Sem medicamento ou vacina específicos para a cura da Covid-19, a principal receita para evitar o contágio pelo novo coronavírus é o distanciamento social. Neste sábado (23), o Espírito Santo contabiliza quase 10 mil casos confirmados da doença e mais de 400 mortes.
Nos casos de contaminação, como os pacientes são tratados nos hospitais?
Quando não há necessidade de internação, os pacientes são tratados em pronto-socorro ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Eles recebem prescrição médica e cumprem o isolamento social de 14 dias. Para garantir o atendimento de casos graves da doença, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) relacionou seis hospitais para serem referência da rede pública em território capixaba.
Há hospitais no interior e na Grande Vitória: Doutor Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus; Sílvio Avidos, em Colatina; Dr Jayme Santos Neves, na Serra; Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória; Santa Casa da Misericórdia e Infantil Francisco de Assis, em Cachoeiro de Itapemirim. O Dório Silva, também na Serra, recebe pacientes como ponto de apoio ao enfrentamento.
O gestor clínico do Hospital Dr. Jayme Santos Neves, Alexandre Bittencourt, explicou que os pacientes são encaminhados pelo Samu ou por algum pronto atendimento da região. Em ambos os casos, a equipe do hospital estadual é informada sobre o quadro clínico do paciente, podendo decidir qual procedimento será adotado.
É um grande desafio porque além dessas definições técnicas, a gente tem uma algumas necessidades. O paciente que é suspeita de Covid-19 precisa de alguns recursos como isolamento, cuidados respiratórios e não pode ficar com outros pacientes que já estão confirmados. A gente ainda faz a classificação do caso entre suspeito e confirmado e a definição do leito por critério de gravidade, explicou Alexandre.
Ele ressalta que a Covid-19 provoca uma instabilidade respiratória, que é considerada quando o paciente apresenta frequência respiratória elevada, esforço respiratório ou baixo índice de oxigênio no sangue. Para a equipe médica da unidade hospitalar, esses fatores indicam a necessidade de internação e, a depender do esforço físico apresentado pelo paciente, o doente precisa ser instalado em um leito de UTI.
Em geral, quando a gente admite pacientes no Jayme, são pessoas que já têm alteração do padrão respiratório, precisam de suplementação de oxigênio ou então encontram-se sedadas, colocadas em coma e em ventilação mecânica. Elas são admitidas já em leitos de terapia intensiva. Geralmente, ainda enquanto suspeitos, fazemos o diagnóstico aqui. Tanto através do teste rápido ou do PCR, relatou.
Além das UTIs, o Jayme montou unidades respiratórias, que admite paciente com quadro clínico de menor gravidade, mas que precisa de observação médica. Alexandre explicou que a enfermaria recebe casos que já passaram pelo período de observação ou estavam internados na UTI. O gestor clínico destaca que diversos fatores são levados em consideração na determinação de alta terapia intensiva.
O paciente tem de estar fora do respirador. A gente observa a redução da necessidade de ofertar oxigênio para manter uma saturação adequada, observa uma melhora da parte do esforço respiratório, além de garantir que nas outras questões ele esteja estabilizado, mantendo sinais vitais estáveis, como bom nível neurológico e uma pressão (arterial) adequada. Toda vez que qualquer uma dessas situações forem alteradas, o paciente tem que ficar na UTI, afirmou.
Além de causar complicações no funcionamento do pulmão e o padrão respiratório no organismo contaminado, a Covid-19 ainda provoca a queda na taxa de oxigenação no sangue. Alexandre revelou que há pacientes que apresentam desconforto respiratório até mesmo durante a alimentação.
Esses pacientes têm indicação de uma intervenção de via aérea precoce. Ao perceber que a oferta de oxigênio tem de ser elevada, que o esforço respiratório tem sido mantido ou algumas repercussões hemodinâmicas, se faz necessária até mesmo a entubação nesses casos, declarou.
O gestor clínico pontuou que a vigilância é constante. Há pacientes que tem um cuidado respiratório que precisa ser redobrado e à medida que a doença vai evoluindo, a gente percebe disfunções de órgãos, pacientes que ficam bastante grave precisam de estratégia de ventilação avançada. Muitas vezes, a posição do paciente tem que ser mudada para que ele possa respirar de forma adequada.
O médico intensivista e geriatra Leonardo Goltara é coordenador da UTI e do Pronto-Socorro do Vila Velha Hospital, e também trabalha no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) e no Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do Espírito Santos (AFPES). Além de atender pacientes diagnosticados com a Covid-19, ele treina, coordena e supervisiona equipe médicas.
Leonardo revelou que o paciente internado na UTI por causa do novo coronavírus exige maior acompanhamento da equipe médica. Enquanto uma pessoa acometida por outra doença necessite de 6 a 8 visitas de profissionais da saúde por dia, quem apresenta o quadro clínico grave da Covid-19 precisa do dobro de atenção ao longo de 24 horas.
A gente tem evitado manter o paciente no pronto-socorro por algumas horas ou por longas horas. Se o paciente com exame clínico demonstra algum sinal de alerta, é rapidamente internado. Se não, é rapidamente encaminhado para casa com seu atestado e suas medicações. A ideia é minimizar o tempo de espera no pronto-socorro, esclareceu.
A corrida pela descoberta do medicamento ou a vacina para tratar a Covid-19 movimenta pesquisadores do mundo inteiro. No Espírito Santo, os tratamentos são adotados de acordo com o quadro clínico do paciente. No Hospital Dr. Jayme Santos Neves, há casos que já receberam prescrição de hidroxicloroquina, azitromicina, dentre outras drogas. Por ser uma doença agressiva, reduz a imunidade e pode provocar outras complicações.
Não existe um medicamento que trate Covid-19. Tem paciente que precisa usar outros antibióticos para tratar as complicações. Ela tanto acomete o pulmão quanto acomete o sistema cardiovascular, facilitando a trombose, como também abre espaço para outras infecções bacterianas, já que diminui a imunidade do organismo do paciente. É uma guerra, alertou o gestor clínico do Jayme, Alexandre Bittencourt.
O médico intensivista e geriatra, Leonardo Goltara, disse que nos hospitais onde trabalha, os médicos têm autonomia para decidir que tipo de medicamento será adotado no tratamento dos pacientes monitorados por eles.
O tratamento hoje é muito hoje em cima da prevenção da complicação, evitar que o paciente tenha esses problemas secundários, porque para o coronavírus propriamente dito, não há nenhum tratamento específico. O que fazemos é aumentar a presença do médico no acompanhamento, dar remédios para o sintomas e complicações que aparecem, informou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta