O Espírito Santo atingiu novo recorde de novos casos em 24h desde o início da pandemia do novo coronavírus, tendo registrado nesta terça-feira (08) 2.418 casos em um dia, elevando para 204.565 o total de casos confirmados no Estado quantidade que supera os dias mais críticos vividos durante o pico da doença, no meio do ano. Esta é a segunda vez que o número diário de casos ultrapassa 2 mil confirmações, sendo que o primeiro registro havia sido em 7 de julho, com 2.156 casos em 24h.
Inclusive, apenas neste mês de dezembro, chama a atenção o fato de que todos os oito dias apresentaram mais de 1.300 casos diários da Covid-19, sendo que somados os números destes primeiros dias do mês foram registradas 176 mortes e 14.564 novos casos.
Vale lembrar que todos os dados utilizados nesta reportagem por A Gazeta consideram as atualizações diárias do painel Covid-19, feitas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Em análise realizada pela médica infectologista Rúbia Miossi, o número crescente de casos registrados nos últimos dias se deve também ao final do mês de novembro. "Eu acho que há um consenso que estes números são referentes aos casos particulares desses dias atuais e aos casos colhidos pelo SUS na semana do final de novembro. É a sequência das campanhas eleitorais, justamente os 10 dias após a eleição, com as festas dos candidatos ganhadores e a conduta da população de não usar máscara mais, frequentando bares e festas", disse.
No mesmo sentido, para a enfermeira, pós-doutora em Epidemiologia, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS) Ethel Maciel, o período eleitoral também contribuiu para os números mais expressivos de casos. "Os óbitos estão hoje mais ou menos como estavam na terceira semana de maio, com cerca de 100 por semana, e este é um aumento que começa a preocupar. Vemos que não é só aumento dos testes e diagnósticos, mas o aumento expressivo de casos, inclusive com UTIs chegando em um ponto preocupante. A tendência dos próximos dias parece ser ainda de aumento, principalmente porque temos agora o efeito das aglomerações das eleições", destacou.
Com relação ao número de mortes, que tem se mantido relativamente estável com o passar dos dias, tendo encontrado variação entre 12 e 34 óbitos por 24h em dezembro, a especialista Rúbia Miossi afirma que se deve, entre outros fatores, à melhora do atendimento. "O paciente tem tido um atendimento com um pouco mais de coerência, a gente sabe melhor o momento de entrar com corticoide, o momento que o doente deve ser entubado ou não, a gente aprendeu a cuidar da doença e isso ajuda a melhorar a questão das mortes. A outra coisa é que a gente tem um número maior de casos porque tem um número maior de testes sendo feitos, então é natural que a gente esteja diagnosticando mais as pessoas", explicou.
Para os próximos dias, a infectologista sugere que os números devem continuar subindo, sem previsão de queda. "Não fazemos ideia de quando esses casos vão voltar a cair. A previsão é só de aumento e não de queda, se as pessoas continuarem com o comportamento que estão tendo", refletiu.
Também para Maciel, não é possível dizer com certeza quando os casos voltarão a cair. "Teremos que acompanhar o movimento dos casos e óbitos - nas próximas semanas - para ver como a pandemia vai se comportar, o que depende muito do comportamento das pessoas. Se continuarem se aglomerando, a tendência é de que continue crescendo. Seria muito importante usar máscaras, lavar as mãos, e o governo usar o que pode para fiscalizar", disse.
De acordo com a médica Rúbia Miossi, tem sido observado, com frequência, pacientes chegando de forma tardia aos hospitais. "Outra coisa importante a se dizer é que, em relação a questões de tratamento, um dos problemas sérios que alguns hospitais particulares têm enfrentado são pacientes chegando em fase muito tardia da doença, que têm ficado em casa utilizando coquetéis que alguns médicos têm prescrito e têm retardado a ida ao hospital, confiantes de que essas medicações salvarão a vida deles, quando na verdade a gente recomenda que, ao primeiro sinal de que os remédios não estejam fazendo efeito, deve-se procurar imediatamente o pronto-atendimento", afirmou.
O abuso de medicamentos também tem sido preocupante. "Há um abuso de medicamentos como antibióticos e já estamos vendo uma possibilidade de infecções hospitalares cada vez mais resistentes por conta disso, antes mesmo de entrar no hospital, e isso é grave. Outra coisa que a gente diz é que são medicamentos que não têm nenhum efeito protetor para evitar pegar a Covid e as pessoas estão tomando, sem comprovação científica. Essas pessoas se sentem então encorajadas a comparecerem a festas, confraternizações de fim de ano, frequentar bares e isso está gerando um aumento importante no número de casos também", concluiu.
Para o infectologista Lauro Ferreira Pinto, o crescimento abrupto de casos significa que as pessoas estão de fato se expondo. "Houve um relaxamento geral, uma fadiga da pandemia, as pessoas estão sem máscara, se aglomerando, na praia e em bares. A doença está fazendo a festa e o vírus não cansou da gente. A gente fala que isso vai continuar enquanto as pessoas estiverem aglomerando e a sensação que temos é que isso vai piorando até o Natal", relatou.
Apesar do crescimento acentuado do número de casos, o médico diz que as mortes estão estáveis porque a contaminação tem atingido basicamente a população jovem, nesta fase. "Neste caso a doença é mais benigna, mas chega no idoso e em quem tem comorbidades também e agrava. Já chegamos a ter quatro ou cinco mortes por dia, mas agora está um pouco elevado, não só aqui no Estado como em todo o Brasil. E é fácil prever o futuro se a gente olha para trás", acrescentou.
"A tendência é continuar aumentando os casos, a não ser que se esgote a população suscetível. Se temos uma quantidade de pessoas se expondo e essa população chega no ápice, com, por outro lado, muitas pessoas quietas em casa, dá para controlar e a taxa de infecção reduz, mas depende de muita gente ficar confinada. Ainda tem muita gente que não pegou Covid que está quieta em casa. Mas se as pessoas continuarem se expondo desse jeito, nós vamos ter um grande número de casos no Natal e no Ano Novo, já que é uma época de festividades e as pessoas estão cansadas, querendo fazer reuniões sociais. Desse jeito, teremos aumento de casos", concluiu.
Demandada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que a crescente observada nos últimos dias está relacionada tanto à ampliação da testagem para toda a população, considerando a testagem de contatos assintomáticos de intradomiciliares que vigorou até 28 de novembro, como pela maior exposição da população ao vírus. Esclareceu ainda, em nota, que estratégias são adotadas de acordo com o comportamento da curva da doença que é observada diariamente e que medidas restritivas são definidas pelo Mapa de Risco e anunciadas pelo governador do Estado.
Com 204.565 o total de casos confirmados no Espírito Santo ao longo da pandemia do novo coronavírus, o município de Vila Velha, com 29.429 registros, mantém o maior número de moradores infectados no Estado. Em seguida, estão Serra (26.134), Vitória (25.200) e Cariacica (18.138). Entre os bairros, Jardim Camburi, na Capital, também não sai do topo do ranking, com 3.721 pessoas contaminadas, seguido por Praia da Costa, em Vila Velha, com 3.351.
A quantidade de curados também subiu, chegando a 186.864. A taxa de letalidade da Covid-19 se mantém 2,2%, e mais de 671.502 mil testes já foram realizados no Estado.
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