A falta de chuva tem causado prejuízos diversos, como morte de gado, queda na produção leiteira, perda de pastagens e de lavouras, além de elevar o número de ocorrências de incêndios em diversos municípios do Estado, sobretudo na Região Sul capixaba.
Segundo o último Monitor de Secas da Agência Nacional de Água (Ana), 47 cidades do Espírito Santo enfrentam seca moderada, com possibilidade de “alguns danos às culturas, pastagens; córregos, reservatórios ou poços com níveis baixos, algumas faltas de água em desenvolvimento ou iminentes; e restrições voluntárias de uso de água”. Os outros 31 municípios enfrentam seca fraca.
Afonso Cláudio, Alegre, Alfredo Chaves, Anchieta, Aracruz, Atílio Vivácqua, Baixo Guandu Brejetuba, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Colatina, Conceição do Castelo, Divino de São Lourenço, Domingos Martins, Dores do Rio Preto, Fundão, Guarapari, Ibatiba, Ibiraçu, Ibitirama, Iconha, Irupi, Itaguaçu, Itapemirim, Itarana, Iúna, Jerônimo Monteiro, João Neiva, Laranja da Terra, Marataízes, Marechal Floriano, Muniz Freire, Muqui, Piúma, Presidente Kennedy, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, São Roque do Canaã, Serra, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Viana, Vila Velha e Vitória
Água Doce do Norte, Águia Branca, Alto Rio Novo, Apiacá, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Bom Jesus do Norte, Conceição da Barra, Ecoporanga, Governador Lindenberg, Guaçuí, Jaguaré, Linhares, Mantenópolis, Marilândia, Mimoso do Sul, Montanha, Mucurici, Nova Venécia, Pancas, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, Rio Bananal, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, São José do Calçado, São Mateus, Sooretama, Vila Pavão e Vila Valério.
Diante do cenário de escassez hídrica, o Governo capixaba, por meio da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), decretou estado de atenção em agosto e recomendou a adoção de medidas visando à economia de água.
O diretor-presidente da Agerh, Fábio Ahnert, reforça que o alerta ainda se mantém e observa que o mundo tem experimentado uma série de mudanças climáticas que afetam a dinâmica de chuvas nos mais diversos locais, inclusive no Espírito Santo.
“São situações de anomalia. A chuva pode vir abaixo ou acima do esperado. No Estado, estamos vivendo, atualmente, o período de secas. O período entre abril e setembro é um período de estiagem usualmente, mas tivemos uma situação neste ano que foi um volume de chuvas menor que o usual em março, o que impactou a dinâmica do período de estiagem.”
Além disso, ele pontua que o clima também tem sofrido impactos do La Niña, um fenômeno natural que provoca um resfriamento cíclico de áreas do Oceano Pacífico equatorial, afetando padrões climáticos em todo o mundo.
Trata-se de um evento que geralmente ocorre em intervalos irregulares de tempo, mas, conforme alerta da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano de 2022 deve se firmar como o terceiro ano seguido em que o fenômeno é percebido — uma ocorrência inédita até então e que deve continuar ocasionando seca e inundações em todo o mundo.
O La Niña é o movimento oposto ao El Niño — que provoca aumento anormal na temperatura das águas e também afeta o clima globalmente.
Por conta das dimensões continentais do território brasileiro, que resulta em uma grande diversidade climática, os efeitos dos fenômenos também variam conforme a área. No Sudeste brasileiro, onde está inserido o Espírito Santo, o El Niño tende a provocar chuvas fortes e, quando incide durante o inverno, pode contribuir para elevação das temperaturas. Já o La Niña tem efeitos imprevisíveis nessa região.
Ahnert explica que essa combinação de fatores tem contribuído para queda na qualidade da pastagem, o que impacta, por exemplo, na produção leiteira, pois limita a quantidade de pasto disponível para alimentar o gado.
“Infelizmente, tivemos a perda de alguns rebanhos, a produção leiteira diminuiu um pouco. É um dos impactos do que caracterizamos mais como seca agrícola, não é necessariamente uma questão de seca nos rios. Não temos nenhum município, no presente momento, com risco de desabastecimento, por exemplo. ”
Conforme explicou o meteorologista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Ivaniel Foro Maia, o cenário de seca observado em 2022 está dentro das situações consideradas normais nos últimos 30 anos.
Maia observa que a parcela litorânea do Estado, embora também apresente déficit de chuvas, encontra-se em situação menos crítica em função das frentes frias frequentes.
“Chove pouco, mas não se compara à situação de lugares como Itapemirim, Cachoeiro, Muqui, Alegre, Muniz Freire, entre outros municípios, em que a água que cai não é suficiente para deixar o solo úmido e a vegetação perde o vigor muito rápido.”
O PHD em Engenharia de Recursos Hídricos e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Antônio Sérgio Mendonça esclarece que problemas de escassez hídrica são cíclicos e que, em geral, tendem a se agravar nesta época do ano, que marca a transição de um período seco para um período chuvoso.
“Em anos normais, temos um semestre chuvoso, que vai de outubro até março, mais ou menos, e um semestre seco, de abril a setembro. A seca tende a ser mais frequente no final desse período, entre agosto e setembro. Estamos em uma situação próxima da normal no Espírito Santo. Às vezes, a gente esquece, mas é um problema frequente nesta época e é uma situação para a qual o homem do campo deveria estar preparado, porque daqui a três, quatro anos pode ocorrer novamente, da mesma forma ou até mais grave, como entre 2014 e 2016.”
O especialista frisa ainda que o Espírito Santo conta com alguns instrumentos de controle importantes, que são o Plano Estadual de Recursos Hídricos e o Plano de Bacias Hidrográficas, ambos utilizados para acompanhamento do cenário, bem como desenvolvimento de ações para manutenção e/ou a recuperação de bacias hidrográficas.
“Ter reservatórios pode ajudar em momentos de escassez, mas são medidas paliativas. A maior reserva de água não é construída pelo homem, ela está no subsolo. Em 2014, por exemplo, houve vários meses sem chover, mas ainda havia água nos rios porque a chuva havia se acumulado nos anos e décadas anteriores.”
Nesse contexto, Mendonça destaca que é importante realizar obras estruturais, mas também o reflorestamento e o controle do desmatamento de modo a garantir a continuidade desse ciclo.
“Quando se tem uma vegetação sobre o solo, a chuva infiltra e alimenta o lençol subterrâneo, que é a reserva que a gente tem quando não está chovendo. Então, todas essas ações, inclusive de fiscalização, são importantes.”
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta