Desde o início da pandemia do coronavírus, as esperanças de uma solução para a crise sanitária estão depositadas no desenvolvimento de vacinas que possam prevenir a infecção. A corrida pela produção de imunizantes está em processo acelerado e conta com candidatas de vários países. A última a anunciar resultados foi a farmacêutica Pfizer, em parceria com a empresa alemã BioNTech, que afirmou nesta quarta-feira (18) que a vacina é segura e tem 95% de eficácia.
É com o laboratório americano PFizer que a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) avalia uma possível parceria para a compra da vacina que está sendo produzida contra a Covid-19.
Os resultados anunciados foram obtidos na fase 3 de desenvolvimento da vacina, considerado o estágio mais avançado na produção dos imunizantes. Esta etapa consiste em ensaios clínicos feitos com milhares de voluntários e serve para avaliar se a vacina realmente protege contra a infecção, algo que não é possível confirmar nas fases 1 e 2 porque os testes são feitos em menor escala.
Duas candidatas à vacina contra a Covid estão sendo produzidas no Brasil. Além delas, outra candidata tem acordo com governo do Paraná e da Bahia, e o governo federal ainda estuda acordos com mais três. Veja abaixo a situação de cada uma.
Aposta do governo brasileiro para o combate à Covid, a vacina experimental da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a biofarmacêutica AstraZeneca, deve começar a ser produzida no país até março de 2021.
Em agosto deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um acordo de transferência de tecnologia e produção da vacina no Brasil em 2021. O contrato deve garantir ao país, segundo a Fiocruz, 100 milhões de doses da vacina ainda no primeiro semestre do ano que vem. A aplicação da vacina de Oxford acontece em duas doses.
Todas as projeções de produção da vacina e aplicação na população em geral dependem dos resultados da fase 3 de testes, que ainda não foi concluída, e da aprovação a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Coronavac, candidata à vacina contra a Covid da empresa chinesa Sinovac, está em fase 3 de testes, que estão sendo conduzidos pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Nesta quarta-feira (18), dados publicados na revista Lancet mostram que a vacina oferece resposta imune em 97% dos casos e é segura.
O governo de São Paulo tem parceria firmada com a empresa Sinovac para compra de um total de 46 milhões de doses da Coronavac e a estimativa é de que, até dezembro, 6 milhões de doses estejam prontas para uso. Segundo o diretor do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, os resultados da fase 3 de testes podem ser antecipados em decorrência do aumento do número de casos de coronavírus no Brasil.
A Coronavac ainda depende de autorização da Anvisa para ser aplicada e é objeto de disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória. Nesta quinta-feira (19), as primeiras doses chegaram a São Paulo.
A vacina russa Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya, em Moscou, está na fase 3 de testes. O governo russo espera dar entrada ao pedido de autorização junto à Anvisa ainda em dezembro deste ano.
Dois governos estaduais já têm acordos com o governo da Rússia sobre o imunizante. A Bahia assinou contrato para receber 50 milhões de doses da vacina e o Paraná firmou acordo de transferência de tecnologia, para produção nacional da vacina. O governo federal informou que tem reunião agendada com representantes do Instituto Gamaleya para estudar negócios relacionados à vacina.
O Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) declarou, no último dia 11, que a Sputnik V alcançou 92% de eficácia na proteção contra a Covid. A farmacêutica União Química, que será a responsável pela produção da vacina no Brasil, ainda não formalizou pedido de autorização para a Anvisa.
Primeiro laboratório a anunciar o fim da fase 3 de testes da vacina contra a Covid, a Pfizer exibiu resultados de 95% de eficácia na prevenção da doença, sem efeitos colaterais graves.
Na última terça-feira (17), representantes do Ministério da Saúde se reuniram com executivos da Pfizer em busca de acordo para a compra e produção da vacina no Brasil. Segundo a pasta, não houve acordo imediato, sendo a reunião apenas técnica. A vacina da Pfizer está em fases de testes no Brasil.
A vacina produzida pela farmacêutica Janssen Pharmaceuticals, que pertence à J&J, está na fase 3 de testes no Brasil e envolve cerca de 7 mil participantes de 11 Estados brasileiros.
No mundo todo, são mais de 90 mil voluntários envolvidos nesta etapa de testes, e os primeiros resultados devem ser divulgados no primeiro trimestre de 2021.
O governo brasileiro tem reunião marcada com executivos da empresa para estudar a compra e produção de vacinas da Janssen.
