Quase dois anos depois do início da pandemia do coronavírus, alunos e professores vão retornando à vida “normal” e à rotina do ensino presencial. Mas os desafios enfrentados nesses tempos difíceis não foram poucos. Os professores, afastados das escolas, mas não da função, tiveram que se reinventar diante da falta de estrutura para continuar a contribuir com a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
Neste 15 de outubro, quando é comemorado o Dia do Professor, a reportagem de A Gazeta traz 4 histórias de profissionais e suas experiências durante a pandemia, que evidenciou ainda mais a importância do professor na sociedade.
O educador é aquele que faz a mediação entre o aluno e o conhecimento, que orienta, ajuda e auxilia na construção não só do futuro profissional, como também na formação dos estudantes como cidadãos.
E quando falamos de ensino público, a pandemia evidenciou ainda mais a desigualdade que existe na educação em nosso país. Ao realizarem seu trabalho virtualmente, os professores superaram desafios, seja aprendendo novas tecnologias ou rompendo as limitações de recursos do dia a dia, tanto das escolas quanto das famílias dos alunos.
Luciana Dalapícola, ou simplesmente Tia Lu, como é chamada pelos seus alunos, que são crianças de 2 a 5 anos, é professora de educação física do CMEI Olinda Rosa da Silva, na Serra. Com a pandemia, ela viu sua vida e dos seus quase 300 alunos virar de cabeça para baixo. Em busca de soluções, aprendeu a mexer com ferramentas de edição de vídeo e criou um canal no YouTube.
Ela explica ainda que no auge da pandemia, com o fechamento das escolas, teve que se desdobrar para aprender a mexer em ferramentas que ela nunca imaginou que teria que dominar a essa altura da vida. Sem contar no que poderia falar em vídeos para um público infantil.
“Olhando de fora o mundo digital parece um bicho de sete cabeças. Mas com a ajuda do Google e YouTube, vendo tutoriais, fui aprendendo a fazer edição de vídeo. Eu enquanto professora também tive que saber o que eu podia falar, pois o público infantil tem restrições, a gente não pode falar qualquer coisa.”
Luciana era a diretora, roteirista e artista de seus vídeos, que saíam duas vezes por semana e precisavam ser divertidos e objetivos. Eram feitos para serem assistidos pela criança e seus pais quando pudessem. Além da criação dos vídeos, outra preocupação era a economia no plano de dados daquelas famílias.
A tática era fazer vídeos curtos, com cerca de dois ou três minutos de duração, uma vez que ela sabia que as crianças não ficariam muito tempo assistindo. Outro desafio era possibilitar que os alunos conseguissem fazer as atividades propostas nos vídeos com os materiais que tinham em casa.
“Eu passei a usar para as dinâmicas baldes, vassouras, colheres, mangueiras, mesa para fazer de casinha, pedras do quintal, enfim, a casa das crianças virou minha sala de aula”, contou.
A maioria dos pais aprovou a iniciativa da professora, que não cobra uma performance dos seus alunos e sim a intenção do movimento. Luciana frisa que o conteúdo principal da educação infantil é o brincar. “Os pais enviavam áudios agradecendo por aqueles momentos de diversão proporcionados num período tão difícil de nossas vidas”, comentou.
Josimar Nunes Pereira de Freitas, professor de Geografia e de Projeto de Vida na EEEFM Ana Lopes Balestrero, em Flexal 1, Cariacica, é mais um professor que se reinventou durante a pandemia. Ele reconhece que teve um período muito difícil no início, porque o fechamento das escolas se deu de uma maneira muito repentina.
Mas conta que durante o processo aprendeu muita coisa, como por exemplo produzir podcasts com um aplicativo de celular. Ele levou esse formato para suas turmas de Geografia do 9º ano do ensino fundamental.
“Gravava algumas aulas, em episódios de quatro, cinco minutos, para que os alunos pudessem fixar os conteúdos. É um material de linguagem simples, eles podem baixar o áudio e ficar ouvindo na hora e no lugar que quiserem”, disse Josimar, que gravou o conteúdo, no próprio celular.
Já para o ensino médio, ele buscou outra estratégia juntamente da equipe de professores do Projeto de Vida. A matéria consiste em trazer reflexões, vivências e conhecimentos que permitem desenvolver algumas dimensões da vida do estudante. O aspecto pessoal, social e profissional, por exemplo, são trabalhados por meio de atividades que desenvolvem o senso de responsabilidade, os valores e a ética.
Para esses estudantes, foram promovidas lives, na plataforma Google Meet, sempre com convidados com os quais os estudantes pudessem se identificar. Uma das participantes foi a jornalista Daniela Karla, da TV Gazeta, por sua origem em comunidade de periferia, assim como os alunos.
Também marcou presença o hexacampeão mundial de beach soccer, Duda Brasil. O atleta contou sobre suas experiências e foram feitas reflexões sobre o papel que o esporte tem na formação das pessoas, assim como na construção de um projeto de vida.
Conrado Leal é professor de artes, do ensino fundamental, na escola Emef Moacyr Avidos, na Ilha do Príncipe, na Capital. Ele conta que foi bastante desafiador o começo da pandemia. Mas ele e seus colegas professores tiveram bastante apoio da Prefeitura de Vitória, que deu formações sobre equipamentos, plataforma de ensino e atendimento aos alunos.
Conrado fala que apesar de todas as dificuldades, em sua matéria, o ensino híbrido ajudou os alunos que passaram a trabalhar com seus celulares e fazendo uso também das redes sociais.
"Durante a pandemia a gente trabalhou muito a fotografia, o retrato. Já era algo que fazíamos no presencial, mas quando mudou para o ensino remoto pensei em trazer algo diferente. Começamos a trabalhar a questão do autorretrato.”
Em cima desses autorretratos os alunos aprendiam as técnicas da fotografia, de desenho, nanquim, pintura e colagem. Mas o diferencial, segundo ele, era todos os alunos de máscara.
“Por que é um marco na nossa história. O uso da máscara. A gente jamais imaginaria esse contexto pandêmico”, destacou.
Mesmo de casa era trabalhado o fazer artístico, as técnicas, as possibilidades e os artistas que trabalham o autorretrato. De Rembrandt, passando por Frida Kahlo e Pablo Picasso. A turma se identificou com o cubismo.
Com retorno das aulas no presencial, o professor conta que planeja uma exposição desses trabalhos para o mês de novembro.
Alinne Locatel de Oliveira era professora durante a pandemia na rede municipal de Vitória e dava aulas para crianças de 3 e 4 anos, no CMEI Zélia Vianna de Aguiar. Com curso em mídias sociais, ela desenvolveu trabalhos envolvendo também as famílias durante o período do ensino remoto. Fazendo uso de aplicativos que auxiliavam na alfabetização das crianças, como o Google Jamboard.
Ela conta que com a pandemia, ela e o corpo de professores tiveram que ir adaptando as propostas de ensino. As turmas não tinham aulas on-line e a proposta era fazer encontros quinzenais, no Google Meet, com atividades sendo feitas com o uso do celular.
Nesse período, a professora pontua as principais dificuldades que enfrentou no começo do ensino remoto.
“A dificuldade maior era com que as famílias dos alunos acessassem as propostas. Mas depois que a prefeitura criou uma plataforma, aumentou o número de participação nas atividades. Porém aos alunos que continuaram sem conseguir participar, a gente enviou PDFs e até impressos.”
Outra dificuldade era convencer as famílias sobre um ensino mais voltado para as experiências e as linguagens do que aquele mais tradicional e pragmático que ficava apenas nas tarefas de ler e escrever.
Durante o ano, Alinne conta que essas dificuldades com as famílias foram sendo superadas, e elas passaram a entender melhor as propostas de ensino, principalmente quando aplicativos interativos foram usados nas aulas, como foi o caso do Google Jamboard.
“Com o uso dos aplicativos, as famílias começaram a entender melhor nossas propostas, e passaram a participar mais das aulas. A gente enviava um PDF de um livro ou contava uma história e a partir daí eram feitas atividades no aplicativo, com as crianças desenhando, escrevendo ou completando desenhos”.
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