Durante a semana, Adam Cristian Shcmitz Dias trabalha como escrivão na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica, redigindo documentos que vão colaborar para as investigações de assassinatos, por exemplo. Mas, aos fins de semana, ele deixa a função na Polícia Civil para encarar outra missão: a de fotografar casamentos — o momento do tão esperado "sim" e um dos momentos mais felizes da vida dos noivos.
As duas funções, que à primeira vista parecem tão antagônicas, são conciliadas por Adam desde 2013. O policial civil garante que essa dualidade é extremamente positiva para ele, assegurando ter certo equilíbrio no dia a dia. "Durante a semana eu sofro um pouquinho, mas, no sábado eu compenso", admite.
Adam Cristian Shcmitz Dias
Escrivão e fotógrafo
"Na DHPP (de Cariacica) trabalho com momentos muito ruins. Ouço sempre pai, mãe e irmão que perderam familiares. Acabamos absorvendo um pouco da dor e isso é compensado aos fins de semana, porque o casamento é um momento de grande felicidade"
Nascido no Rio Grande do Sul, ele conta que a fotografia surgiu como um passatempo, principalmente nas viagens à cidade de Gramado, para as quais sempre levava a câmera. Aos poucos, ele passou a registrar aniversários e casamentos de pessoas conhecidas, até que surgiu o primeiro trabalho, já no Espírito Santo.
Embora seja gaúcho, Adam se mudou para o Estado quando tinha apenas três anos. "Já sou naturalizado capixaba", brinca. O convite inicial para fotografar profissionalmente veio quando ele ajudou outro fotógrafo no casamento da prima da esposa, realizado no município de Afonso Cláudio, na Região Serrana capixaba.
A partir daquele momento, os trabalhos com a máquina nas mãos só aumentaram: os oito casamentos em 2013 viraram 21 no ano seguinte. Em 2015, o número já havia saltado para 54. Hoje em dia, Adam conta com uma equipe composta por três profissionais e a fotografia passou a ser a principal fonte de renda dele.
Do início dessa jornada, ele destaca fotos feitas em Vila Velha, de um casal cujo noivo era norte-americano. "Ele era muito tímido e eu acabei fazendo amizade. Como eles iam casar também nos Estados Unidos, a esposa não quis arriscar com uma nova empresa. Foi em Baltimore, em um castelo muito bonito", lembra o escrivão e fotógrafo sobre o trabalho feito pela equipe.
De lá para cá, a equipe de Adam percorreu vários países, como México, Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Itália, Canadá, Grécia e Emirados Árabes. Devido ao trabalho na DHPP de Cariacica e a outros compromissos, ele nunca saiu do país para fotografar, o que não significa que tenha feito poucas viagens.
Fotos e amor ao redor do mundo
No Brasil, Adam já registrou casamentos nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná e São Paulo, além, claro, do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo. Em território capixaba, o policial civil afirma que o lugar favorito dele é também um local queridinho dos turistas: Pedra Azul, em Domingos Martins.
Adam Cristian Shcmitz Dias
Escrivão e fotógrafo
"Eu gosto muito de fotografar em Pedra Azul. Como o cenário é muito bonito, seguro e com as temperaturas amenas, os noivos tendem a achar que estão passeando. Ficam mais confortáveis e espontâneos"
Justamente no distrito é que Adam fez um ensaio que o marcou. "Era um casal de engenheiros do Rio de Janeiro que agendou as fotos para a terça-feira anterior ao casamento. Ou seja, não dava para remarcar. Cheguei lá e estava com uma garoa fina e, na cabeça deles, não ia ter como fazer fotos boas", conta.
"Os noivos eram a mais autêntica expressão da derrota humana. Estavam arrasados, mas brinquei que eu era igual o Ayrton Senna, melhor na chuva. O meu colega segurou o guarda-chuva sobre eles e só tirava na hora do clique. Ao todo, fiz 80 fotos e eles ficaram felizes. A experiência foi inesquecível", completa.
Outro ensaio feito em 2016 também disputa espaço na memória e no coração do fotógrafo, mas por um motivo diferente. "Eu cheguei no ponto de encontro em Aracruz e os noivos haviam acabado de brigar. Estavam um de frente para o outro, os dois com os braços cruzados e de pé", lembra Adam.
Conversando sobre aviação, ele conseguiu conquistar a simpatia do noivo, que era piloto. "O noivo costuma ser o mais resistente durante os ensaios, mas quando pedi para o casal sentar em um matinho, a noiva é que ficou com medo e ele que começou a insistir para fazer a foto. Isso me marcou muito", diz.
Devido à pandemia do novo coronavírus, Adam também viu — assim como milhares de empreendedores da área de eventos — a procura pelos serviços diminuir. Com a baixa demanda, dois funcionários deixaram a equipe, que chegou a ser composta por seis profissionais em 2019, auge da empresa.
No entanto, agora que mais da metade da população capixaba já foi parcialmente imunizada contra a Covid-19, ele comemora a agenda ocupada até o início de dezembro, mas garante que, ainda assim, não pretende largar a carreira na Polícia Civil do Espírito Santo, onde já está prestes a completar 15 anos.
Casamentos de Norte a Sul do ES
ENTRADA NA POLÍCIA TAMBÉM FOI QUASE POR ACASO
Aos 46 anos, Adam conta que trabalhava como advogado tributarista em um escritório de Vitória e não tinha nenhuma pretensão de virar policial. Porém, a namorada da época estava na pós-graduação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), prestava concursos e o incentivou a fazer o mesmo.
"Eu fiz sem estudar e só soube que tinha passado porque a secretária de onde eu trabalhava viu meu nome na lista de aprovados e me avisou quando cheguei ao serviço. Naquele momento, já era a convocação para o teste físico, que seria realizado na semana seguinte", relembra sobre a reviravolta em 2005.
Coincidência ou não, foi nessa avaliação que ele conheceu a esposa — que também é escrivã, mas na Delegacia Especializada de Segurança Patrimonial. Após anos de namoro, eles se casaram em 2013 em Vila Velha. Neste caso, Adam é que foi fotografado, em um dos momentos mais felizes da vida dele.
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