É muito comum na Igreja Católica serem usadas imagens de animais mitológicos, como dragões e serpentes, para representar o mal que assola a humanidade e o planeta Terra. A representação de São Jorge é um exemplo clássico disso: o cavaleiro matando, com uma espada, um dragão, que é uma analogia a satanás.
A paróquia Bom Pastor, que fica no bairro Praia da Costa, em Vila Velha, porém, inovou na idealização do bem combatendo o mal. Em janeiro deste ano foi inaugurada uma estátua de um Arcanjo fincando um bastão em um vírus da Covid-19.
O padre Edemar Endringer, idealizador da obra, explicou que a ideia foi fazer uma homenagem às vítimas da Covid-19 no Estado. Ele citou que uma pandemia, antes da eclosão em março de 2020, era algo inimaginável nos dias atuais, com o avanço da Medicina e da tecnologia. Por isso, a estátua serve como um marco temporal de um dos períodos mais difíceis da humanidade.
"Estamos vivendo, da nossa história, o momento mais difícil, uma pandemia. A gente já ouviu falar isso da idade média, de calamidade. Mas, hoje, com toda a tecnologia, o avanço da ciência, da Medicina, de repente nós estamos vivendo um mundo complicado. E, no ano passado, foi terrível a última onda. A gente pensou em não só se precaver, mas marcar esse tempo, para que os que virão depois não esqueçam do sofrimento nosso, como a gente não pode esquecer do sofrimento do passado", disse o padre.
Edemar contou que, antes do surto da Covid-19, ao lado da igreja funcionava uma creche, que não resistiu aos impactos da pandemia. Isso, somado à impossibilidade dos fiéis de acompanharem as celebrações, foram fatores que também motivaram a idealização da obra.
"Nós tínhamos uma creche aqui do lado que tinha mais de 30 anos e desapareceu, não pode mais voltar, não teve condição. O povo não podia vir à igreja, a gente ainda hoje está usando máscara, porque ainda é importante. Foi um momento difícil. Nesse momento, nós chamamos o prefeito, fizemos uma parceria com ele, porque a praça é da prefeitura. Eles deram todo o apoio e nós conseguimos inaugurar a obra", narrou o padre.
OBRA É JUNÇÃO DOS TRÊS ARCANJOS
Os católicos mais fiéis têm uma grande devoção a São Miguel, o Arcanjo que, com a espada, mata satanás. "Com sua poderosa espada de luz, derrotai todas as forças malignas e iluminai meus caminhos com a luz de tua proteção", diz uma das orações ao Arcanjo.
Edemar Endringer detalhou que muitas pessoas que passam em frente à estátua acham que é uma representação apenas de São Miguel, mas, na verdade, trata-se de uma união dos três Arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael, sobretudo o último. Isso porque, como explicou o padre, "rafa", no hebraico, significa cura e a terminação "el" remete a Deus. Logo, Rafael seria traduzido como "a cura de Deus".
"Rafael, no antigo testamento, usa um peixe. Ele tirou um féuzinho do peixe para curar o pai de Tobias. E ele andava com um bastão porque era um peregrino, ele caminhou aqui na Terra. Já Miguel tinha uma espada, uma lança, contra o dragão. Com o bastão, ele está furando a Covid-19, o vírus", argumentou Edemar.
ARTISTA USOU PÓ DE MINÉRIO PARA FAZER A ESTÁTUA
Uma das sensibilidades do padre Edemar Endringer e do artista Hippólito Alves, que foi quem construiu a estátua, era chamar a atenção também para um problema recorrente na Grande Vitória: a poluição. Por conta disso, Hippólito utilizou pó de minério na confecção da obra, além de uma resina italiana para deixá-la resistente às mudanças do tempo.
"Hoje, a maior reclamação dos moradores da ilha de Vitória, que é um dos lugares mais lindos do mundo, e também da Grande Vitória, é exatamente o pó de minério. O Hippólito fez uma estrutura toda em aço para ser sustentável e ficar ali, usou um tipo de resina italiana que consegue sobreviver ao tempo e misturou o pó de minério", contou o padre.
MENSAGEM DE FÉ E ESPERANÇA
A estátua se sobressai e chama a atenção de quem passa em frente à Paróquia Bom Pastor. O padre Edemar explicou que o local realmente se tornou um ponto de homenagens às vítimas da Covid-19, onde as pessoas que perderam entes queridos deixam flores e outras lembranças.
"Virou um ponto até turístico, de tirar foto, o pessoal para. De fato, a gente vê o pessoal passando e se benzendo, outros inclinando a cabeça. As pessoas captaram que a humanidade é tão frágil, a gente achava que era tanta coisa, a gente se sentiu tão pequenininho, que somente com a grandeza de Deus a gente pode caminhar", exclamou o padre.
Edemar completou afirmando que a principal mensagem que ele pretendia passar com a obra é de que a humanidade não pode perder a fé ou a esperança em meio a uma pandemia que já tirou a vida de tantas pessoas. Para o padre, a obra lembra, ainda, que para aqueles que acreditam, a resposta para as dúvidas deve sempre vir de Deus.
Edemar Endringer
Padre da Paróquia Bom Pastor, em Vila Velha e idealizador da estátua
"É não perder a fé, não perder a esperança"
"É exatamente essa a mensagem que a gente quer passar. O homem, por mais capaz que ele seja, por mais eficiente e melhor que seja a tecnologia, com o maior avanço da Medicina, a gente não consegue responder coisas básicas e a gente vai precisar de uma sabedoria superior, maior do que a nossa e a força desse superior que, para nós, é Deus, aqui representado pelos Arcanjos dele, que mora no céu, mas que estão a serviço dos homens na terra", finalizou.
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