O estudo nacional que está sendo desenvolvido no Espírito Santo, denominado Viana Vacinada, apresentou um resultado preliminar bastante animador para os pesquisadores: as duas meias doses da Astrazeneca aplicadas nos voluntários produziram anticorpos contra a Covid-19 de modo semelhante à dose padrão. Outras análises estão sendo feitas para avaliar também a efetividade da dose reduzida (ajustada) no controle de casos da doença.
A pesquisa envolve 20 mil voluntários de 18 a 49 anos que receberam as meias doses num intervalo de oito semanas, em junho e em agosto, no município de Viana. Logo após a primeira meia dose, o governo do Estado, que contribui com o financiamento do estudo, apontou que 88,3% dos vacinados tinham desenvolvido anticorpos. Agora, o resultado apresentado refere-se às duas aplicações que, conforme as análises, foram capazes de desenvolver a proteção em 99,8% dos participantes.
Após um esquema de imunização completo com duas doses, espera-se que a pessoa esteja protegida 14 dias depois da D2. Apesar do curto tempo de quatro semanas, a incidência de casos novos de Covid-19 foi semelhante no grupo que recebeu meia dose e dose padrão, segundo apontou Valéria Valim, coordenadora do estudo.
Médica e pesquisadora, ela disse que novas etapas ainda serão cumpridas na pesquisa, porém os resultados preliminares já são um importante indicativo para as estratégias de enfrentamento à Covid-19. A conclusão será apresentada em dezembro e Valéria Valim observou que, se confirmados os dados, os gestores públicos poderão adotar a meia dose, por exemplo, para alcançar a imunização da população de maneira mais rápida.
Valéria Valim contou que a pesquisa já chamou a atenção de cientistas pelo mundo. Recentemente, o estudo foi apresentado em um encontro na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que discutiu o uso de doses fracionadas de diversas vacinas, e o projeto Viana Vacinada se destacou pelo fato de já estar bastante avançado, com resultados preliminares positivos e expressivo número de participantes.
Os resultados preliminares foram apresentados ao Ministério da Saúde na última sexta-feira (1), demonstrando que a meia dose da Astrazeneca consegue induzir anticorpos neutralizantes (protetores) contra a proteína spike - associada à capacidade de entrada do Sars-Cov-2 (coronavírus) nas células humanas.
Segundo Valéria Valim, os efeitos colaterais observados foram leves, e a frequência geral foi semelhante com meia dose ou dose padrão. No entanto, a duração dos eventos adversos foi menor no grupo que recebeu a dose ajustada.
Ainda estão em andamento outros testes imunológicos, como a pesquisa de anticorpos neutralizantes por reação em placa (PRNT), de imunidade celular, biomarcadores, análise exploratória dos subgrupos por extratos de idade e níveis de anticorpos antes da vacina e incidência de casos novos. Estes poderão comprovar a efetividade da meia dose, se for demonstrado o controle das infecções pelo coronavírus.
O estudo também revelou que, entre as pessoas que já haviam sido infectadas pelo coronavírus, uma dose da vacina se mostrou suficiente para a produção de anticorpos. Valéria Valim reforçou, no entanto, que o resultado é preliminar e que, no momento, toda a população apta a se vacinar deve seguir a recomendação de tomar duas doses para completar o esquema de imunização.
Em dezembro, o resultado da pesquisa será apresentado em um congresso de infectologia. Os dados também serão submetidos a uma revista científica para avaliação por pares - cientistas da mesma área que revisam as informações e fazem eventuais críticas - antes que possam servir de referência para a adoção de políticas públicas.
A pesquisa é coordenada pelo Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam/Ufes) em parceria com a Fiocruz, patrocinado pelo Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e do Ministério da Saúde.
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