Uma imagem da Via Láctea sobre as Cataratas do Iguaçu, registrada pelo astrofotógrafo cachoeirense Victor Lima, foi ranqueada entre as 25 melhores do ano na lista internacional "Capture the Atlas", no último domingo (23). O blog do fotógrafo mundialmente conhecido Dan Zafra divulga listagens anuais de fotografias impressionantes em temática noturna ao redor do globo.
O capixaba, formado originariamente em Engenharia Civil, que tem realizado expedições com alunos para registrar estrelas e paisagens, conta que ter sido incluído na lista é motivo de grande felicidade. "Esse tipo de fotografia aqui no Brasil é algo ainda muito incipiente, não tem muita gente fazendo em nível internacional. Tem muita gente nos Estados Unidos, Canadá, Europa, capturando em altíssimo nível. Ver o meu trabalho sendo incluído em uma listagem com fotografias tão incríveis, em meio a profissionais tão reconhecidos, é uma honra muito grande", expressou.
Segundo ele, a seleção é feita pelo próprio Dan Zafra, o qual acompanha o trabalho de mais de 20 mil fotógrafos que fazem publicações relacionadas ao tema noturno da Via Láctea. Victor figura na publicação pela primeira vez e não se recorda de outro brasileiro que já tenha entrado no ranking antes.
Com a repercussão da imagem, o capixaba, que hoje mora na Bahia, espera continuar explorando diferentes paisagens. "Pretendo apresentar uma visão sempre diferente das paisagens, fazendo cada vez mais trabalhos em lugares diferentes e icônicos e sobre os quais ainda não haja um olhar diferenciado. A expectativa é produzir material novo. E explorar durante a noite ainda não é algo feito de forma tão intensa", disse.
Além de continuar a captar belas imagens do céu, o fotógrafo pretende usar as imagens que registra para conscientização sobre a poluição luminosa, que impede que boa parte da população observe estrelas no céu.
"Hoje a poluição luminosa é algo que afeta o dia a dia das pessoas, especialmente das que vivem nas grandes cidades, onde há excesso de iluminação. Isso gera um impacto muito grande, atrapalhando até o sono durante a noite. Esse tipo de fotografia que eu faço realça muito a visualização do céu, das estrelas, fazemos a leitura do céu noturno. Estar em um ambiente em que se vê a noite realmente, isso impacta até o nosso organismo. Quero estudar mais sobre esse assunto e usar a fotografia para conscientizar sobre o assunto", finalizou.
O cachoeirense escolheu as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, para levar um grupo de onze alunos e captar, entre os dias 11 e 14 de março, cenas raras nos céus da localidade. Esta foi a primeira expedição fotográfica noturna dentro do Parque Nacional.
Para explicar como foram feitas as fotos, ele contou que foram usadas técnicas como a longa exposição, que é quando se captura a imagem por mais de um segundo. Também é feito uso de tripé, bem como de câmera que permita ajustes manuais de exposição. As lentes utilizadas são do tipo grande-angular, com abertura do diafragma bastante ampla (ou para quem entende: f2.8, f1.8, f4), fazendo capturas com o ISO (sensibilidade à luz) bastante alto e um sensor com ganho bastante elevado, já que o local é escuro.
O importante neste tipo de fotografia é o conjunto, unindo paisagem às estrelas. "Esse tipo de fotografia se chama 'Astrofotografia de Paisagem', e nela a intenção é registrar os astros, de maneira geral, em conjunto com a paisagem do local em que se está fotografando", afirmou.
Para conseguir atingir o objetivo à noite, o astrofotógrafo precisou solicitar uma autorização especial para a administração do Parque Nacional do Iguaçu e para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de ter ficado, junto aos pupilos, hospedado no único hotel dentro da área do parque.
A organização de todo o evento ficou por conta do profissional. "Buscamos um local com apelo cênico forte, com paisagens bonitas. O local é uma das sete novas maravilhas do mundo", afirmou.
Depois da escolha do local, Lima explica que é avaliada a qualidade do céu para capturas de astrofotografia. "E aí existem mapas de poluição luminosa, em que é possível identificar em uma escala de 1 a 7 a qualificação do céu. O nível 1 é o melhor céu possível, com poluição luminosa nula, como é o caso de um deserto como o do Atacama. O 7 seria o centro da cidade de Salvador, ou de Vitória, por exemplo. São lugares com maior dificuldade de visualizar estrelas", acrescentou.
No caso das cataratas, o fotógrafo afirma que é um dos mais belos destinos naturais a se visitar no país e, por se tratar de um parque nacional, há no local um nível relativamente baixo de poluição luminosa.
"Para fazer esse tipo de imagem, é preciso se afastar das cidades e ir para um lugar que tenha uma característica de céu rural, que tenha pouca interferência da poluição da cidade. O Parque Nacional do Iguaçu é bastante grande e, apesar de estar próximo da área central de Foz do Iguaçu e da divisa com Puerto Iguazú, na Argentina, o céu permite esse tipo de captura, pela baixa poluição luminosa", descreveu o cachoeirense.
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