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Com reforço escolar e avaliações, Mantenópolis se destaca no Ideb

Com reforço escolar e avaliações, Mantenópolis se destaca no Ideb

Município da região Noroeste do Espírito Santo está em primeiro lugar nos anos iniciais do ensino fundamental, no ranking do Ideb 2019 do Estado

Publicado em 3 de outubro de 2020 às 15:00

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Antes da pandemia, alunos da Escola Professora Adelina Lirio, em Mantenópolis, faziam atividades de leitura em grupo
Antes da pandemia, alunos da Escola Professora Adelina Lirio, em Mantenópolis, faziam atividades de leitura em grupo. (Divulgação)

O município de Mantenópolis, na região Noroeste do Espírito Santo, está em primeiro lugar nos anos iniciais do ensino fundamental, no ranking do Ideb 2019 do Estado, e entre os 10 melhores, nos anos finais. Nas duas etapas, alcançou as metas que tinham sido estabelecidas. Reforço para os alunos com dificuldades de aprendizagem tem sido a estratégia da rede municipal.

É o que pontua Cintia Ellen Pereira, gestora da Escola Professora Adelina Lirio, na sede do município, que alcançou a segunda melhor nota do Estado, e a primeira de Mantenópolis, nos anos iniciais. O Ideb de 7,9 é 2,7 pontos acima da meta que havia sido estipulada para a instituição.

Em termos de aplicação de recursos, a cidade está em 30º lugar nos gastos por aluno, com investimento de R$ 4.849,70. Já do ponto de vista pedagógico, Cintia avaliou que dois projetos contribuem para o município ser bem-sucedido.

O primeiro é a sequência didática unificada, ou seja, não importa se a escola é da área urbana ou rural, se é grande ou pequena, todas têm uma base curricular para promover o processo de ensino-aprendizagem de seus alunos.

Além disso, professores de Língua Portuguesa e Matemática da Secretaria a Educação fazem visitas semanais às escolas para identificar eventuais dificuldades dos alunos nas duas áreas. Assim, quando são reconhecidos déficits de aprendizagem, são organizadas atividades de reforço. A escola da Cintia, particularmente, também tem a própria equipe que avalia quinzenalmente os seus estudantes.

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Se o aluno está com muita dificuldade, pegamos essa criança e colocamos no contraturno para fazer o reforço. Mas esse trabalho só é possível com a ajuda da família. A nossa escola trabalha com várias crianças carentes, muitos filhos de agricultores, mas que entendem a importância da educação para transformar. Eles podem até não conseguir ensinar o filho em casa, mas ajudam de outra forma: mandando as crianças para a escola

Cintia Ellen Pereira
Diretora da Escola Professora Adelina Lirio
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Questionada como tem sido esse período de pandemia, sem aulas presenciais, Cintia admite que, no início, foi preciso um grande esforço de todos, mas que, no momento atual, escola e família estão bem adaptados, e a adesão às atividades remotas, ou em material impresso para os que não têm acesso à internet, é total.

DESAFIOS

No Sul do Estado, Atílio Vivacqua vivencia outra realidade de desempenho, embora seja o município com maior gasto por aluno. Perguntada sobre os desafios para melhorar a aprendizagem dos estudantes e como avalia as despesas feitas na área, já que não estão se refletindo nas avaliações, a Secretaria Municipal da Educação responde, em nota, que está se esforçando para obter melhores resultados.

“De acordo com os dados contábeis do balanço anual do município, referente ao exercício de 2019, o percentual aplicado em Educação, calculado sobre as receitas de impostos, nos termos do artigo 212 da Constituição Federal, foi de 28,55%. Ressaltamos que estamos trabalhando incansavelmente para melhorar o ensino em todas as etapas, o que envolve medidas articuladas e planejadas em parceria com o Conselho Municipal de Educação, gestores das Unidades de Ensino e equipe técnica.”

Para a secretaria, o resultado dessa articulação poderá ser observado em avaliações futuras. “Acreditamos nos resultados vindouros desse trabalho, uma vez que estão sendo realizadas formações com os profissionais, acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos, mesmo agora em período de pandemia, o que refletirá em melhores índices quantitativos, mas também qualitativos; uma vez que, para avaliar uma prática educacional, é imprescindível uma análise minuciosa de diferentes vertentes”, conclui a nota.

GRANDE VITÓRIA

Com concentração das matrículas no Estado, a Grande Vitória também concentra dificuldades. Distorção idade-série e a realidade social são alguns dos desafios apontados pelos gestores para conseguir colocar os municípios em destaque nas avaliações educacionais.

A secretária de Educação de Vitória, Adriana Sperandio, ressalta que foi uma unidade do município que teve a melhor nota nos anos finais do ensino fundamental, a Escola Maria Madalena de Oliveira Domingues, em Jardim Camburi, e outras 24 avançaram em relação à própria meta. Mas ela sabe que, como rede, ainda há uma longa caminhada para superar os obstáculos.

