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Entenda por que casos graves de Covid ainda acontecem no ES

Entenda por que casos graves de Covid ainda acontecem no ES

Após um sistema vacinal de quatro doses para população em geral e cinco para idosos e pessoas com comorbidade, ainda há infectados graves da doença, por diferentes fatores

Publicado em 22 de novembro de 2022 às 08:08

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Mikaella Mozer*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

Os casos de Covid grave ainda acontecem e, apesar de em menor proporção, surgem dúvidas sobre o motivo, mesmo após um esquema vacinal de quatro doses. E a explicação começa por justamente aí, de acordo com a doutora em Epidemiologia Ethel Maciel: quem não se vacinou ou não completou o esquema fica mais vulnerável.

Sem todas as vacinas, o sistema imunológico não recebe reforço para se proteger contra o vírus e responde de forma mais agressiva em caso de infecção, o que pode levar à inflamação dos órgãos e à evolução para a fase perigosa da doença.

Hospital
Sem vacinas, organismo não recebe reforço para se proteger, levando a casos graves da doença. (Pixabay)

No momento, cinco pessoas estão internadas com a doença em estágio avançado e 46 estão em enfermarias no Espírito Santo. Esses pacientes passaram por uma inflamação nos órgãos causada pela ação do novo coronavírus. Isso porque, quando a doença se instala, pode gerar diferentes problemas, como inflamação nas vias respiratórias e pneumonia.

O infectologista Paulo Peçanha também destaca a não aplicação do imunizante como um dos problemas. Ele afirma que 90% das internações de pessoas em condições sérias não estão protegidas como deviam contra o vírus. Além disso, o país se encontra estagnado na faixa dos 50% do total de brasileiros com as doses de reforço aplicadas. 

Com isso, os outros 50% se tornam suscetíveis a enfrentar situações graves da Covid-19.

O médico explica que sem conseguir deter o vírus, ele se multiplica e replica de forma rápida, alcançando os alvéolos pulmonares — a estrutura mais íntima do pulmão. O sistema imunológico, então, começa a tentar inibir toda essa ação da Sars-Cov-2 de forma mais agressiva, liberando mais substâncias inflamatórias, e acaba afetando os órgãos.

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O quadro respiratório do paciente vai depender não só da quantidade de vírus que chegam aos pulmões, nos alvéolos, mas também da resposta do organismo à presença desse vírus. Essas próprias substâncias, em alta quantidade, agravam o quadro dos pacientes.

Paulo Peçanha
Infectologista
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É aí que entra a importância da imunização. “As vacinas trouxeram adição (na proteção contra a Covid), na medida em que elas reforçam o primeiro combate ao vírus. Essa etapa de seleção dos mediadores químicos vai ser maior, e a probabilidade de evoluir para formas graves vai ser diminuída. Precisamos acelerar o processo vacinal, 90% das pessoas internadas estão sem vacinação ou incompleta", afirmou o infectologista Crispim Cerutti.

OUTROS FATORES 

Outra explicação são as pessoas com comorbidade ou idosas. Por terem sistema de defesa menos estruturado, elas não conseguem produzir a quantidade de anticorpos para responder ao vírus. Segundo Cerutti, essa condição pode favorecer uma evolução para o estado grave. 

"Por exemplo, pessoas que vivem com HIV, que estão tratando contra o câncer, pessoas que precisam tomar altas doses de corticoides que inibem essa resposta imunológica de defesa. Isso faz com que estejam em condições de maior vulnerabilidade e podem, portanto, desenvolver uma Covid mais grave", explicou a epidemiologista Ethel Maciel. 

Os profissionais da saúde também apontam os fatores externos, como uso de substâncias químicas e tabagismo, como influentes tanto nas internações quanto nas mortes.

GENÉTICA PODE INFLUENCIAR

Durante o processo da luta do sistema imunológico, há a possibilidade de a genética afetar esse processo, favorecendo especialmente idosos. É por isso que há casos de pessoas mais novas tendo situações mais graves. 

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) investigou o assunto e identificou duas vezes mais o gene MUC 22 em idosos que tinham Covid leve e em quem não teve a doença. A comparação foi feita entre 55 pessoas com menos de 60 anos que contraíram Covid grave, 87 nonagenários e outra paciente com 114 anos.

Segundo os pesquisadores, a hipótese é de que o gene MUC 22 pode ter papel protetor contra a forma grave, reduzindo a inflamação. Com isso, os integrantes dessa faixa etária acabam tendo uma proteção própria em consequência desse fator genético.

Apesar dessa identificação, ela não vale para todo mundo. Diferentes formações genéticas rendem diversas sinalização das células dentro da defesa do organismo e, por isso, não tem como definir uma única. 

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Existem outros tipos de células que também são sinais. Então, o que acontece é que existe, para cada pessoa, um tipo de estrutura antigênica e genética

Crispim Cerutti
Infectologista
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Estudos envolvendo o mapeamento genético podem ser um futuro para já detectar como a doença pode se manifestar, de acordo com Paulo Peçanha. Porém não há como dizer como seriam e nem se isso vai acontecer de fato.

Cerutti também entende ser esse um caminho e vê ainda como melhor custo-benefício acompanhar a evolução da infecção ao invés de antecipá-la. “Hoje, já é possível combater a Covid e prevenir desfechos fatais utilizando medicações”, finaliza.

*Aluna do 25° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a supervisão de Mikaella Campos e Fernanda Dalmacio.

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