
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