Coco, morango, chocolate, milho... Vários eram os sabores de picolé que a aposentada Maria da Penha de Castro Pereira, de 105 anos, produzia e vendia em um comércio localizado em Maruípe, Vitória. Por décadas, essa foi a principal função da idosa, que a tornou conhecida na região e cuja história relembrou em entrevista para A Gazeta. Assim como a colega centenária de Jardim da Penha, ela pode ser considerada patrimônio vivo do próprio bairro.
Nascida em outubro de 1918 em Nova Almeida, Serra, dona Penha teve uma infância aplicada e era vista como uma das melhores alunas da turma. Conseguiu se formar, no entanto, apenas no primeiro grau. Aos 18 anos, casou-se com Climério Francisco Pereira Pinto, com quem ficou por mais de seis décadas, até a morte dele em 2002. O marido era do ramo comercial e, por isso, também entrou no mundo do empreendedorismo. Da união nasceram quatro filhos: Enoque, Marina, Climar e Marta.
O caçula deles, o pastor Enoque de Castro, de 71 anos, tem muito orgulho de contar sobre a trajetória da mãe. Segundo ele lembra, outro "braço" importante para os negócios da família era a pesca. A loja aberta por eles em Nova Almeida, que terminou na região de Maruípe, vendia quase tudo – desde tecidos até tonéis de gasolina.
"Na época, não era tão comum termos grandes comércios de cada segmento, então vendíamos tudo. Aqui ficava uma fila imensa. Ela acordava 3h30, 4 horas da madrugada, para fazer picolé, porque a demanda era muito grande. Havia muitos meninos com isopor vendendo nas praias, e eles pegavam tudo aqui. Mamãe era a famosa ‘Dona Penha do picolé’. Ela foi pioneira em cobertura de chocolate na cidade", relembra.
A famosa fábrica de picolés ficava perto da hoje Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Suzete Cuendet, em Maruípe. Um segundo local importante para as vendas da família foi na Avenida Marechal Campos, já na altura dos bairros Consolação e Bonfim.
Outra atividade que a idosa desempenhou, mas desta vez sem visar qualquer retorno financeiro, foi ensinar crochê a quem tivesse interesse. De forma totalmente voluntária, impactou, então, na geração de renda de muitas pessoas. "Toda a vida eu trabalhei no comércio, fui comerciante. Mas o pessoal me chamava para ensinar a bordar, a fazer crochê. Eu adorava. Não vendia, não, mas sempre mexi muito com artesanato", conta Penha.
No dia a dia
Embora atualmente possua dificuldades de locomoção, obrigando ela a ficar mais reclusa em casa, a idosa procura sempre se ocupar com diferentes atividades no dia a dia. Entre algumas delas, estão cuidar de plantas e dos afazeres domésticos, além de cantar – as músicas que ela mais gosta, inclusive, são aquelas que bombavam no Carnaval, as tradicionais ''marchinhas''.
"Faço algumas coisas ainda. Não é tudo, mas alguma besteira eu faço. Eu gosto muito de planta. Às vezes eu cuido, mas brigam comigo, porque saio sozinha e vou lá olhar elas (risos). Assisto televisão também. Gosto muito. Aprecio mais os [programas] evangélicos", afirmou.
Segredo de uma vida longa
Perguntada sobre o "segredo" de tamanha vitalidade, dona Penha não hesita em responder: a fé em Deus, que caminha ao lado de todo o carinho que recebe da família. "Tenho esperança de que eu vou viver mais uns meses. Minha idade foi dada por Deus, e eu sou muito grata por ela".
Os 105 anos da aposentada foram comemorados em 2023 na própria casa dela, com a presença de mais de 30 familiares. A idosa possui oito netos, 10 bisnetos e quatro tataranetos. "Eu me senti muito querida por eles. Querem tudo de bom para mim. Eu gosto de ver a família reunida. Eu chamo, telefono para eles virem para cá conversar comigo, e me dão muita atenção", disse.
Conforme explicou Enoque, a genética da família também é diferenciada e pode ter contribuído para o centenário de dona Penha. A mãe dela chegou até aos 107 anos, segundo afirmou o pastor, e a irmã, viva até hoje, possui 98.
Maria da Penha de Castro Pereira
Aposentada
"Não imaginava que fosse chegar nessa idade. Pensava que eu ia embora logo. Só que Deus não quis, né? Então estou aqui até agora. Até quando ele quiser. Mas já vivi demais; depois vou deixar com vocês"
Muita saúde e doses extras de vida para Dona Penha!
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