O Espírito Santo passou de 1.500 mortes provocadas pela Covid-19 nesta sexta-feira (26), e apesar de uma tendência de estabilização na Grande Vitória, os indicadores apontam que a curva de casos e óbitos vai se manter em crescimento no Estado, pelo menos até o início de julho, pela intensa disseminação do coronavírus em municípios do interior.
Na mais recente projeção do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), com base no comportamento da Covid em território capixaba, no dia 8 de julho o Espírito Santo pode passar de 2,6 mil mortes, caso a taxa de transmissão chegue a 1,5, indicador no limite superior da curva. Se ficar na velocidade média, em 1,33, serão 2 mil óbitos.
O professor Fabiano Petronetto do Carmo, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do NIEE, destaca que na Grande Vitória o número de casos ativos (pessoas infectadas e que podem transmitir o vírus) mostra-se estável, sem muitas variações para cima e para baixo, e o mesmo padrão está no volume de mortes na região.
"Mas, no interior, observamos o contrário. Há um crescimento de casos ativos e de óbitos. E, quando fazemos a média, o Espírito Santo está em crescimento, não numa velocidade tão grande, mas ainda crescendo", pontua.
Fabiano ressalta que, embora haja a tendência de estabilidade, não significa que a população da região metropolitana possa relaxar nos protocolos de saúde, entre os quais a manutenção do distanciamento social, porque pode haver uma explosão de novos casos.
O professor Etereldes Gonçalves Júnior, também do Departamento de Matemática da Ufes e membro do NIEE, acrescenta que, como as curvas na Grande Vitória e no interior têm picos diferentes, no espaço de tempo, o Espírito Santo vai vivenciar um platô (quando alcança o pico e a taxa de transmissão é contínua) mais alongado, antes de a curva da Covid-19 apontar efetivamente para baixo.
"Vemos o platô se iniciar no Espírito Santo. Quando olhamos para a curva de óbitos por milhão de habitantes, essa condição é ainda mais evidente", pontua.
Entretanto, com o crescimento acentuado no interior, Etereldes preocupa-se com a capacidade de assistência dos municípios fora da Grande Vitória. Problema também apontado por outra integrante do núcleo, a pós-doutora em Epidemiologia e professora Ethel Maciel, ao analisar as projeções para as próximas semanas.
"A maior parte dos municípios não tem hospital. Uma coisa é uma pessoa levar 30 minutos para chegar a uma emergência, outra coisa é levar três horas. Esses casos evoluem rápido e, se nada for feito, muitos pacientes poderão morrer ainda no transporte, sem receber o atendimento adequado", pondera.
Para Ethel, é importante que nesta nova fase de disseminação do coronavírus, as estratégias de saúde envolvam Estado e municípios, melhorando as ações de prevenção, ampliando a realização de testes, reforçando o trabalho das Equipes de Saúde da Família (ESF) e distribuindo mais Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os profissionais.
Na avaliação da professora, para que o Estado tenha condições de se preparar melhor para o atendimento no interior, seria necessário que houvesse também a suspensão da circulação de pessoas por 21 dias, diminuindo a pressão sobre o sistema de saúde e dando mais condições de estruturação de assistências nos municípios fora da Grande Vitória.
O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, afirma que o apoio aos municípios para o desenvolvimento da atenção primária ganhou lastro no ano passado, com a ampliação das ESF, mas o advento da pandemia trouxe novas demandas, que vêm sendo discutidas de maneira mais intensa desde maio.
Nésio Fernandes explica que a atenção primária tem um papel mais resolutivo na assistência de pacientes com doenças crônicas e cuidados materno-infantis, ao passo que uma doença infecciosa como a Covid-19 exige novas condutas e protocolos. Assim, Estado e municípios têm trabalhado no que o secretário chama de "Agenda de Resposta Rápida", para qualificar o atendimento oferecido à população nas unidades de saúde municipais.
"Existem dilemas concretos para organizar essa assistência. Muitos municípios tiveram sua equipe drasticamente reduzida, desde o início da pandemia, por ter profissionais em grupos de risco, os EPIs comuns ao ambiente intra-hospitalar, agora precisam ser trocados a cada visita domiciliar, entre outras questões. São muitos desafios, mas estamos construindo com os gestores a melhor forma de qualificar as intervenções no cuidado com o paciente", frisa.
Uma das medidas é a compra de oxímetro, um equipamento capaz de medir a saturação do oxigênio de pacientes com síndrome gripal e que pode ajudar a prevenir a evolução de casos de Covid-19 para um quadro mais grave, com monitoramento feito pela atenção primária. A cotação de preços será feita na próxima semana.
Outra iniciativa é a ampliação de leitos do SUS, inclusive no interior do Estado, chegando a 1,7 mil até o final de julho. Nesta sexta-feira, o Espírito Santo registra 1.348 vagas, somando a oferta em enfermarias e UTIs.
Maior controle sobre a circulação de pessoas está prevista para o caso de o Estado atingir o risco extremo de contágio do coronavírus, e um dos indicadores é a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva superior a 91%. No levantamento desta sexta, o índice é de 80,71%.
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