Dois prédios com o mesmo formato, separados por poucos metros, cercados por áreas gramadas e com 448 lóculos disponíveis para sepultamentos. Assim foi planejado e construído em 2019 o primeiro e único cemitério vertical do Espírito Santo, localizado no bairro Morada Bethânia, em Viana. O local é silencioso, distante de qualquer comércio e com vista para o município da região metropolitana da Grande Vitória. A estrutura é similar ao local escolhido pelo Rei Pelé para o sepultamento na cidade de Santos.
O ambiente escolhido por Edson Arantes do Nascimento fica no bairro Marapé, em Santos, a poucos metros do estádio da Vila Belmiro, onde Pelé brilhou. O prédio que leva o nome de memorial necrópole é cercado por mata fechada e também fica em um ambiente silencioso. A estrutura é considerada o maior cemitério vertical do mundo e não tem um visual de cemitério comum, característica citada por Pelé no momento da escolha.
A 997 quilômetros dali, no município de Viana, está o único cemitério vertical do Espírito Santo. Mesmo que menor e menos luxuoso que o local escolhido por Edson Arantes do Nascimento, Santos (SP) e Viana (ES) prometem o mesmo: otimizar o espaço da cidade, dar mais sustentabilidade ao local e oferecer um ambiente mais humanizado aos familiares que perderam entes queridos.
Se por um lado o memorial necrópole de Santos (SP) é considerado o maior cemitério vertical do mundo, a construção de Viana é reconhecida por ser a primeira do Espírito Santo. A construção foi concluída em 2019 e não há mais lóculos disponíveis. Os lóculos são os espaços utilizados para o sepultamento das pessoas.
A reportagem de A Gazeta esteve nos dois locais para conhecer as semelhanças e diferenças. O assunto ganhou mais atenção após a morte de Pelé, sepultado no memorial na última terça-feira (3).
Memorial onde está corpo de Pelé tem de museu a animais
Antes mesmo de entrar no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, São Paulo, o tamanho do prédio já impressiona. O maior cemitério vertical do mundo tem 14 andares e uma entrada principal com cara de hotel de luxo. Todos os andares têm formato e visual padrão, com uma espécie de varanda na frente.
No interior do local, uma das salas, destinada ao trabalho da imprensa durante a cobertura do sepultamento do Rei, exibe um luxuoso lustre com um teto de vidro. Calopsitas são vistas logo em uma das entradas. Há ainda tartarugas em um pequeno lago. Quem caminha pelo interior do memorial ainda encontra uma área de recreação para crianças, com um gramado, escorregador e brinquedos. Em um andar abaixo, há ainda um museu com carros antigos.
Rei Pelé
Em entrevista em 2003, sobre a escolha do local
"É um local que transmite paz espiritual e tranquilidade, onde a pessoa não se sente deprimida, sequer parece com um cemitério"
Quase todos os funcionários, ao menos no dia do sepultamento do Rei, vestiam terno preto. A segurança foi reforçada no local, que ganhou coroas de flores em homenagem a Pelé.
Para ter um sepultamento no local, é necessário desembolsar de R$ 40 mil a R$ 50 mil anualmente. Não há mais lóculos disponíveis no local.
Sem vagas, cemitério vertical do ES será ampliado
Sem o luxo de Santos, mas cumprindo a mesma ideia, o cemitério vertical de Morada Bethânia, em Viana, não oferece mais lóculos. Todos os 448 espaços foram ocupados desde que o local foi construído, em 2019. Eles estão divididos em dois blocos idênticos. Os lóculos são identificados por números e alguns deles têm o nome do indivíduo sepultado ali.
Há também uma área verde nas proximidades, que promete humanizar o local. Uma capela no local é utilizada para velório dos mortos.
O único cemitério vertical de Viana
A estrutura foi construída no mandato do ex-prefeito Gilson Daniel, atualmente deputado federal. O atual prefeito do município, Wanderson Bueno, avalia que a estrutura foi importante para a cidade, resolvendo problemas como a contaminação do solo, presente nos cemitérios tradicionais.
Wanderson Bueno
Prefeito de Viana
"O cemitério vertical vem pela dificuldade de administrar cemitérios tradicionais no município e da disponibilidade de área. Neste modelo, temos condições mais humanas e mais sustentáveis"
A promessa é que, ainda em 2023, o cemitério vertical tenha a capacidade dobrada, passando a ter quase 900 lóculos divididos em quatro colunas idênticas. O investimento no local será de R$ 2.500.276,90.
Financeiro e administrativo: o que Santos e Viana têm de diferente
Os dois cemitérios seguem a tendência do vertical. Mas as diferenças são visíveis. A primeira delas é a administração dos locais. Em Santos, o espaço é privado e é necessária autorização para visitar qualquer um dos lóculos. Por outro lado, o oferecido pela Prefeitura de Viana é construído com dinheiro público e não há relação com a iniciativa privada.
O financeiro também importa: em Santos (SP), a quantia chega a R$ 50 mil anuais para sepultamento. No Espírito Santo, o espaço é voltado para aquelas pessoas que não têm um jazigo perpétuo. Ou seja, diferente do Pelé, que pagou em vida o local onde seria enterrado, os capixabas sepultados em Viana não escolheram aquele espaço anteriormente.
Além do valor a ser pago, Santos e Viana também têm diferença no tempo para utilização do lóculo.
No município capixaba, a taxa de sepultamento é de R$ 121. Essa é a única taxa paga para uso do cemitério vertical. Já no cemitério tradicional, o valor para aquisição do lóculo é de R$ 1.208. Isso quer dizer que no cemitério comum o indivíduo compra o espaço e permanece com aquele local.
A regra em Viana é que um munícipe sepultado no cemitério vertical fica em um dos lóculos por 3 anos. A partir desse momento, os restos mortais são colocados em um ossuário, onde permanece sem tempo determinado. Quando um indivíduo é retirado de um lóculo, o espaço é imediatamente utilizado por outra pessoa.
Em Santos, por exemplo, o Rei Pelé ficará no primeiro andar, em uma sala construída especialmente para ele. Segundo o memorial, são 200 m² destinados ao Rei, com estátuas e camisas de futebol. Com a compra e pagamento mensal, o corpo de Pelé permanecerá naquele local e não haverá qualquer alteração.
Geografia e meio ambiente: o que Santos (SP) e Viana (ES) oferecem em comum
Apesar das diferenças, o memorial particular de Santos e o cemitério municipal de Viana enfatizam questões de geografia da cidade e de meio ambiente. Com o aumento do número de mortes em uma cidade, o espaço para sepultamento precisa ser expandido. Em algumas cidades, no entanto, o aumento da área não é tão simples assim.
Estruturas como as de Santos e de Viana permitem um crescimento na vertical. Em São Paulo, com andares, varandas e salas maiores. No Espírito Santo, apenas com um lóculo sobre o outro. Mas as duas com menor ocupação de terreno, independente da quantidade de pessoas sepultadas.
Além da área, a preocupação também é o meio ambiente. Com a construção vertical, a ideia é que não haja contaminação do lençol freático. No cemitério tradicional, as pessoas são enterradas no solo, e o caixão tem contato direto com a terra.
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