Mais de dois anos após o primeiro caso de Covid-19 registrado no mundo, as sequelas da doença ainda continuam sendo estudadas pelos cientistas. Eles tentam entender a relação do vírus com os diferentes órgãos e sistemas do corpo humano, mesmo depois que a infecção original parece curada.
De acordo com a doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, embora o SARS-CoV-2 (vírus que causa a Covid-19) afete principalmente os pulmões, algumas sequelas, como problemas cardíacos ou doenças renais, podem se desenvolver até meses após a recuperação do paciente. Isso tem ocorrido mesmo com pessoas que tiveram casos mais leves da doença.
Recentemente, um estudo feito pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo avaliou que quatro em cada dez crianças e adolescentes continuam sofrendo com o efeito prolongado da Covid-19 nas 12 semanas seguintes à infecção. A conclusão reforça a necessidade da vacinação desse grupo como medida preventiva, além do acompanhamento dos infectados por um período mais extenso.
A pesquisa se soma a um conjunto de evidências que demonstram que, assim como os adultos, o público infantojuvenil também pode sofrer os efeitos da chamada "Covid longa''. Entre as consequências mais sérias estão a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e diabetes.
Segundo o doutor em Imunologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Daniel Gomes, esses sintomas persistentes variam de pessoa para pessoa.
“Em geral, as pessoas se queixam muito de dores de cabeça, perda de memória, problemas gastrointestinais, perda de olfato ou paladar, ou diminuição da sensibilidade”, explica.
No estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo, um grupo de 53 pessoas entre 8 e 18 anos com Covid sintomática foi acompanhado por quatro meses. No total, 43% deles manifestou sintomas persistentes como dor de cabeça (19%), cansaço (9%), falta de ar (8%) e dificuldade de concentração (4%). Dores musculares e nas articulações, além de má qualidade do sono, também foram relatadas (4%).
Um quarto das crianças continuou tendo pelo menos um dos sintomas após 12 semanas e foi diagnosticado com Covid longa.
O estudo, publicado na revista científica Clinics, contou também com um grupo controle de crianças sem infecção por Sars-CoV-2. Ambos foram equilibrados por idade, sexo, etnia, condição social, IMC e doenças crônicas pediátricas.
Embora sintomas como cansaço excessivo, fraqueza, dor muscular, tosse ou perda do olfato/paladar sejam as sequelas mais comuns após a infecção, outros órgãos e sistemas podem ser afetados pelo coronavírus. Alguns deles já foram descritos em estudos publicados em revistas científicas. São eles:
Inflamação do miocárdio, insuficiência cardíaca, inflamação na membrana que reveste o coração, doença coronariana aguda, arritmia cardíaca e infarto ou aumento da coagulação do sangue.
Enrijecimento do pulmão, chamada de fibrose pulmonar, que pode causar dificuldade respiratória ou má circulação sanguínea.
Insuficiência renal aguda, caracterizada pela diminuição da função dos rins.
Perda do paladar e olfato, dor de cabeça, ansiedade, depressão , insônia, inflamação no cérebro, AVC, trombose venosa cerebral, hemorragia cerebral, confusão, delírio, tontura, convulsões, síndrome de Guillain-Barré, doença de Parkinson ou síndrome de Miller Fisher.
Formação de bolhas, coceira ou inchaço na pele, ou alopécia, que é a perda de cabelo.
Perda do apetite, náusea, refluxo gastroesofágico, diarreia, dor ou inchaço abdominal, ou fezes com sangue.
Conjuntivite, ceratoconjuntivite ou conjuntivite hemorrágica, vermelhidão da pálpebra, obstrução dos vasos sanguíneos da retina, inflamação do nervo óptico ou alteração das fibras nervosas da córnea.
Inflamação na tireoide, hiperglicemia em pessoas diabéticas, aumento da resistência à insulina ou desenvolvimento de diabetes tipo 1.
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