"Hoje é o dia da Ciência", comemorou o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, nesta quinta-feira (7), ao receber a informação da comprovação da eficácia de 78% para casos leves de infecção por coronavírus da vacina Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.
Além disso, a vacina também teve comprovadamente 100% de eficiência em casos moderador e graves, ou seja, aqueles que podem evoluir para internação. Outras vacinas que estão sendo produzidas ao redor do mundo garantem percentuais de eficácias diferentes: a Sputnik V, por exemplo, apresentou efetividade de 91,4%, de acordo com o governo russo.
Mas, afinal, o que significam as diferenças de percentual apresentadas pelas vacinas desenvolvidas contra a Covid-19? Vacinas com percentuais maiores de eficácia garantem maior imunização?
A reportagem de A Gazeta conversou com a professora da Ufes Ethel Maciel, pós-doutora em epidemologia, e com o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, doutor em doenças infecciosas, para entender como esses imunizantes atuam no corpo humano.
Primeiro, é preciso entender o que significa a famosa taxa de eficácia. Vacinas em estudos passam por três fases de testes e, na terceira etapa, quando elas são aplicadas em voluntários, é feito um monitoramento da eficácia do imunizante naquele grupo.
Uma vacina que apresenta 78% de taxa de eficácia conseguiu oferecer imunização efetiva para 78% das pessoas testadas, como é o caso da Coronavac, por exemplo.
Ainda segundo o Instituto Butantan, o Coronavac garantiu 100% de proteção para casos moderados e graves. Isso significa que não houve mortes, internações ou reações graves à vacina entre os testados.
Para que uma vacina seja considerada segura em relação a imunização, é necessário que apresente uma eficácia acima de 50%, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por isso, vacinas com percentual de efetividade entre 60% e 70% já são consideradas boas.
O médico infectologista Lauro Ferreira Pinto ressaltou, porém, que imunizantes com eficácias menores exigem um número maior de pessoas vacinadas.
"Segundo a Organização Mundial da Saúde e a FDA (a agência dos EUA que regula os medicamentos), qualquer vacina com mais de 50% de eficácia deve ter impacto na pandemia. A Pfizer, que é americana-alemã, por exemplo, tem eficácia acima de 90%. Claro que essa é a melhor eficácia e a que tem mais impacto. Uma vacina com eficácia de 60%, 70% exige a vacinação de um número muito maior de pessoas para ter um impacto de saúde pública", disse.
Lauro reiterou também que, como a demanda pela imunização ainda é maior do que a quantidade de vacinas disponíveis até o momento, pode ser adotada uma estratégia de vacinação com diferentes imunizantes para que uma maior parcela da população receba as doses o mais rápido possível.
"Como a gente tem menos vacina disponível do que a população, não tenho dúvida nenhuma de que teremos que trabalhar com várias vacinas com eficácias diferentes e, depois, se discute se vai vacinar de novo uma população que foi vacinada com um imunizante de menos eficácia. Mas, nesse momento, qualquer vacina superior a 50% é bem-vinda, porque é melhor que nenhuma vacina", afirmou.
Uma possível estratégia a ser adotada para imunização seria utilizar em grupos prioritários, como idosos e pessoas com comorbidades, uma vacina com maior percentual de eficácia e, nas pessoas teoricamente "mais saudáveis", aplicar os imunizantes com menor efetividade.
Para Ethel Maciel, porém, a questão principal que dificulta a adoção de vacinas diferentes é o problema operacional de transporte e armazenamento das doses.
"Neste primeiro momento, a estratégia será muito mais pela facilidade ou dificuldade da distribuição. Por exemplo, a vacina da Pfizer, que exige uma temperatura de -70ºC, fica mais difícil de distribuir no interior, então ela ficaria mais concentrada nas capitais. Acho que nesse primeiro momento, devido à dificuldade operacional, a regionalização ou a indicação de vacinas para um grupo ou outro será mais do ponto de vista operacional, principalmente dessa parte de refrigeração", ponderou.
Ethel avalia que, para que o vírus pare de circular, no mínimo 70% da população deve ser imunizada. Ela afirma que a partir desse percentual é possivel conquistar a imunização de rebanho.
"Por exemplo, se 80% da população é imune a um vírus, quatro em cada cinco pessoas que encontram alguém com infectado não ficam doentes e não espalham mais a doença. Dessa maneira, a disseminação de doenças infecciosas é mantida sob controle. Dependendo da capacidade de contágio de uma infecção, é preciso que 70% a 90% da população esteja imune para que possamos obter a imunidade do rebanho", explicou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta