Carismático, visionário, bem-humorado, trabalhador e inteligente. Esses foram alguns dos muitos adjetivos usados por familiares e amigos para descrever a relevância de Cariê Lindenberg no processo de projeção do Espírito Santo para todo o Brasil.
Nesta terça-feira (6), o fundador da Rede Gazeta não resistiu às complicações de uma pneumonia e faleceu aos 85 anos.
Multifacetado, Cariê era empresário, músico e escritor. Ele deixa três filhos e cinco netos. Nos últimos anos, se dividia entre a leitura e a música em sua residência na Ilha do Frade, na Capital. Para conhecer um pouco mais da sua trajetória, confira essa linha do tempo.
Cariê Lindenberg no comando da Rede Gazeta
Nasce Carlos Fernando Lindenberg Filho
Cariê era filho de Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, que governou o Estado por dois mandatos, entre os anos de 1947 – 1951 e 1959 – 1963, e de Maria Antonieta Queiroz Lindenberg. Nascido no Rio de Janeiro no dia 13 de setembro de 1935, ele veio para Vitória, no Espírito Santo, com 17 dias de vida.
Infância e adolescência
Quando jovem, Cariê passou sua adolescência na praia, nadando, jogando bola com os amigos. “Sempre jogando muito mal, mas me divertindo”, brincava, Cariê. “Nasci no Rio de Janeiro por acaso. Sou capixaba”, afirmava. E foi aqui onde cresceu, estudou boa parte de sua vida, e construiu uma história que se entrelaçou com o desenvolvimento do Espírito Santo.
Vida no Palácio Anchieta
O pai dele, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, governou o Estado por dois mandatos. Na primeira gestão do então governador, entre os anos de 1947 – 1951, Cariê era criança. Por isso, morou com a família no Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo. A mãe contava que ele tinha medo de fantasma ao dormir sozinho em um dos quartos.
Viu a bossa nova nascer
Enquanto morava e estudava Direito no Rio de Janeiro, viu a bossa nova nascer, ao lado de Tom Jobim, Newton Mendonça, Roberto Menescal. Tempos de boemia que lembrava com emoção.
Formação em Direito
No final da adolescência foi para o Rio de Janeiro, estudar Direito na PUC, onde se formou em 1958. Lá fez grandes amigos que o acompanharam por toda a vida, além de seu inseparável violão.
Segundo mandato do pai no governo
No segundo mandato do pai como governador do Espírito Santo, entre 1959 e 1962, Cariê atuou como oficial de gabinete no Palácio Anchieta. Ele chegou a ser convidado a assumir uma cadeira no secretariado, após colaborar ativamente com a campanha, mas declinou da ideia. "Disse ao papai: não tenho conhecimento necessário para fazer-te uma boa companhia; vou continuar no meu carguinho", contou, em 2019.
Sócio de imobiliária
Ao sair do governo do Estado, iniciou a vida empresarial como sócio-proprietário de uma empresa imobiliária. "Fui para uma empresa chamada Eldorado Melhoramentos, que se desdobrou em Plano Engenharia e na Eldorado Publicidade, que foi a primeira no Estado. Eu estava empenhado em começar e fortalecer essa empresa quando meu tio Eugênio (de Queiroz), que era presidente de A Gazeta, me chamou", relembrou, em entrevista ao jornal A Gazeta, em 2018.
Convite para trabalhar no jornal A Gazeta
Enquanto trabalhava na imobiliária, Cariê foi convidado para trabalhar no jornal A Gazeta. Na época, o jornal impresso, que já estava em circulação desde 11 de setembro de 1928, era o único produto da Rede. Cariê chegou para auxiliar e ampliar os horizontes do negócio. Quando foi procurado pelo tio Eugênio de Queiroz, Cariê conta que o então empresário do ramo da comunicação fez uma exposição de que estava muito sozinho, sendo prejudicado comercialmente porque tinha abandonado os negócios particulares para poder tomar conta de A Gazeta. "E, realmente, era uma chatura para ele", relembrou.
Canal de TV para reforçar o jornal
Visionário, Cariê Lindenberg teve a ideia de ampliar a relevância e alcance do jornal A Gazeta com a concessão de um canal de TV. Ainda visualizando o projeto como um sonho distante, ele pensava na possibilidade de trabalhar com um canal filiado à Rede Globo. Foi a mãe dele, Maria Antonieta Queiroz Lindenberg, quem conseguiu uma agenda com Roberto Marinho, então presidente da emissora de impacto nacional.
Vida de compositor
Cariê compôs a música Devaneio, que era executada no encerramento diário da programação da TV Gazeta. E sempre brincava, quando lembrava da música. “Corro o risco de ser conhecido como o compositor de uma música só”, dizia.