“É preciso continuar investindo muito no desenvolvimento de metodologias que favoreçam a apropriação dos conhecimentos curriculares. Essas escolas que avançaram no Ideb tinham salas ambiente para as disciplinas, laboratórios. Foram locais onde fizemos uma experiência-piloto antes de expandir o investimento para todas as escolas”, observa.

Adriana Sperandio conta que o projeto foi implementado em 2019, foram feitas formações de professores, e a proposta era expandir para a rede neste ano. No entanto, com a pandemia da Covid-19, o planejamento foi adiado. O material já foi comprado e entregue para todas as unidades de ensino, mas a aplicação vai ficar para o próximo gestor, considerando que 2020 é um ano eleitoral.

VULNERABILIDADE

Além do aspecto pedagógico que, segundo a secretária, tem sido aprimorado, há fatores externos à escola que também contribuem para o desempenho dos estudantes. Nas regiões mais vulneráveis, pontua Adriana, é preciso um esforço ainda maior para obter os resultados, dadas as fragilidades familiares e da própria comunidade.

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A escola precisa, de alguma forma, ‘compensar’ toda a insuficiência do ambiente em que estão inseridos esses alunos. Nesses territórios, temos sempre investido na melhor estrutura do prédio escolar, no melhor acervo de jogos, de materiais didáticos para apoiar a docência, com programas especiais para abordar as questões socioemocionais. A autoestima dessas crianças é muito baixa; elas se veem pouco capazes, e precisamos fazê-las enxergar a sua capacidade de realização

Adriana Sperandio
Secretária de Educação de Vitória
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A secretária acrescenta que, mesmo nas comunidades mais vulneráveis, já é possível constatar melhoria de desempenho. “Mas essa realidade social é muito difícil; a progressão é um pouco mais lenta porque os contextos sociais e econômicos são muito agravados. O desafio dos centros urbanos é muito grande, aqui e em todo o país. Mas vemos que estamos no caminho certo, o que precisamos é acelerar porque, claro, queremos mais. E vamos continuar insistindo nessa direção: escola, educação, aprendizagem e, quanto mais investir, melhor.”

FAMÍLIAS

A subsecretária de Gestão e Recursos Humanos da Secretaria de Educação da Serra, Simonia Spada, também menciona que o município tem escolas de destaque no Ideb, sobretudo aquelas de bairros com poder aquisitivo maior e que as famílias acompanham de perto os alunos, e que tanto anos iniciais quanto finais evoluíram, no comparativo de 2017 com 2019, embora não tenham alcançado a meta.

Alunos em escola municipal de Vila Velha: as aulas presenciais seguem suspensas
Aluno em escola de Vila Velha, antes da suspensão das atividades presenciais: município investe em programas educacionais . (Fabrício Lima/ Prefeitura de Vila Velha)

A maior dificuldade, frisa Simonia, é em relação a um grande grupo de alunos em distorção idade-série, ou seja, estão em faixa etária de pelo menos dois anos acima da turma que deveriam frequentar regularmente.

“Nosso projeto é fazer um atendimento individualizado desses estudantes que precisam de maior atenção na aprendizagem. Alguns chegavam ao 9º ano e mal conseguiam ler”, afirma.

Esse cenário foi detectado no resultado do Ideb de 2017 e, a partir daquele momento, foram criados grupos de reforço de aprendizagem no contraturno no ano passado.

“Fizemos o levantamento de todos os alunos com dificuldades, que não liam nem escreviam, e adotamos a extensão de carga horária do professor para que pudesse auxiliar esses alunos fora do horário da aula”, aponta a subsecretária.

A proposta era dar prosseguimento em 2020, mas a pandemia obrigou o município a suspender a atividade. Simonia garante, entretanto, que ela será retomada quando as aulas presenciais forem normalizadas.

No município de Vila Velha, que aparece com investimento em Educação abaixo do limite constitucional de 25% nos dados do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), o desafio não é de ordem financeira.

A secretaria, em nota, justifica o desempenho no Ideb “como herança da queda das notas das gestões anteriores, que passaram a ser recuperadas em 2017.”

“A cidade foi a que obteve as melhores notas, tanto nas séries iniciais, quanto nas séries finais do ensino fundamental, em relação às redes municipais de ensino de todo o Estado, com mais de 15 mil alunos matriculados”, compara.

PROGRAMAS

Sobre o que tem feito para melhorar o desempenho, a secretaria diz que investe em formações continuadas para os profissionais da área e em programas educacionais diversos, como o desenvolvimento humano dos alunos, incluindo ações extracurriculares no esporte, artes e culturas.

Em relação ao ensino, o município, ainda segundo a nota, intensificou o trabalho junto a alunos e professores e já há reflexos em outros exames, como no Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) de 2019.

Quanto aos investimentos em Educação, a secretaria disse que as informações serão atualizadas junto ao TCE-ES e que Vila Velha fechou o ano com investimento de 25,20%.

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No município de Cariacica, também por nota, a Secretaria da Educação informa que os principais desafios estão relacionados à permanência dos alunos, principalmente do ensino fundamental II - do 6º ao 9º ano. Para enfrentar essa e outras dificuldades, está investindo na formação de professores e melhoria tecnológica da rede, na renovação do acervo das bibliotecas e nos laboratórios.

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