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Falta de dados causa deserto de informações sobre comunidades quilombolas no ES

Falta de dados causa deserto de informações sobre comunidades quilombolas no ES

Últimas informações disponíveis estimam 87 localidades quilombolas no Espírito Santo, sendo 29 na região Sul

Publicado em 13 de junho de 2023 às 16:30

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Comunidades quilombolas es
Comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim. (Divulgação/Secult ES)
Sara Oliveira
Repórter / [email protected]

O último caderno do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) sobre grupos tradicionais no Espírito Santo concluiu: faltam informações sobre comunidades quilombolas capixabas. O Estado conta com uma estimativa de 87 localidades quilombolas, sendo 29 na região Sul. Para quem luta pelos direitos desses povos, a falta de informações oficiais reflete a invisibilidade dessas comunidades, problema que torna o acesso a políticas públicas - como água, saúde e saneamento - ainda mais difícil.

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Há um processo de racismo institucional que impede o desenvolvimento das comunidades quilombolas. E isso não é só aqui no sul do estado, nem só no Espírito Santo, é nacional. As políticas públicas não chegam nessas comunidades e a falta de informações faz parte desse processo

Arilson Ventura
coordenador nacional e estadual da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq)
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Apesar dos esforços das próprias comunidades e de pesquisadores para coletar informações e preservar a história desses povos de forma independente, as informações oficiais disponíveis ainda são escassas.

Arilson Ventura, quilombola da comunidade de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, e representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), acredita que a realização do censo demográfico, coletado pela primeira vez com as comunidades quilombolas este ano, é um dos caminhos para diminuir essa invisibilidade.

O censo foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em todo o Brasil. Foi a primeira vez, em toda a história do censo, que as comunidades quilombolas contaram com um recorte específico para abordar as características demográficas, sociais e econômicas dessas populações. A previsão é que os resultados sejam divulgados no dia 28 de junho.

“Essas informações vão facilitar o diálogo futuramente. Quando você tem informações coletadas por um órgão de referência, como o quantitativo de jovens, de crianças quilombolas, isso facilita o diálogo com organizações governamentais e não governamentais para que as demandas dessas comunidades sejam atendidas”, explica.

Últimos dados são de 2019

No caderno “Povos Indígenas e Quilombolas no Espírito Santo”, divulgado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) no último dia 31 de maio, as informações sobre povos quilombolas são com base em informações do IBGE de 2019, bem como informações da Fundação Cultural Palmares. O caderno indica 87 localidades quilombolas no Espírito Santo, sendo 29 no Sul do Estado.

Na região sul, há registro de localidades quilombolas nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Brejetuba, Conceição do Castelo, Divino de São Lourenço, Guaçuí, Iconha, Itapemirim, Iúna, Jerônimo Monteiro, Marataízes, Muniz Freire, Muqui, Presidente Kennedy e Vargem Alta.

mapa quilombolas
Estimativa de Comunidades Quilombolas no ES. (Instituto Jones dos Santos Neves)

Enquanto para outras comunidades tradicionais, como as etnias indígenas, ainda se tem informações sobre estimativa de domicílios ocupados, faixa de idade, abastecimento de água e esgotamento sanitário, nas comunidades quilombolas há um deserto de informações, problema que é reconhecido pelo próprio instituto. 

“Infelizmente, como ficou claro na presente Nota Técnica, há uma carência de informações sobre os povos quilombolas, demográficas e territoriais, o que explicita de certa forma a invisibilidade destes povos”, informa um trecho do relatório.

Para o instituto, a produção de bases de dados e informações sobre essas comunidades precisam ser estendidas e alimentadas por órgãos governamentais, de forma organizada e periódica. “A presença desses povos no território capixaba é um patrimônio que exige um olhar mais aprofundado, com o desenvolvimento de estudos e pesquisas quantitativas e qualitativas, visando acima de tudo sua manutenção e preservação”, ressalta o documento.

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