Início da transmissão da TV Gazeta
A TV Gazeta entrou no ar no dia 11 de setembro de 1976, pouco mais de um ano após a reunião de Cariê Lindenberg com Roberto Marinho. "A gente não tinha a menor ideia do que era fazer, durante uma hora, um jornal. Quando ia ser inaugurada a televisão, a gente chegou à conclusão de que não tinha nem as câmeras de estúdio, nem tampouco as câmeras. Tínhamos esquecido de comprar", contou, sorridente, em entrevista concedida ao jornalista Mario Bonella.
Cariê deixa a direção da Rede Gazeta
Cariê deixa a direção geral e dá lugar ao filho Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Neto, o Café. O então presidente do Conselho de Administração da Rede, passa a ter ainda mais contato com outras atividades não relacionadas ao jornalismo como a agricultura e a vida de escritor.
Vida no campo
Mesmo enquanto estava ativo na Rede Gazeta, Cariê conciliava a vida de empresário do ramo da comunicação com a vida no campo. Sem qualquer experiência ou formação em administração, fez a fazenda Três Marias, em Linhares, dobrar de tamanho. Quando deixou a direção da empresa, em Vitória, passou a vivenciar ainda mais a rotina no campo.
Vida de escritor
Depois da passagem pela política, da vida comandando a Rede Gazeta e a experiência com a música, o empresário resolveu investir em um novo capítulo: a paixão pela literatura. A partir de 2001, durante 18 anos, sete livros foram publicados. No livro de estreia, "Eu e a sorte", Cariê reuniu 51 crônicas com casos da sua vida pessoal e profissional, com bastidores da política, do jornalismo e do comportamento humano, incluindo o acidente que sofreu ainda jovem e que atribui sua sobrevivência à sorte.
"O galinha e elas"
O livro “O galinha e elas”, segundo da carreira literária, pode ser considerado o ingresso de Cariê na literatura ficcional. Nesta obra, ele escreveu sobre os homens: “A gente conhece muita literatura sobre relacionamento humano, sobre casamento, essas coisas, mas ninguém nunca se preocupou com a maioria dos homens que são galinhas”, explicou à época.
"Pingos e Respingos"
Com o título “Pingos e Respingos” ele retorna aos assuntos de sua própria trajetória e conta, narrando em terceira pessoa, a enchente de 1979 que assolou o Espírito Santo, especialmente o Norte, causando enormes prejuízos e deixando milhares de pessoas desabrigadas. O livro apresenta Cariê como um homem da fazenda, que foi voluntário, dentre muitos outros, para ajudar depois do desastre natural. No fim, a obra mostra que a solidariedade venceu.
"Entenda as entendidas"
Ainda em 2005, Cariê lançou “Entenda as entendidas”, depois de uma pesquisa de dois anos com pessoas das mais variadas orientações sexuais. Como defensor da liberdade de expressão, Cariê pensou no livro como uma forma de contribuir para uma maior compreensão do universo LGBTQIA+ na época.
"Bis mais cinco"
O quinto livro “Bis mais cinco” reuniu 30 artigos publicados originalmente em A Gazeta, entre 2001 e 2008. A brochura contém um texto longo sobre Vitória e mais cinco crônicas inéditas. Dentre os temas de sua trajetória, a política é o mais frequente.
"Memórias Cariocas e Outras Memórias”
Em 2016, Cariê resolveu visitar suas memórias do período vivido no Rio de Janeiro. Em “Memórias Cariocas e Outras Memórias”, Lindenberg reúne crônicas que revisitam os anos de 1957 e 1963, época em viveu no Rio de Janeiro, estudou Direito e iniciou a vida profissional. Neste período, vivendo na Zona Sul e amante de música e boemia, reencontrou Roberto Menescal, fez amizade com Miele e viveu “muitas travessuras” como conta na obra.
"Vou Te Contar"
O livro que encerra a trajetória de Cariê na literatura, traz em suas 350 páginas as memórias desde sua infância, passando pela adolescência, vida de adulto e a carreira na Rede Gazeta, chegando em sua aposentadoria. Uma dessas histórias, por exemplo, conta sobre o processo de fundação da TV Gazeta no Espírito Santo como afiliada da Globo.
O adeus
Cariê Lindenberg morreu nesta terça-feira (6) depois de não resistir às complicações de uma pneumonia. A frase, dita há quase 20 anos pelo empresário Cariê Lindenberg, resume bem a forma leve com que ele sempre preferiu viver. “Vejo a vida como uma rosa. Eu posso ver os espinhos e achar que ela é uma porcaria, ou achar que os espinhos são um componente à parte. Prefiro sempre ver o lado mais agradável”.
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