Grávidas geralmente estão em grupos prioritários de vacinação, mas, no caso da Covid-19, essas mulheres não aparecem nas etapas de imunização porque ainda não foram feitos testes em larga escala com gestantes. Contudo, muitas atuam na linha de frente no enfrentamento à doença e, como profissionais de saúde, teriam prioridade para receber as doses. Nesse contexto, o que seria melhor fazer? Médicos ouvidos por A Gazeta explicam como proceder.
Na avaliação do infectologista Lauro Ferreira Pinto Neto, grávidas e lactantes (mulheres que estão amamentando) da linha de frente da Covid-19 devem conversar com os profissionais de saúde que as acompanham para tomar a decisão.
"Se a mulher tem risco, está na linha de frente ou é uma paciente, o risco da doença é muito maior do que uma vacina que não foi usada em um número grande de gestantes. Levando esses fatores em consideração, eu tenho estimulado as minhas pacientes", argumenta.
Essa é uma tendência que, segundo o infectologista, tem sido adotada em outros locais. "No mundo inteiro tem sido uma decisão compartilhada pela gestante e o seu obstetra. É importante que essas mulheres conversem com seus médicos, e, juntos, decidam o que é melhor."
Lauro Ferreira Pinto alerta sobre os riscos de uma grávida ser infectada pelo coronavírus. "Sabemos que a Covid mata, e mata gestante também. As gestantes de classe A, aquelas que têm acesso ao pré-natal, que são acompanhadas sem grandes fatores de risco, não costumam ter mortalidade absurda para a Covid, mas, no Brasil, gestantes pobres, com o pré-natal ruim, obesas, hipertensas, tiveram mortalidade maior. Então, a gestante doente tem riscos grandes, já a vacina sabemos que não tem riscos descritos na plataforma como elas são usadas", observa.
Hipertensão e diabetes são algumas das comorbidades estabelecidas que colocam os pacientes em grupo prioritário, no qual também poderiam estar as grávidas, mas apenas na terceira etapa de vacinação. O país ainda se encontra na primeira fase porque não tem doses suficientes para imunizar o público-alvo.
A ginecologista e obstetra Anna Carolina Bimbato avalia que algumas mulheres têm medo da vacina por falta de informação. "Converso com as gestantes e a maioria ainda tem receio. Nesse caso, recomendo isolamento e ter muito cuidado para não se contaminar. A falta de dados gera uma insegurança para a liberação da vacina. É compreensível que haja uma resistência na prescrição de uma vacina que ainda não possui estudos em gestantes", pondera.
A médica afirma que a imunização de gestantes é uma realidade próxima. "Sigo a recomendação das Federações e Sociedades Médicas. Recentemente, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) se manifestaram, sugerindo a vacinação em gestantes e lactantes após avaliação médica. Em breve teremos uma recomendação oficial", aponta.
Atualmente, no Brasil, são utilizados dois imunizantes: a Coronavac, numa produção em parceria do Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac, e a inglesa Astrazeneca/Oxford, na parceria com a Fiocruz.
As duas vacinas são chamadas de inativas porque são produzidas com o vírus morto, o que significa dizer que, segundo o infectologista Lauro Ferreira Pinto, a princípio não causariam riscos a uma gestante ou lactante. Ao ser injetada no paciente, o próprio organismo cria o sistema de defesa.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), gestantes, lactantes e puérperas fazem parte de um grupo especial. Em documento publicado no site do órgão, são feitas considerações sobre a vacinação para esse público.
A segurança e a eficácia das vacinas não foram avaliadas nesses grupos. No entanto, estudos em animais (fase pré-clínica) não demonstraram riscos de malformação.
A vacinação poderá ser realizada após a avaliação cautelosa dos riscos e benefícios, e com decisão entre a mulher e o seu médico.
As gestantes e lactantes devem ser informadas sobre os dados de eficácia e segurança das vacinas para a tomada de decisão, considerando o nível de potencial contaminação do vírus na comunidade; potencial eficácia da vacina; e o risco potencial da gravidade da doença materna, incluindo os efeitos no feto e no recém-nascido; e a segurança da vacina para o binômio materno-fetal.
O teste de gravidez não deve ser um pré-requisito para a administração das vacinas nas mulheres com potencial para engravidar e que se encontram em um dos grupos prioritários para vacinação.
Gestantes e lactantes pertencentes aos grupos prioritários que não concordam em ser vacinadas devem ser apoiadas em sua decisão e instruídas a manter medidas de proteção, como higienização frequente das mãos, uso de máscara e distanciamento social.
Caso opte-se pela vacinação das lactantes, o aleitamento materno não deverá ser interrompido.
A vacinação inadvertida das gestantes, ou seja, aquelas sem indicação médica, deverá ser informada ao sistema de notificação e-SUS, notificada como um erro para fins de controle e monitoramento de ocorrência de eventos adversos.
Eventos adversos que venham a ocorrer com a gestante, após a vacinação, deverão ser notificados no e-SUS, bem como quaisquer eventos adversos que ocorreram com o feto ou com recém-nascido até seis meses após o nascimento.
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