O jovem de 21 anos que teve a barriga cortada e parte do intestino exposta em uma praia de Guarapari, em 16 de janeiro, teria usado drogas naquela noite, segundo relato da namorada à Polícia Civil. Ela disse que eles consumiram álcool e um entorpecente que era um “quadradinho de papel”.
Em depoimento, a moça, de 20 anos, contou que eles usaram a substância pela primeira vez e que, depois disso, ela “apagou” e não se lembra de nada. O caso está sendo investigado.
Especialistas da área de Saúde consultados por A Gazeta afirmam que a perda de memória está associada ao uso de drogas sintéticas, que provocam efeitos que vão desde euforia até paradas cardiorrespiratórias.
“A maioria dessas drogas causam uma sensação de prazer inicial, e é o que atrai muitos jovens. Mas depois vêm os problemas, os efeitos adversos e colaterais. A pessoa pode desenvolver convulsões, por exemplo. Isso acontece bastante em relação ao ecstasy. Pode ter também um comprometimento cardiovascular e do sistema nervoso”, alertou o coordenador do programa de Pós Graduação de Farmácia Clínica da UVV, Andrews Marques.
As drogas sintéticas são aquelas produzidas em laboratório por meio de substâncias químicas. De acordo com o médico psiquiatra Gilson Giuberti Filho, elas agem no sistema nervoso central e podem fazer com que a pessoa tenha alucinações, como é o caso das drogas classificadas como perturbadoras.
Entre as mais comuns estão as “drogas recreativas”, que são vendidas em festas e provocam, inicialmente, uma sensação de prazer. É o caso do LSD (dietilamida do ácido lisérgico), que também é chamado de quadrado ou papel, e o MDMA, popularmente conhecido como ecstasy.
“As duas são substâncias que causam desordenação do sistema nervoso central. A pessoa começa perdendo a capacidade de perceber o som, a imagem, a noção da realidade. A temperatura do corpo aumenta e ela tem alucinações”, explica Giuberti, ressaltando que, dependendo da quantidade usada, pode ocasionar perda de memória. "No dia seguinte, ela não vai se lembrar do que aconteceu."
Algumas drogas sintéticas têm efeito anestésico, como é o caso da ketamina, um entorpecente utilizado para anestesiar cavalos, mas que é cada vez mais comercializado em festas. Segundo Giuberti, ela gera anestesia e alucinação no momento do uso.
“A ketamina foi criada há mais de 40 anos e lançada como anestésico endovenoso para realização de cirurgias, mas que tinha um efeito colateral que eram as alucinações. Nos Estados Unidos, já é usado como entorpecente há décadas e isso tem virado moda no Brasil. É uma droga capaz de fazer com que a pessoa não sinta dor”, explica.
Existem ainda as drogas classificadas como depressoras, ou seja, que deixam o organismo mais lento. Diferente do LSD e do MDMA, elas não são tão utilizadas para recreação, já que provocam um efeito sedativo, como explica a pesquisadora da Unifesp e especialista em farmacologia Solange Nappo.
"São drogas que vão fazendo a pessoa perder a conexão com a realidade e, em alguns casos, pode ser fatal. Geralmente, não são tão facilmente vendidas em festas, elas são compradas em farmácias sob prescrição médica", pontuou, citando os benzodiazepínicos como exemplo.
"É um tipo de droga que pode levar a um sono tão profundo a ponto de fazerem algo com a pessoa e ela não perceber."
Também fazem parte das substâncias depressoras os opiáceos, uma classe de drogas derivadas da papoula-do-oriente que tem uma ação anestésica no corpo até 100 vezes mais forte do que a morfina e pode levar à morte. Foi o caso do cantor norte-americano Prince, em 2016, que teve uma overdose de fentanil.
“O fentanil é um opioide sintético intravenoso usado como sedativo na realização de cirurgias. Ele é perigoso porque pode provocar dificuldade de respiração”, explica Andrews Marques, professor da UVV.
Andrews ressalta que a perda de sentidos ocasionada pelas drogas repressoras está associada, principalmente, ao uso de outra droga depressora, como é o caso do álcool, que potencializa os efeitos.
“Hoje em dia, várias drogas sintéticas podem provocar um apagão quando usadas em quantidade significativa. Isso depende muito do corpo e do organismo, e o efeito acaba potencializado quando a pessoa está desidratada ou há ingestão combinada de álcool.”
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