Embora ainda não tenha sido identificada no Brasil, uma nova hepatite tem deixado o mundo em alerta. A doença, cuja origem é desconhecida, já se mostrou mais agressiva entre crianças e adolescentes, especialmente na Europa. Mas é possível que ela também chegue ao país e ao Espírito Santo nas próximas semanas?
Os primeiros casos dessa hepatite "misteriosa" foram registrados no início deste mês no Reino Unido, mas ela já começou a surgir em outros locais, como Estados Unidos e Israel. A maioria das notificações envolve bebês, crianças e adolescentes entre um mês e 16 anos.
Segundo um boletim emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no sábado (22), pelo menos 169 casos foram identificados em 13 países. Do total de infectados, 17 crianças necessitaram de transplante de fígado. Uma morte chegou a ser relatada, porém, não há detalhes sobre o histórico da vítima.
Autoridades sanitárias acreditam que a doença tenha relação com os adenovírus, um grupo que normalmente causa doenças respiratórias, como um resfriado, pneumonia, entre outros. Também foi levantada a hipótese dela estar associada à Covid-19, já que foi apontada a presença do SARS-CoV-2 em amostras de pessoas infectadas. Os exames não identificaram a presença de nenhum dos vírus de hepatite conhecidos, de A a E.
No entanto, mesmo que a doença esteja se espalhando rapidamente, ainda não é possível afirmar quando ela chegará ao Estado. "Estamos em alerta, mas não há motivo para pânico. Caso ocorram notificações, a tendência é seja lentamente, não de um dia para o outro", destaca o infectologista Daniel Junguer.
De acordo com ele, o que mais tem chamado a atenção dos especialistas é a gravidade do estado de saúde dos pacientes, além do fato de serem raros em crianças dessas faixas etárias. Casos de hepatite aguda costumam estar associados a práticas distantes do mundo infantil, como relações sexuais, compartilhamentos de agulhas durante o uso de drogas e o consumo excessivo de álcool.
"Provavelmente, é uma virose sazonal, que sofreu uma modificação e está tendo uma predileção pelo fígado. Mas (essa agressividade) não é comum. Mesmo nos vírus que geram hepatite aguda na infância e na adolescência, como a A, é raro encontramos falência hepática a ponto de haver necessidade de transplante", destaca Junger.
Sobre a alta incidência em crianças e adolescentes, o infectologista explica que pode estar relacionada à baixa resistência imunológica dos pequenos ou a resistência que eles ainda não adquiriram contra determinados vírus e bactérias.
"Como os adultos já tiveram infecções prévias por vírus dos mesmos grupos possivelmente associados à está nova forma de hepatite (a exemplo dos adenovírus), podem estar mais protegidos", afirma.
Enquanto os riscos são desconhecidos, especialistas orientam que as crianças evitem o contato com pessoas que tenham viajado para os países com registros da doença, além da atualização da carteirinha vacinal contra as hepatites A e B.
"Outras dicas importantes seriam evitar o contato com pessoas que apresentam sintomas gripais ou de gastroenterite, e não deixar os pequenos entrarem em contato com outras crianças doentes. Além disso, o ideal é manter as mãos da criança sempre higienizadas, especialmente antes das refeições e depois delas irem ao banheiro", explica a pediatra Taís Frigini.
Já a pediatra Karem Pires salienta que os pais devem ficar cada vez mais atentos à saúde dos filhos, sobretudo neste período do ano, em que há muita ocorrência de infecções virais que podem causar sintomas gastrointestinais. "Crianças sintomáticas, com quadro arrastado, prostração, febre, baixa aceitação de líquidos e dieta devem sempre procurar atendimento médico", reforça.
Conforme a OMS, a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado causada por uma variedade de vírus infecciosos (hepatite viral) e agentes não infecciosos. A infecção pode levar a uma série de problemas de saúde e, em alguns casos, ser fatal.
Muitos dos infectados apresentam icterícia (pele amarelada), que pode ser precedida por sintomas gastrointestinais — incluindo dor abdominal, diarreia e vômitos — e presença da urina escura.
"Os sintomas da hepatite comum e o dessa nova são muito parecidos. Mas o principal alerta costuma ser a pele amarelada. Se a criança apresentar icterícia, os pais devem procurar o pronto-socorro imediatamente. Quanto mais rápido começar o tratamento, melhor", orienta Frigini.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta