Educação na pandemia: veja o que está em jogo sobre a volta às aulas no ES
Enquanto é aguardado que o governo do Estado anuncie quando deverá ocorrer a retomada das aulas presenciais no Espírito Santo, confira os principais pontos que vem sendo discutido sobre o assunto
Publicado em 25 de agosto de 2020 às 20:22
0min de leitura
Sala de aulas estão vazias durante a pandemia. (Freepik)
A data de retorno às aulas presenciais ainda não foi definida pelo governo do Estado. Nesta terça-feira (25) o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, informou que ainda não há como confirmar quando as atividades poderão ser retomadas. Estamos amadurecendo o tema com o segmento escolar", disse.
O setor privado, capitaneado pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), garante que as instituições privadas já estão aptas para o retorno imediato, no dia seguinte ao anúncio do governo.
A situação é diferente com as escolas públicas, onde o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), que representa os professores, aponta que a infraestrutura das unidades não está adequada e nem os professores estão preparados para o risco a ser enfrentado. Dúvida também compartilhada pelos pais.
Ainda não há data prevista para a retomada das atividades. Em coletiva nesta terça-feira (25), o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, informou que ainda não há como confirmar quando serão retomadas as aulas. Estamos amadurecendo o tema com o segmento escolar", disse.
Alguns setores, como o Sindiupes, apontam que seria necessário pelo menos 15 dias após o anúncio para o retorno às atividades.
O Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES) garante que as escolas particulares podem retornar no dia seguinte ao anúncio e que as instituições já estão preparadas.
Segundo protocolo elaborado em conjunto pelas secretarias de Saúde (Sesa) e da Educação (Sedu), o retorno das atividades presenciais deverá ocorrer de forma gradual, em etapas e com revezamento, mas sem detalhar como e quando acontecerá.
Há dificuldades de infraestrutura, anteriores à pandemia, presentes nas escolas da rede pública. O Sindiupes aponta que há unidades da rede sem boas condições de abastecimento para garantir as medidas de higiene e limpeza recomendadas.
A interação entre professores e alunos, principalmente os menores, da educação infantil, onde é difícil conter às crianças, é outro problema apontado pelo Sindiupes.
Há ainda os riscos decorrentes dos municípios que ainda estão em situação de risco, como é o caso das cidades com curva epidemiológica em ascensão, aponta a Undime.
Um novo fechamento das escolas se for constatado aumento significativo dos casos.
EXIGÊNCIAS DO ESTADO PARA RETORNO
Protocolo elaborado em conjunto pelas secretarias de Saúde (Sesa) e da Educação (Sedu), e que valem para as redes de ensino pública e privada.
Salas de aula deverão ter um limite de capacidade para receber os alunos para garantir o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre as pessoas.
Espaços de uso comum, como banheiros e refeitórios, precisam ser estruturados de modo a também manter o afastamento necessário.
As instituições de ensino devem promover, junto a toda comunidade escolar, os cuidados com a higiene pessoal.
Escolas devem reforçar a higienização dos ambientes e oferecer produtos para limpeza, como soluções com álcool 70% e kits para assepsia das mãos nos banheiros, com sabonete líquido, toalhas de papel e lixeiras com tampa que dispensem o contato manual.
Deve-se evitar o uso direto de bebedouros e, em algumas escolas particulares, a orientação será para cada aluno levar sua própria garrafinha ou copo reutilizável.
As salas de aula devem ter apenas ventilação natural, mantendo janelas e portas sempre abertas.
Deverá ser suspensa a utilização de brinquedos e outros materiais de uso compartilhado, bem como brinquedos de difícil higienização.
Foram suspensas atividades que provoquem aglomeração de pessoas, tais como seminários, grupos de estudos, tutorias, excursões, visitas técnicas, feiras de cursos, confraternizações e eventos.
Também ficam proibidas atividades esportivas coletivas, teatro e dança.
Ainda será motivo para suspensão imediata das aulas a falta de material para a higiene pessoal, como preparações à base de álcool 70%, sabonete líquido, toalhas de papel ou outros produtos de higiene.
O uso de máscara é obrigatório para todas as pessoas que ingressam no ambiente escolar, e contato físico como abraços, beijos e aperto de mão devem ser evitados. Alunos e trabalhadores não devem ir à escola se apresentarem qualquer sintoma gripal.
As escolas também deverão adotar um protocolo para os casos suspeitos de Covid-19. Quem apresentar pelos menos dois sintomas será orientado a permanecer em casa e a escola terá que comunicar o fato ao sistema de saúde. Haverá ainda protocolos de isolamento, inclusive para familiares.
Independente das especificações de cada instituição, todas elas estarão sujeitas às ações de fiscalização da Vigilância Sanitária ou de outros órgãos de fiscalização.
Salas de aula terão que se adequar aos protocolos. (Freepik)
GRUPO DE RISCO NÃO PODE RETOMAR ATIVIDADES
A liberação da frequência às escolas também está relacionada ao perfil de estudantes e profissionais, e os que forem considerados de grupo de risco terão uma atenção diferenciada.
Para os trabalhadores, as escolas devem providenciar o remanejamento de função, trabalho remoto, flexibilização do local e do horário da atividade, ou outra medida possível que resguarde sua condição de saúde.
Para os alunos, a recomendação é a manutenção das aulas remotas, embora o retorno possa ser autorizado numa decisão conjunta da família e um médico responsável para dar um laudo.
Estão no grupo de risco as pessoas com idade superior a 60 anos; crianças menores de cinco anos; população indígena aldeada; mulheres gestantes ou em puerpério; pessoas com quadro de obesidade (IMC>40), diabetes, imunossupressão, doenças cardiovasculares, doenças pulmonares preexistentes, doença cerebrovascular, doenças hematológicas, câncer, tuberculose, nefropatias, ou que fazem uso de corticoides ou imunossupressores; e menores de 19 anos com uso prolongado de ácido acetilsalicílico (AAS).
COMO FICA O CALENDÁRIO ESCOLAR?
Depois do protocolo de biossegurança elaborado pelo Estado, a Sedu também publicou uma portaria que reorganiza o calendário escolar de 2020.
No documento, ficou definido que as aulas seguirão até 23 de dezembro, prazo em que será possível completar as 800 horas letivas, o mínimo exigido na legislação.
A medida vale para as redes estadual e municipais. Na rede privada, entretanto, o calendário ainda não está consolidado.
O Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES) informou que, enquanto não houver definição para o retorno às atividades presenciais, as instituições não terão condições estabelecer a data final do ano letivo.
A rede estadual vai adotar o chamado continuum curricular, que nada mais é do que reordenar a programação do currículo dos anos letivos de 2020 e 2021, resultando em aumento dos dias letivos e da carga horária do próximo ano, para cumprir, de modo contínuo, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento previstos anteriormente à pandemia.
A medida não se aplica aos estudantes das séries finais de cada ciclo: 5º e 9º anos do ensino fundamental, e 3º série do ensino médio.
Para o Sinepe, o currículo continuado pode ser uma alternativa para algumas instituições, que têm autonomia para decidir as estratégias que vão adotar para compensar eventuais prejuízos decorrentes da pandemia.
Segundo Sinepe, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu parecer em que autoriza as escolas a implementar a medida. Avalia que transferir a carga horária do currículo de 2020 para 2021 é mais justo na aferição dos resultados.
Com a decisão de adotar um currículo continuado, para o biênio 2020-2021, as avaliações dos estudantes não vão resultar em reprovação neste ano, pois o ciclo de aprendizagem será concluído apenas no próximo.
O desempenho dos alunos continuará sendo analisado e, se não houver bom aproveitamento dos conteúdos, poderão ser reprovados em 2021.
Na rede particular, não existe uma determinação sobre o assunto, embora também haja um parecer do CNE recomendando que as escolas não reprovem os alunos em 2020. Segundo Sinepe, é uma decisão que caberá a cada instituição.
A maior dificuldade está relacionada aos protocolos para a educação infantil.
A equipe da Saúde indicou que as crianças com menos de 5 anos são do grupo de risco e, por isso, não deveriam retornar. A medida não foi aceita pela Undime e nem pelo Ministério Público Estadual.
Para Undime, os municípios (que são responsáveis pela oferta de vagas na educação infantil), devem se posicionar para que esse público não fique sem amparo.
Undime defende que haja protocolo para a volta às aulas na educação infantil. E relata que os municípios já estão se preparando para este momento, sobretudo com a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e outros itens de biossegurança, tais como máscaras para alunos e professores, totens para instalação de álcool em gel e tapetes sanitizantes.
O presidente da Undime lembra que, no setor público, o processo de compras é mais lento, passa por licitação, e deixar para realizá-lo somente quando sair o protocolo pode atrapalhar a volta às aulas.
Para o Sinepe, os alunos que são atendidos nesse segmento não deveriam ficar sem a possibilidade de retorno às atividades presenciais.
O sindicato acredita que o tempo de afastamento das crianças das escolas está provocando uma série de prejuízos, tanto para alunos da rede pública quanto da rede privada, e que a manutenção deles em casa já não é tão efetiva quanto no início da pandemia.
Apontam que já existe uma enorme circulação dessas crianças em espaços de recreação ou a casa de alguém conhecido da família porque os pais precisam trabalhar presencialmente; estão em parques e praias.
Avaliam que dentro da escola, é possível controlar melhor, com o uso de EPIs, com a preparação do ambiente.
Sinepe diz que o retorno, quando estiver autorizado, será feito gradualmente, com grupos menores de alunos e outras medidas para distanciamento e redução de fluxo de pessoas, e assim oferecer mais segurança a toda a comunidade escolar.
