O índice de colisões de aeronaves com aves caiu 64% em 4 anos no Aeroporto de Vitória, desde que o terminal começou a utilizar falcoaria para afugentar pássaros do terminal, como mostram dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em janeiro de 2025, foram registrados cinco ocorrências, e duas aeronaves tiveram que ser encaminhadas à manutenção.
Os incidentes conhecidos como bird strikes ganharam destaque após um avião explodir na Coreia do Sul e deixar 179 mortos. Há suspeita de que o acidente aéreo tenha sido influenciado por uma colisão com aves, visto que um relatório mostrou que restos de pássaros foram encontrados em uma das turbinas. Também é investigado se houve falha no trem de pouso.
A técnica de falcoaria utilizada pela Zurich Airport, responsável pelo Aeroporto de Vitória, consiste em utilizar aves de rapina, como falcão e gavião, para afugentar pássaros que habitam a região no entorno do terminal. Segundo a concessionária, são realizadas vistorias diárias antes e depois das janelas com maior número de pousos e decolagens, para identificar a presença de fauna. Atualmente, três gaviões voam de manhã, à tarde e à noite fazendo a segurança do terminal.
A frequência dos voos varia conforme a demanda diária das operações e pode chegar a até três ações por ave. Se um dos gaviões precisar sair da operação por algum motivo, como muda de penas ou procedimentos veterinários, é substituído por outro.
Para usar a falcoaria, é necessária uma licença ambiental. A autorização vinculada ao Aeroporto de Vitória é válida até 18 de dezembro de 2030. Além dos falcões, o terminal pode realizar o afugentamento sonoro para afastar bandos de aves próximos das pistas.
Mais de 700 colisões em 14 anos
O painel de incidentes relacionados à fauna da Anac, que contabiliza acidentes com aves, répteis e mamíferos desde 2011, mostra que ao longo dos últimos 14 anos foram registrados 711 incidentes no Aeroporto de Vitória. Desse total, 347 foram com aves.
O índice de acidentes com pássaros cresceu ao longo dos anos e chegou ao pico em 2021, quando foram registradas 68 colisões. Nesse mesmo ano, a concessionária que administra o terminal passou a utilizar a falcoaria. A queda nesses últimos quatro anos é de 64%.
Dos 24 incidentes de 2024, pelo menos 22 ocorreram com voos das principais companhias aéreas que atuam no local, sendo 14 da Latam e 8 da Azul. A Gol não informou os dados consolidados do ano.
Segundo a Anac, os pássaros que mais colidem com aviões são da espécie quero-quero (165), seguido de carcarás (20) e urubus (20). O número de colisões com outros animais é menor. Nos últimos anos, por exemplo, foram 10 colisões com capivaras, seis com cachorros selvagens e duas com cachorros domésticos. Em Vitória, inclusive, houve incidente até incluindo caranguejos.
Colisões no Brasil passam de 2 mil
No ano passado, em todo o país, foram registradas pela aviação comercial 2.145 colisões com pássaros no entorno dos aeroportos, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
O índice representa uma média de 12,4 colisões a cada 10 mil pousos e decolagens. Apesar de o aumento ser pequeno em relação a 2023 (2.057), a Abear afirma que é importante manter o esforço colaborativo de todos os atores do setor para mitigar os impactos do bird strike.
A associação destaca que estimula trabalhos de prevenção para evitar presença de aves nas áreas próximas aos sítios aeroportuários. A entidade participa de comitês e grupos de trabalho que discutem o bird strike na aviação brasileira. Um deles é a Comissão Nacional de Risco de Fauna, com a participação de todos os stakeholders da indústria envolvidos com o tema, com gerenciamento da Secretaria de Aviação Civil (SAC) como política de Estado.
Colisões com aves causam prejuízos a passageiros e aéreas
Na aviação, colisões com pássaros são vistas como corriqueiras. O diretor jurídico do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Diego Barrionuevo, fala, por exemplo, que quase todo aviador já enfrentou algum incidente. Isso, no entanto, não diminui a preocupação do setor com as ocorrências.
Há situações em que o pássaro não causa grandes danos à aeronave, mas já foram registrados acidentes graves na aviação provocados por bird strikes, como o ocorrido em 15 de janeiro de 2009, quando um Airbus A320 precisou fazer um pouso forçado no Rio Hudson, em Nova York, após colidir com gansos. Todos as 155 pessoas que estavam a bordo sobreviveram, sendo cinco tripulantes e 150 passageiros.
Acidente aéreo após colisão com pássaros em 2009 em Nova York
Todos os passageiros e tripulantes sobreviveram, conforme noticiado por A Gazeta
“O risco depende de vários fatores, da velocidade das aeronaves, do tamanho dos pássaros, da quantidade de pássaros. O risco aumenta dependendo do ambiente onde o aeroporto está, se tem lixão nas proximidades ou migração de pássaros. O impacto pode ocorrer em qualquer superfície das aeronaves, no radome, no para-brisas, que já é projetado para suportar impactos grandes, na asa, na traseira onde o fica o leme e o profundor, em superfícies de aumento de sustentação”, explica.
Os incidentes envolvendo aves causam prejuízos não só às companhias aéreas, que às vezes precisam tirar as aeronaves danificadas de rota e deixá-las em manutenção, mas também aos passageiros, que podem ter voos cancelados.
“O transtorno provocado pelas colisões ocasiona atrasos, deixa as companhias aéreas vulneráveis a processos judiciais por danos morais e materiais e as empresas, além dos gastos da manutenção, quando um voo precisa ser cancelado, é necessário dar hospedagem e alimentação a todos os passageiros afetados”, destaca.
Entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, a Gol, por exemplo, registrou cinco bird strikes durante pousos no Aeroporto de Vitória.
Em duas ocorrências, em um voo que saiu de Guarulhos (GRU), em São Paulo, para Vitória (VIX), no dia 20 de janeiro, e em outro do Galeão, no Rio de Janeiro, para a Capital capixaba, as aeronaves precisaram ser encaminhadas à inspeção e só retornaram à operação após manutenção.
“Há um procedimento de averiguação, a manutenção faz uma avaliação completa para ver se houve dano estrutural, se houve colisão no motor. A vistoria é muito rápida. Se houver suspeita de algo maior, a aeronave pode ser encaminhada à manutenção, sendo necessário fazer realocação de outros voos para esse que estava programado”, destaca Diego Barrionuevo.
Em 2024, das oito ocorrências de colisão com fauna envolvendo aeronaves da Azul, um voo precisou ser cancelado. A Latam não informou se voos precisaram ser cancelados por conta de colisões com pássaros.
Diego Barrionuevo entende que é necessário utilizar, além da falcoaria, outras técnicas como drones e explosivos para reduzir a quantidade pássaros, além de políticas públicas que reduzam a quantidade de lixo no entorno de terminais aeroportuários, que podem acabar atraindo aves.
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