A taxa de letalidade provocada pelo novo coronavírus é definida pela parcela da população diagnosticada com Covid-19 que morre por causa dos sintomas provocados pela doença. No Espírito Santo, o índice atual é de 2,7%. No segundo mês de pandemia no Estado, em abril, era de 7%.
A taxa de letalidade é alcançada quando o número de óbitos é dividido pela quantidade de casos confirmados e o resultado é multiplicado por 100. Durante pouco mais de seis meses de convivência com o vírus da Covid-19, os números oscilaram no Estado, conforme registros no Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
No dia 25 de maio, por exemplo, o Espírito Santo registrava 10.007 diagnósticos positivos e 447 óbitos. Naquele cenário, a letalidade estava em 4,47%. Um mês depois, no dia 26 de junho, o número caiu para 3,85%, quando o Estado tinha 37.225 pacientes confirmados e 1.432 mortes provocadas pela doença.
De acordo com Etereldes Gonçalves, membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) e professor no curso de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), alguns fatores podem explicar a redução da taxa de letalidade da doença no Espírito Santo e em outros locais.
A velocidade da redução é diferente de um território para o outro. Alguns fatores estão relacionados à doença propriamente, mas também há fatores ligados ao território, e eles são diferentes. Não conseguimos dizer o que de cada fator está associado a essa queda, mas é possível apontar como eles afetam essa taxa, disse.
De acordo com a Sesa, a taxa de letalidade está diretamente relacionada com a intervenção precoce no atendimento e as condutas clínicas dos casos internados. Segundo a Secretaria, a partir da estabilização dos casos no Estado, a letalidade tende a diminuir.
"A Secretaria informa que a maior frequência registrada no Espírito Santo foi a taxa de 3.2% e a mais alta a partir da consolidação da pandemia no Estado foi de 3.7%", informou a Sesa, por meio de nota, sem mencionar o mês da consolidação da doença.
Desde o dia 14 deste mês, a Sesa passou a testar qualquer pessoa no Espírito Santo que apresente algum sintoma respiratório característico dos casos suspeitos de Covid-19. A medida foi anunciada na Nota Técnica Covid-19 nº 073/2020.
Para Etereldes, a capacidade e a quantidade de testagem feita no Estado é um fator que contribui para a redução da taxa de letalidade. Segundo ele, o Espírito Santo realizou mais testes que outros Estados brasileiros.
De acordo com o Painel Covid-19, até a tarde desta terça-feira (22), 364.469 pessoas haviam sido testadas.
A doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, Ethel Maciel, também é membro do NIEE. Assim como Etereldes, a professora do Departamento de Enfermagem da Ufes destacou a influência que os testes exercem sobre a letalidade. Na avaliação dela, a redução é fruto do novo protocolo de testagem anunciado pela Sesa.
A forma de lidar com a evolução do quadro clínico dos pacientes internados com a Covid-19 nos hospitais do Estado também é um fator considerado por Etereldes e Ethel. Mesmo sem um remédio eficaz contra o vírus, Ethel ressalta que os profissionais de saúde aprenderam a reagir aos diferentes estágios de infecção.
A gente aprendeu a dosagem do corticoide para tratar e controlar a inflamação, que é um dos problemas. A gente já aprendeu quais os testes e diagnósticos que devem ser pedidos para controlar a doença de coagulação e entrar com os anticoagulantes na hora certa. O tratamento melhorou muito, detalha Ethel.
Etereldes complementa. Após esses meses de convivência com a pandemia, a taxa de letalidade cai naturalmente porque o sistema de saúde mundial aprende com a doença e melhora o manejo da doença dentro dos sistemas hospitalares. Isso independe do território, é um fator mundial, atesta.
O professor do curso de Matemática da Ufes destaca que, em tese, outro ponto que poderia influenciar na questão da taxa de letalidade é o fator biológico, ou seja, a capacidade de mutação do vírus Sars-Cov-2 que provoca a Covid-19 no organismo humano. No entanto, segundo Ethel, estudos realizados no Brasil indicam que o coronavírus não apresentaram nenhuma mutação importante até o momento.
A gente não tem estudos específicos do Espírito Santo, mas esse fator biológico pode não ter influência porque os dados não mostram mutações importantes do vírus. No futuro, essa vigilância se tornará ainda mais importante para a produção da vacina, assim como é feito com o vírus da Influenza, aponta Ethel.
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