ENSINO SUPERIOR
A maior parte das instituições particulares estão com aulas em formato telepresencial.
Estão se preparando para o retorno das atividades presenciais, dando opção aos alunos que desejarem, manterem o modelo telepresencial.
Medidas adotadas de segurança: limite de alunos por sala; horários diferenciados de intervalo para evitar aglomerações; desinfecção constante de pontos de contato, tais como maçanetas, teclados e corrimãos; instalação de tapete sanitizante nas portarias; dispensadores de álcool em gel nos locais de circulação e na entrada das salas de aula; uso de máscara obrigatório; e aferição de temperatura. Professores e funcionários foram treinados para cumprir com os procedimentos de prevenção ao contágio do coronavírus e orientação dos alunos.
O retorno às atividades presenciais deverá ser escalonado e terá intervalos de aulas diferenciados para os cursos.
As escolas particulares receberam uma cartilha, elaborada pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), com protocolos que deverão ser adotados para que possam retomar as atividades presenciais.
Embora queiram o retorno às atividades, o documento recomenda que sejam mantidas atividades remotas e a volta ocorra de maneira gradual.
Há protocolos específicos para os espaços físicos das unidades, como organizar a estrutura de forma a manter os alunos a uma distância mínima de 1 m² entre si e as demais pessoas, em todas as atividades presenciais, inclusive do professor.
Nas salas de aula, as carteiras que vão ser usadas deverão ser identificadas, e a classificação pode ser feita por cores.
Na educação infantil, onde houver uso de mesas compartilhadas, a recomendação é para que as crianças sejam colocadas sentadas em cadeiras intercaladas.
Se for inevitável utilizar o refeitório, determinar horários separados para cada turma ou conjunto, de acordo com a capacidade, sempre assinalando os lugares disponíveis e indisponíveis.
Também há protocolos relacionados ao comportamento dos usuários do ambiente escolar. E uma das regras é a de orientar quanto à importância e necessidade da higienização das mãos de todos aqueles que comparecerem às atividades presenciais, no momento da chegada, antes de se alimentar e no retorno à sala de aula.
Foram estabelecidas, ainda, medidas emergenciais em caso de contágio, e uma delas é ter uma sala específica para acolhimento de casos suspeitos de Covid-19 até a chegada de responsável. Nessa situação, toda a turma deve ser isolada por 7 dias.
Uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool em gel e aferição de temperatura fazem parte do kit padrão
para evitar a contaminação no ambiente escolar.
Algumas escolas vão orientar os pais a deixarem seus filhos na entrada sem demora, respeitando o distanciamento e as recomendações dos funcionários para evitar aglomeração.
Há orientações para que os intervalos e recreios sejam intercalados. Há em algumas escolas o estímulo a compra do lanche on-line, evitando-se a cantina, e o consumo dentro da sala de aula, mantendo assim a distância recomendada.
Em algumas escolas, não será liberada a entrada de pessoas sem máscara, mesmo que apenas no estacionamento.
Professores, disciplinares, porteiros e funcionários da secretaria, tesouraria, recepção e limpeza, além das máscaras, também farão uso do face shield (proteção facial de acrílico) em algumas unidades.
Outras medidas preventivas anunciadas por algumas escolas: aferição de temperatura, horários escalonados, treinamento de profissionais, uso de máscara e kit de higiene obrigatório. Os bebedouros estarão disponíveis apenas para reabastecimento das garrafinhas individuais.
O uso de ambientes comuns, como as bibliotecas, será restrito e os parquinhos e pátios serão utilizados com horários escalonados e higienizados diversas vezes ao dia. Foram suspensas atividades que aglomeram pessoas.
Professores da rede de ensino municipal estão recebendo cursos de formação, qualificação e até tratamento psicológico para atuarem quando o retorno das atividades escolares for autorizado.
Para o Sindiupes, que representa a categoria, ainda é cedo para a retomada das atividades, o que colocaria em risco a vida dos alunos e dos profissionais.
DÚVIDAS DOS PAIS
Este vídeo pode te interessar
Como evitar aglomerações dentro de vans, topics e ônibus?
Máscaras incomodam adultos, que com frequência levam a mão ao rosto para arrumar. Imagina crianças e adolescentes?
Testagem de alunos, famílias e profissionais de educação, deslocamento até a escola, ônibus e transporte escolar cheios, hora do recreio, alunos e profissionais com comorbidades, alunos e profissionais que têm em casa pessoas idosas ou familiares com comorbidades, como ficam?
As escolas não têm estrutura nem do básico, muitas vezes falta até papel chamex?
Como controlar 18, 20 crianças e adolescentes, que não ouvem ninguém, que às vezes nem estão notando que tão perto demais ou nem têm a noção do verdadeiro perigo?
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais
rapido possível!
Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta