Duas testemunhas do julgamento dos seis acusados pelo assassinato da médica Milena Gottardi vão ser ouvidas por videoconferência. Será a primeira vez que o Tribunal do Júri de Vitória lançará mão deste recurso, que já vem sendo utilizado em algumas modalidades de audiências, principalmente após a pandemia de Covid-19, e que agora será adotado também no júri popular.
A autorização é do juiz da Primeira Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches. Em decisão da noite dessa segunda-feira (16) é relatado que as duas testemunhas apresentaram problemas de saúde e foram autorizadas a prestar seu depoimento on-line, por videoconferência.
A parte no processo, que solicitou o depoimento destas pessoas, ficará encarregada de “providenciar os recursos tecnológicos necessários no local em que pretende sejam inquiridas”, diz o texto da decisão.
Uma das testemunhas, tem mais de 80 anos e apresenta diferentes comorbidades, por isso será ouvida de forma remota. O depoimento dele foi solicitado por Leonardo Gagno, que faz a defesa do ex-marido da médica assassinada, Hilário Frasson. “Pelas condições de saúde da testemunha, ela vai depor de forma remota, conforme é garantido pela lei”, assinala o advogado.
Gagno destaca que é a segunda vez em que atua como advogado em uma causa em que uma testemunha depõe via aplicativo de teleconferência, em um julgamento pelo júri popular. “Em outro caso, a pessoa depôs de Londres e o júri foi realizado na cidade de Nova Venécia, Noroeste do Estado. Naquela época, não havia tanta tecnologia disponível como nos dias atuais e, mesmo assim, a prática foi muito contributiva para o caso”, relata.
A outra testemunha foi solicitada pela defesa do réu Esperidião Frasson, sogro da vítima.
IRMÃO DE MILENA VAI DEPOR
Outra novidade é que Douglas Gottardi, irmão da médica assassinada, irá depor no julgamento dos acusados pelo crime. Em janeiro deste ano a Justiça havia aceitado o pedido da defesa de um dos réus e suspendeu a participação de Douglas, com o argumento de que ele já atuava como assistente de acusação, em conjunto com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Na ocasião, em sua decisão, o juiz Sanches explicou os motivos. “O assistente de acusação se coloca como parte coadjuvante do Ministério Público. Não mais figura como mero "ator civil". Tanto assim que, atualmente, pode, inclusive, requerer a prisão preventiva do réu. E se assim o é, ele mesmo não pode se arrolar como testemunha. Vale dizer, como parte não pode se arrolar como testemunha.”
Mas agora, em nova decisão, o depoimento do irmão foi autorizado, em substituição ao da mãe da Milena, Zilca Maria Gottardi Tonini, que apresentou problemas de saúde. Foi acolhido o pedido do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
CRIME E JULGAMENTO
O crime aconteceu no dia 14 de setembro de 2017. A médica Milena, de 38 anos, foi baleada no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Vitória. Ela tinha acabado de sair do trabalho e estava acompanhada de uma amiga quando foi surpreendida por um homem que simulou um assalto. A morte foi declarada no dia seguinte.
O julgamento será realizado no Fórum Criminal José Mathias de Almeida Netto, no Centro de Vitória, às 9 horas, a partir desta segunda-feira (23). O tribunal do júri será presidido pelo juiz Marcos Pereira Sanches.
A DEFESA DA VÍTIMA
O advogado Renan Sales, que atua como assistente de acusação, representando a família da vítima, assinala não existirem incertezas sobre a participação de todos os acusados no crime.
Renan Sales
Advogado que representa a família de Milena
"Pelas provas produzidas durante toda a persecução penal, não há dúvidas de que os seis réus são, de fato, os responsáveis pelo feminicídio que vitimou a médica Milena Gottardi"
Observa ainda que a condenação trará um pouco de alento para família de Milena. “Servirá como medida pedagógica para desestimular outros crimes contra mulher, além de fazer Justiça no caso concreto”.
Em relação ao julgamento, diz estar confiante na atuação dos jurados. “O Tribunal Popular do Júri de Vitória, por seus sete jurados, condenará todos, mesmo com todas as tentativas dos réus em levar esse julgamento para outra comarca”, diz, lembrando que a defesa dos réus tentou transferir o julgamento para outras comarcas do Estado.
MPES: “PROVA ROBUSTA E COERENTE PARA CONDENAÇÃO”
A expectativa do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) é de que será feita Justiça no júri popular dos seis acusados pelo assassinato da médica. “A sociedade de Vitória foi muito afetada com a morte de uma pessoa tão boa. Neste julgamento vai ser demonstrado a concretização do mal que foi praticado”, assinala o promotor Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos, um dos três que acompanham o caso.
Ele recorda que Milena era pediatra oncologista e que, com ela, morreu a esperança de várias famílias de crianças com câncer por ela tratadas. “É um impacto para além da família da vítima. A maldade que consta nos autos é de desacreditar qualquer pessoa, pelo menosprezo com a vida humana. A prova contra os réus está robusta e coerente para uma condenação e o MPES está confiante”, assinala.
O OUTRO LADO
O advogado Leonardo Gagno, que realiza a defesa de Hilário Frasson, informa que apesar das graves acusações, da complexidade do processo, está confiante que a Justiça será realizada.
Leonardo Gagno
Advogado que realiza a defesa de Hilário Frasson
"Durante o júri, a defesa terá a oportunidade de apresentar provas importantes, aclarar os fatos e demonstrar que a imagem do Hilário foi distorcida pela acusação"
Leonardo da Rocha de Souza, que faz as defesas de Dionathas e Bruno, informou que fará uma última visita aos réus na próxima sexta-feira (20). “Será para uma conversa e orientação aos dois”, explicou.
Rocha relata que, em relação a Bruno, a expectativa será a sua absolvição. “Será o nosso grande desafio. Ele está muito angustiado e espero provar a sua inocência e que a Justiça seja feita em relação a ele”, destacou.
Já Dionathas, réu confesso, quer prestar os esclarecimentos. “Espero que ele tenha tranquilidade para esclarecer todos os fatos”, pontuou Rocha.
Alexandre Lyra Trancoso, que realiza a defesa de Valcir, assinala que ele não participou do crime. “Queremos reverter a situação. Entendemos que ele não atuou como intermediário do crime”, assinalou.
Os advogados Davi Pascoal Miranda e David Marlon Oliveira Passos, que fazem as defesas de Esperidião e Hermenegildo, respectivamente, não foram localizados. Assim que a reportagem conseguir o contato, esta matéria será atualizada com as informações deles.
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS SOBRE O CASO
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.