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ES tem quase 100 mil jovens de 15 a 17 anos fora do ensino médio

ES tem quase 100 mil jovens de 15 a 17 anos fora do ensino médio

Levantamento do IBGE aponta que, nesta faixa etária, parte da população deixou de frequentar a escola

Publicado em 19 de julho de 2020 às 10:00

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Alunos em sala de aula
No período pós-pandemia, desafio maior para trazer os jovens de volta à sala de aula. (Joel Silva/ Folhapress)

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado pela primeira vez em 2019 e recém-divulgado, revelou que o Espírito Santo tinha 96 mil jovens, de 15 a 17 anos, fora do ensino médio. Essa é a faixa etária correspondente à etapa de ensino, porém parte dessa turma abandonou a escola, parte nem concluiu o nível fundamental. Com a pandemia do coronavírus, a perspectiva é que o contingente seja maior no final de 2020. 

A distorção idade-série é uma condição que, em muitos casos, leva ao abandono - quando o aluno para de frequentar o ano letivo - e à evasão escolar (desistência da escola). Mas há outros fatores que também podem ter contribuído para o jovem deixar de estudar. 

Doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Schwartz observa que a desistência no ensino médio é um problema histórico, e que no Estado ganhou um componente nos últimos anos que afetou muitos estudantes: a adoção do tempo integral. 

ES tem quase 100 mil jovens de 15 a 17 anos fora do ensino médio

Embora considere uma política necessária, o modelo implementado pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu) na gestão passada, na  avaliação de Cleonara, empurrou muitos jovens para fora da escola. Isso porque nem todo aluno tinha condições de cumprir um dia inteiro de jornada escolar porque, justamente a partir dos 15 anos, boa parte deles começa também a trabalhar.

"A maioria desses jovens está à frente do mercado para sua subsistência e da família. É difícil conciliar trabalho e estudo e, por isso, precisam que a escola esteja perto de casa ou do local onde trabalham. Assim, quando a escola foi transformada em tempo integral e viram que teriam que ir para um lugar longe para continuar a estudar, desistiram", atesta. 

Na atual administração da Sedu, houve ajustes no modelo, inclusive com redução do tempo, mas a educadora acredita que ainda está distante do ideal para atrair jovens em vez de afastá-los. "A escola de tempo integral é importante quando é discutida com a comunidade, responde às demandas da sociedade local. Do contrário, torna-se um agravante", reforça Cleonara Schwartz.

JOVENS E ADULTOS

Outro aspecto que pode ter concorrido para o afastamento dos jovens da sala de aula, afirma Cleonara, é uma política implementada no segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que passou a ter parte das atividades no modelo a distância. A professora ressalta que, para esse perfil de estudantes, a mediação presencial é imprescindível para que não se sintam desestimulados a ponto de desistir. 

Para Cleonara Schwartz, é fundamental que gestores e educadores exercitem a escuta para entender melhor o que se passa com os jovens que não querem estudar, ou desistiram da escola. 

Aspas de citação

As políticas educacionais precisam ser sensíveis à escuta de quem lida com o aluno, e ao próprio aluno. É ele quem vai dizer o que tem levado a essa recusa de ficar na escola para que as medidas sejam adotadas e possam incidir exatamente no problema que, com a pandemia, tende a ficar mais grave ainda

Cleonara Schwartz
Doutora em Educação
Aspas de citação

Ela estima que um dos grandes desafios para os educadores, agora, é o de resgatar os alunos que não tiveram acesso ao que foi oferecido pelas redes de ensino em função das desigualdades sociais. O cenário é muito complexo, frisa a professora, e precisa ser pensado com muito critério para a adoção de políticas intersetoriais. 

PREOCUPAÇÃO

A Sedu, que detém a maior parte das matrículas no ensino médio do Espírito Santo, também está atenta às consequências da pandemia da Covid-19 na educação capixaba. Por nota, o órgão informou que um dos desafios na rede é evitar que os alunos abandonem a sala de aula, e a preocupação é maior neste momento.

"Além disso, a secretaria entende ser importante o envolvimento de todos os estudantes no desenvolvimento do currículo. Implementar ações curriculares, voltadas à continuidade do crescimento da aprendizagem e da qualidade do ensino dos alunos, tem sido uma das ações para enfrentar os desafios da educação", diz um dos trechos da nota.

A Sedu esclarece, ainda, que tem implementado outras ações como o Pré-Enem Digital. "Também instituiu o Programa Todos na Escola (que visa identificar crianças e jovens que estão fora da escola, bem como os estudantes em risco de abandono na rede pública do Ensino Fundamental e Médio, nas modalidades regular e Educação de Jovens e Adultos, e propor o desenvolvimento de ações que contribuam com o acesso e permanência desse estudante no ambiente escolar). Também foi instituído o Comitê para Estudo e Elaboração de Políticas Públicas de Acesso, Permanência e Aprendizagem do Estudante na Escola", relaciona a Sedu, na nota. 

Dados preliminares da Sedu indicam que, em 2019,  21.224 alunos concluíram o ensino médio na rede estadual, o equivalente a 96,6% dos matriculados - índice superior ao ano anterior, quando 93,4% dos estudantes terminaram a educação básica. Também houve crescimento na taxa de escolarização na faixa etária de 15 a 17 anos, agora segundo levantamento do IBGE, no comparativo dos dois anos, passando de 86,9% para 89,5% (incluindo outras etapas de ensino, além do nível médio). 

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