Uma nova onda começa a crescer no país e também no Estado, mas não está diretamente ligada ao aumento de casos de Covid-19. São relatos, cada vez mais frequentes em redes sociais, de pessoas que fizeram teste para identificar anticorpos (proteção do organismo) contra o coronavírus após tomar a vacina, mas o resultado foi negativo. A conclusão para muitos é só uma: "a vacina não pegou" e não estou protegido. A ciência, contudo, tem outra explicação.
O primeiro ponto a se esclarecer é que todas as vacinas hoje disponíveis contra a Covid-19 não impedem a pessoa de se infectar pelo coronavírus. Por isso, medidas como uso de máscara e distanciamento social continuam tão importantes.
Mas, embora não evite a contaminação, todos os imunizantes utilizados no país - Coronavac, Astrazeneca e Pfizer - são comprovadamente eficazes e reduzem a incidência de agravamento e morte, no caso de contágio, segundo afirma o infectologista Raphael Lubiana, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
E, se o risco de uma pessoa agravar é menor, o médico assegura que isso significa que, ao tomar a vacina, ela vai desenvolver a imunidade e ficar mais protegida. Questionado sobre por que razão, então, não são detectados os anticorpos através de testes, Raphael Lubiana esclarece que nem toda imunidade é observada nos exames laboratoriais comuns.
Raphael Lubiana explica que, na maioria das pessoas, a imunidade se manifesta por um grande volume de anticorpos, mas não identificá-los não sugere problema no imunizante. "Não quer dizer que a vacina não pegou", sustenta o médico, acrescentando que os vacinados contra a Covid-19 obtêm a imunidade completa depois de 14 dias de aplicação da segunda dose.
Outro argumento do infectologista para conter teorias antivacina é que, antes mesmo de ter iniciado a campanha de imunização contra a Covid-19 no país, já eram observados casos de pessoas que tinham sido infectadas pelo coronavírus e, nos exames laboratoriais, não era identificada a presença de anticorpos.
Professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e infectologista, Paulo Peçanha confirma essa situação, a partir de análises próprias.
Paulo Peçanha atesta que para os casos da doença, de pessoas comprovadamente com a Covid-19, a reação sorológica dá falso negativo em muitas situações e, por essa razão, não se poderia esperar nada diferente pós-imunização. "Antes de termos a vacina já verificávamos isso. Em 30% ou mais dos testes, o resultado é falso negativo. O teste negativo não significa que a vacina não está sendo eficaz."
A crescente procura por testes levou, inclusive, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) a emitir uma nota técnica, em março, na qual declara não recomendar a realização de sorologia para avaliar a resposta imunológica às vacinas contra a Covid-19.
Em um dos trechos do documento, a entidade destaca que "a complexidade que envolve a proteção contra a doença torna desaconselhável a dosagem de anticorpos neutralizantes com o intuito de se estabelecer um correlato de proteção clínica, pois certamente não se avalia a proteção desenvolvida após vacinação apenas por testes laboratoriais “in vitro” através da dosagem de anticorpos neutralizantes."
Esse aumento na demanda por testes depois da vacina, avalia Paulo Peçanha, pode ser uma tentativa das pessoas de encontrar justificativa para se expor mais. Isto é, se os anticorpos são detectados, elas se consideram aptas a circular mais livremente.
O professor e médico lembra, no entanto, que a vacina não exclui a necessidade de manter os protocolos de segurança, como uso de máscaras, distanciamento e higienização frequente das mãos, porque mesmo vacinada a pessoa pode se infectar e transmitir para quem não foi imunizado.
Além disso, há o risco das novas variantes, como a B.1.617 - conhecida como cepa indiana - contra as quais ainda não há certeza se as vacinas disponíveis são eficazes.
"As vacinas que dispomos hoje protegem com toda a certeza e os resultados são vistos em todo o mundo. Então, não recomendamos que as pessoas saiam em busca de testes para comprovar. Precisamos, sim, manter os cuidados (máscara, distanciamento, higienização), mesmo vacinados", finaliza.
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