A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, nesta sexta-feira (5). que a Covid não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Esse é o mais alto alerta do órgão, declarado para o surto do novo coronavírus no final de janeiro de 2020, que depois de mais de três anos deixou cerca de 7 milhões de mortes em todo o mundo. Dessas, 700 mil só no Brasil.
A decisão dos especialistas do órgão, no entanto, não altera o título de pandemia, que só foi declarado meses mais tarde, em março do mesmo ano.
No entanto, o fim da emergência global não quer dizer fim da pandemia. De acordo com a OMS, a decisão desta sexta-feira pode significar que a colaboração internacional ou os esforços de financiamento também serão encerrados ou mudarão de foco, apesar de muitos já terem se adaptado à medida que a pandemia recuou.
Já pandemia, segundo a organização, é a disseminação mundial de uma nova doença. O termo é usado quando uma epidemia, surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa, como ocorreu com o SARS-CoV-2.
"Ontem (quinta), o Comitê de Emergência se reuniu pela 15ª vez e me recomendou que eu declarasse o fim da emergência de saúde pública de importância internacional. Aceitei esse conselho. É, portanto, com grande esperança, que declaro a Covid-19 como uma emergência de saúde global. No entanto, isso não significa que a Covid-19 acabou como uma ameaça à saúde global. Na semana passada, a Covid ceifou uma vida a cada três minutos — e essas são apenas as mortes que conhecemos", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, durante o anúncio.
A indicação de que uma doença representa uma emergência de saúde global se dá por um comitê formado frente a uma possível ameaça. Os membros desse conselho se reúnem e aconselham o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, se a situação representa ou não uma emergência a nível global.
No caso da Covid, isso ocorreu em 30 de janeiro de 2020. Desde então, os membros do comitê mantinham a posição de que a infecção continuava representando um risco mundial. Isso mudou somente com a última reunião, ocorrida nesta quinta (4), em que o grupo observou que a doença não representa mais uma preocupação para a saúde pública a nível mundial.
O resultado do contato com a Covid-19 foi a mais devastadora pandemia deste século até agora, responsável por desencadear uma espécie de viagem no tempo epidemiológica — rumo ao passado.
Pela primeira vez desde o começo do século 20, uma das principais causas de morte em países ricos voltou a ser uma doença infecciosa. O mesmo aconteceu em países como o Brasil, nos quais, apesar da desigualdade social, a maior parte das moléstias transmissíveis também tinha sido vencida ou contida.
Em boa parte do mundo, a expectativa de vida chegou a diminuir: pouco mais de dois anos de vida a menos no caso de americanos do sexo masculino, de acordo com um estudo publicado em fevereiro de 2022. Os dados mais conservadores, com testes que detectaram diretamente a ação do vírus, indicam que 6,5 milhões de pessoas morreram de Covid-19 até outubro de 2022. Dessas, quase 700 mil eram brasileiras.
O número real, porém, pode ser muito maior. Quando são computadas as chamadas mortes em excesso — ou seja, as que superam o que seria esperado segundo tendências normais de mortalidade, sem a pandemia- as vítimas da doença poderiam chegar a 15 milhões.
Segundo a hipótese aceita pela grande maioria da comunidade científica, o Sars-CoV-2 passou a ter acesso a essa multidão global de novos hospedeiros seguindo um script bem conhecido. Todas as principais pistas apontam para uma gênese da pandemia num dos "mercados molhados" de Wuhan — um local onde mamíferos silvestres vivos e sua carne ficavam em contato com animais domésticos e pessoas.
Concentrações de casos se fizeram notar na cidade chinesa a partir de novembro de 2019, e alguns médicos da região logo alertaram as autoridades de saúde sobre os riscos daquele cenário. Alguns deles, no entanto, chegaram a ser punidos pelo alarmismo, e medidas mais sérias de controle demoraram a ser implementadas.
Wuhan é uma metrópole de 11 milhões de pessoas e um movimentado centro de viagens aéreas e por trens de alta velocidade. Em dezembro e na primeira metade de janeiro de 2020, a inexistência de barreiras severas ao deslocamento permitiu que a doença se espalhasse pela China e já começasse a atingir outros países, embora o primeiro caso brasileiro só fosse confirmado no fim de fevereiro daquele ano. A partir daí, a pandemia se tornou muito difícil de conter.
O desastre só não foi maior por causa da mobilização sem precedentes da comunidade científica mundial contra a Covid-19, potencializada por investimentos públicos da ordem de dezenas de bilhões de dólares. Em poucos meses, pesquisadores desvendaram detalhes do ciclo de transmissão e replicação (grosso modo, "reprodução) de um vírus antes desconhecido.
Testes de medicamentos já existentes e o desenvolvimento de novos fármacos aconteceram em tempo recorde, um esforço que culminou com a aprovação das primeiras vacinas contra a doença no começo de dezembro de 2020, um ano depois dos primeiros casos em Wuhan. As imunizações se mostraram seguras e eficazes para proteger a população contra internações e mortes, embora não tenham sido capazes de deter a transmissão do vírus até agora.
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