Durante uma ronda de conscientização a moradores sobre a importância do isolamento social e os perigos da aglomeração em meio à pandemia do novo coronavírus, o bombeiro militar Thiago Henrique Miranda se deparou com uma atitude frustrante para o profissional que está trabalhando para evitar que mais pessoas adoeçam e morram pela Covid-19 no Espírito Santo.
Thiago Henrique Miranda
Bombeiro militar
"Mais ou menos no meio da Praia de Camburi, tinha um grupo de pessoas fazendo um churrasco. Passando com a viatura bem devagar, eu vi o pessoal zombando da gente. Inclusive um homem, de mais idade, com uma lata de cerveja na mão, oferecendo para gente e todo mundo rindo. Eu me senti a pessoa mais idiota do mundo. A gente ali, fazendo o nosso trabalho, tentando ajudar as pessoas, e eles zombando da gente"
O desabafo é sobre mais um dia da rotina do cabo, que com 11 anos de serviços prestados à corporação, não pôde parar de trabalhar durante a pandemia. Motorista de resgate do Corpo de Bombeiros, Thiago faz operações de socorro a acidentes automobilísticos e outras ocorrências que envolvam a necessidade de remoção de pessoas feridas. Um serviço essencial, que não pode parar em momento algum. Por isso, faz parte da série de A Gazeta "ProfissõES na Pandemia".
“A gente não está diretamente atendendo vítimas de Covid, casos clínicos. Estamos mais focados em acidentes, quedas, tudo aquilo que envolve trauma. A gente pega a vítima, leva para o hospital e volta para o quartel”, explica.
No entanto, por atender pessoas de vários locais, nas condições mais diversas possíveis, a exposição à doença também é grande. “A gente tem se preocupado ainda mais com a nossa segurança, usando mais EPI’s do que a gente usava antes. Algumas vítimas que levo para o hospital, em caso de queda de motocicletas e coisas assim, chegam ao hospital, fazem o exame e dá positivo para Covid. A gente tem ficado muito exposto”, contou.
Por isso, a rotina do Thiago foi alterada. Com uma programação que envolvia a realização de exercícios físicos, idas à igreja e lazer com amigos e família, o bombeiro agora preza pelo isolamento, ficando em casa nos dias de folga e saindo apenas para o necessário.
“Eu trabalho um dia e folgo três. Esses três dias estão sendo dentro de casa. Só em casos bem esporádicos eu vou ao supermercado ou à farmácia. A minha rotina hoje é totalmente dentro de casa, isolado. Além de correr o risco de me contaminar, eu posso contaminar a minha família”, afirmou.
E diante de todo o esforço concentrado no trabalho e também na vida pessoal, para continuar salvando vidas mesmo em meio à pandemia que mudou a realidade de toda a população, Thiago se mantém em isolamento, para proteger a si e a família, e continua no trabalho, salvando vidas de pessoas que também não podem parar.
Por isso, o bombeiro faz um apelo. Para que episódios como os da praia não se repitam e para que a vida volte ao normal o quanto antes, o cabo e motorista do veículo de resgate da corporação faz um alerta, de quem está vivendo as mudanças na pele.
Thiago Henrique Miranda
Bombeiro militar
"A doença existe. Conheço pessoas que tiveram, pessoas que têm, inclusive uma conhecida que está mal na UTI. Então, a doença existe, sim. E, por mais difícil que seja, nós precisamos nos isolar, ficar em casa o máximo possível. Vai passar. Tenho certeza que vai passar. O momento é de se cuidar, é de se isolar. Assim, como falo com todos os meus colegas de trabalho, não tem outra solução: nós vamos nos expor, mas vamos nos expor se cuidando o máximo possível. E o que for possível fazer juntos, vamos fazer. Mas nós não vamos desistir. A nossa força de vontade e a nossa fé são muito maiores. Vai passar"
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