A Covaxin é uma vacina experimental que está sendo testada pela empresa indiana Bharat Biotech. A vacina, produzida com apoio do governo da Índia, está em fase de testes com mais de 26 mil voluntários. A expectativa é de que haja uma vacina pronta no primeiro semestre de 2021.
Representantes do Ministério da Saúde do Brasil vão se reunir com executivos da Bharat Biotech para discutir o desenvolvimento da vacina e possíveis acordos de compra e produção.
Além dessas seis vacinas, outras cinco estão na fase 3 de testagem e podem figurar entre as candidatas à vacina contra a Covid. Uma delas, da farmacêutica americana Moderna, teve eficácia anunciada de 94,5%.
Há ainda duas vacinas do laboratório chinês Sinopharm, uma da empresa chinesa CanSino Biological e uma da biofarmacêutica americana Novavax que também encontram-se na fase 3.
Apesar de todas as candidatas à vacina contra a Covid terem o mesmo objetivo, que é controlar a disseminação do coronavírus e prevenir o surgimento de novos casos e mortes, são usados diferentes métodos e fórmulas de imunização para se alcançar o resultado esperado.
A Coronavac, da empresa chinesa Sinovac, por exemplo, utiliza o método mais tradicional, já consagrado em outras vacinas, que é do vírus inativado. Nesse método, os agentes infecciosos do coronavírus são tratados para que percam a nocividade e, quando injetados no corpo, façam com que anticorpos sejam produzidos pelo organismo.
Já a vacina de Oxford utiliza a técnica de vetores virais, que introduzem vírus modificados no organismo, com parte do vírus responsável pela Covid e, assim, incentivando o corpo a reconhecer o coronavírus e produzir anticorpos para combatê-lo.
As vacinas da Moderna e da Pfizer, no entanto, utilizam um método diferente e considerado inovador. Por meio de fragmentos de instruções, chamados de RNA mensageiro, as células humanas produzem antígenos e proteínas contra o coronavírus, que são enviadas ao sistema imunológico, produzindo os anticorpos.
A doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, afirma que não há elementos que indiquem uma tecnologia se sobrepõe à outra, ou seja, que uma pode ser melhor que as demais. Todos os resultados divulgados das fases 1 e 2, e os anúncios das fases 3 de testagem, indicam que os dois indicadores mais importantes no desenvolvimento de uma vacina estão sendo atingidos: segurança e eficácia, pontua.
A professora, que faz parte do grupo de trabalho para planejamento da campanha de vacinação contra o coronavírus do Ministério da Saúde, aponta, no entanto, que as vacinas que utilizam o método de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna, necessitam de refrigeradores com temperatura de 70 graus abaixo de zero, o que pode tornar a distribuição difícil, ainda mais num país grande como o Brasil.
Já as vacinas que utilizam os métodos de vetores virais e de vírus inativados, como as da Sinovac e de Oxford, necessitam de rede de refrigeradores com temperatura de até 20 graus abaixo de zero, tecnologia que o Brasil já possui.
Com relação aos prazos de chegada das vacinas ao mercado brasileiro, Ethel Maciel explica que o grupo de trabalho do Ministério da Saúde atua com a ideia de aplicação das vacinas em fevereiro. Segundo ela, já há uma garantia de 20 milhões de doses, pelo acordo firmado entre o governo brasileiro para compra da vacina da AstraZeneca/Oxford.
No início do ano, já poderíamos vacinar alguns grupos. Tudo depende dos resultados e da liberação por parte da Anvisa. Mas é importante superarmos as confusões políticas para podermos contar com a vacina da Sinovac. Com ela, teríamos mais doses disponíveis, observa Ethel Maciel.
O secretário estadual da Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, afirmou que ainda é preciso ter calma com relação ao prazo da chegada das vacinas ao Estado. "A pandemia não acabou, temos pelo menos mais 8 meses de resistência até ter o processo de vacinação alcançando os primeiros grupos prioritários. Seguiremos convivendo com o uso de máscaras, protocolos sanitários, isolando sintomáticos e testando/monitorando amplamente a população", afirmou nas redes sociais.
Em entrevista à CBN Vitória no mês de outubro, Nésio confirmou que a meta do governo estadual é vacinar até 1 milhão de pessoas nos primeiros 30 dias após a liberação da vacina. Além disso, o ES já se prepara logisticamente para uma vacinação em massa, tendo comprado 6 milhões de seringas para aplicação dos imunizantes.
*Rafael Carelli é aluno do 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Joyce Meriguetti e de Aline Nunes.
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