O avanço do mar em direção ao continente está causando erosão e formando mini-ilhas de coqueiros na Praia do Iate, localizada entre a ponte que dá acesso à Ilha do Frade e o Iate Clube, na Praia do Canto, em Vitória.
Especialistas apontam que esse problema acontece em outras regiões litorâneas capixabas. No mês de março, a força das ondas derrubou, por exemplo, parte do muro e do calçadão da Praia da Areia Preta, em Guarapari.
As Praias do Iate e da Guarderia integram a Curva da Jurema. O doutor em Geografia, oceanógrafo e coordenador de Geoprocessamento do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Jabor, destaca que a o local é um pequeno embaiamento formado após o aterro da região da Praia do Suá.
De acordo com Pablo, a praia é “cortada” no centro pela Ilha do Frade, o que provoca duas entradas para o oceano. Por causa dessas entradas, as ondas sofrem diversos processos que influenciam a dinâmica local, além de correntes geradas pelas próprias ondas.
Pablo Jabor
Doutor em Geografia
"Os efeitos que as ondas sofrem ao passarem pelos contornos da região fazem com que ocorra dissipação da energia e gradativamente ocasione a diminuição na altura da onda que se propaga em direção à praia"
Mesmo pequenas, as ondas são as principais responsáveis por levantar sedimentos (areia) que depois são transportados pela corrente. Outro fator identificado no local é a maré intensificada pelos ventos por causa da orientação da costa para leste.
Segundo o geógrafo, dessa forma, toda vez que ocorre o aumento do nível do mar local pelo vento leste, o processo erosivo é intensificado, associado às ondas e às correntes de maré.
FALTA DE SEDIMENTOS
O geógrafo e doutor em Ciências da Natureza Dieter Muehe explica que a erosão é provocada pela falta de sedimentos (areia). Ele afirma que este trecho apresenta algum problema de circulação que impede o aporte de sedimentos.
Dieter Muehe
Doutor em Ciências da Natureza
"Às vezes, não tem o sedimento porque o que tinha disponível foi levado pela costa ou existe uma concentração de energia por convergência das ondas em alguns pontos e isso faz com que não haja um ponto local de erosão"
Na avaliação de Pablo, esses sedimentos podem estar sendo transportados para o fundo da praia da Curva da Jurema. A orla tem variação da profundidade. Essa característica vem desde quando a areia foi retirada no local para a realização do aterro.
A região ao sul da Ilha do Frade conta com profundidade próxima de 15 metros. “Essa área mais profunda tem grande importância para a compreensão do transporte de sedimentos, pois funciona como uma área de destino do sedimento que é erodido”, diz Pablo.
PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO
O secretário de Meio Ambiente de Vitória, Tarcísio Foeger, disse que toda aquela região é suscetível de erosão porque é resultado de um processo histórico de ocupação da linha do mar para expandir a área territorial. O município estuda fazer o engordamento da orla para resolver o problema local.
Tarcísio Foeger
Secretário de Meio Ambiente de Vitória
"Uma boa parte da cidade tem o chamado aterro hidráulico. A região da Enseada do Suá, Curva da Jurema. A Ilha do Boi era uma ilha realmente. Toda essa parte onde está o Iate Clube, Praça dos Namorados, Praça dos Desejos, era água"
Assim como pontuaram os especialistas, Tarcísio reconhece que o mar desenvolve processos erosivos ao longo do tempo. Para acompanhar essas transformações, o município dispõe de uma coordenação de monitoramento costeiro.
Erosão na Praia do Iate, em Vitória
Além da Curva da Jurema, os demais pontos são a Praia do Iate, Praia da Guarderia e o início da Praia de Camburi, perto do píer do Iemanjá. Especificamente sobre a Praia do Iate Clube, o secretário municipal informou que o Executivo municipal está desenvolvendo um estudo que vai apontar o que deve ser feito na área afetada.
"Estamos conjecturando a possibilidade de aumentar a faixa de areia, aumentando o aterro do Iate e Guarderia, conectando com a Curva da Jurema. Para isso, é importante eu enfatizar que há uma necessidade de uma série de estudos rigorosos a esse respeito."
A expectativa da Prefeitura de Vitória é de que o estudo que vai apontar qual a alternativa de intervenção para a região seja concluído no segundo semestre deste ano.
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