Dos quatro imunizantes contra o Sars-Cov-2 (coronavírus) utilizados no país atualmente - Coronavac, Astrazeneca, Pfizer e Janssen - , três requerem a aplicação de duas doses para que a proteção seja considerada completa. Ainda assim, há quem não retorne para completar o esquema vacinal, o que torna as pessoas mais suscetíveis à doença, ainda mais em um contexto de surgimento de novas variantes da Covid-19.
A primeira dose garante apenas uma imunidade parcial e temporária, enquanto a segunda carga do imunizante não vem. Contudo, até esta proteção primária pode estar comprometida com o avanço da variante Delta, por exemplo.
Um novo estudo divulgado na quinta-feira (12), pela revista norte-americana New England Journal of Medicine, mostra que as vacinas da Pfizer e da Astrazeneca, por exemplo, oferecem uma proteção de cerca de 50% para a variante Alfa (inglesa) com apenas uma dose do antígeno.
A eficácia provisória cai para a faixa dos 30% a 35% diante da variante Delta (indiana), de acordo com a pesquisa. Após a segunda dose, a diferença entre os resultados do enfrentamento das variantes diminui de forma consistente. Assim, a aplicação do reforço é imprescindível.
Até a tarde desta quinta-feira (12), 2.098.094 capixabas já haviam recebido a primeira dose do imunizante, segundo painel da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Destas, 973.636, isto é, menos da metade, receberam o reforço, ou a vacina de dose única, e estão com a imunização completa.
Enquanto muitos ainda aguardam a abertura de agendamento para a segunda dose, há quem simplesmente não volte após a primeira aplicação do imunizante, o que, conforme observam especialistas, coloca não apenas esses pacientes em risco, como compromete a proteção coletiva. Isso porque enquanto não houver um percentual seguro da população imunizada, maior é a propensão de novas mutações, como a variante Delta e, mais recentemente, a Iota.
Nesta quinta-feira (12), cientistas brasileiros encontraram ainda uma nova versão da variante Gama, identificada no mês de janeiro, em Manaus (AM). Essa nova versão, que seria mais agressiva que a anterior, foi batizada de Gama-plus.
O doutor em Imunologia e professor de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gomes, explica que a vacina funciona da seguinte maneira: na primeira aplicação, os antígenos – que são parte do vírus – são injetados no músculo do braço. Com o contato do indivíduo com essas partículas microscópicas, o sistema imunológico começa a perceber que algo estranho está acontecendo com organismo.
A partir deste momento, leucócitos – células brancas – são recrutados para o local da aplicação da vacina, e parte deles vai se diferenciar em células de memória, capaz de "reconhecer" o vírus no futuro. Esse processo dura cerca de duas semanas e garante uma imunidade temporária, até a aplicação da segunda dose, que ocorre após um intervalo de tempo que varia de acordo com a marca da vacina aplicada.
Com a administração de uma nova dose, há uma potencialização das células de memória, que vão produzir uma resposta contra o vírus de forma mais rápida e mais potente.
No caso das vacinas contra a Covid-19 em uso no Brasil, a imunização só é considerada completa aproximadamente duas semanas após o recebimento da segunda dose, exceto o caso da Janssen. Diante disto, o especialista reforça que apenas após a nova aplicação o paciente é considerado realmente vacinado.
“Se a vacina é de duas doses e a pessoa toma só a primeira, não está protegida no longo prazo. Todos os índices de proteção das vacinas que conhecemos são estabelecidos com base na aplicação completa. Nem o fabricante garante a proteção após somente uma dose.”
Gomes observa que a primeira carga do imunizante traz alguma proteção, mas ela é pouco significativa pois garante imunidade somente por um intervalo curto de tempo. A segunda dose é a grande responsável por potencializar os efeitos.
Em até 97% das pessoas, as vacinas são capazes de impedir que o novo vírus cause a enfermidade de forma mais grave, mas não elimina todas as chances de contrair a doença. Pessoas com algum tipo de fragilidade no organismo podem ainda assim não conseguir conter o avanço do vírus. Contudo, é a melhor chance de proteção contra a doença, combinada com outros cuidados importantes, como afastamento social, higienização das mãos e uso de máscara.
Neste contexto, Gomes observa as quatro vacinas disponíveis no país são eficazes contra a Delta e as outras variantes já identificadas, mas que as mutações podem causar a redução do efeito protetor global. Por isso, a aplicação de uma dose única seria ainda mais preocupante.
Além do mais, enquanto não houver um percentual seguro de pessoas completamente imunizadas - que é estimado, hoje, entre 70% e 80% da população total - mais fácil é o surgimento de novas variantes do vírus. Isso porque, para surgirem, as mutações dependem da existência de pessoas contaminadas pelo vírus. Assim, quanto mais infectados, maior o risco de mutação.
A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, explica que, neste cenário, o Estado inclusive começou a reduzir o intervalo entre as doses de modo a garantir que mais pessoas tenham a imunização completa o quanto antes.
"Algumas vacinas, como Pfizer e Aztrazeneca, já na primeira dose tinham uma proteção maior, que era alavancada na segunda dose. Mas nesse cenário da variante Delta, a eficácia contra a infecção mudou significativamente, reduzindo a proteção. Por isso, em vários locais do Espírito Santo, está acontecendo uma redução de intervalo entre as doses, para que mais capixabas fiquem protegidos."
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