Por muito tempo, ser HIV positivo foi considerado uma sentença de morte. Sem cura, a Aids provocou medo e gerou preconceito já nos primeiros anos após seu surgimento, no final da década de 1980. Mas o tratamento evoluiu, a medicação mudou, e hoje especialistas afirmam ser possível viver bem - e por muito tempo - mesmo sendo soropositivo. Ainda assim, 35 anos após o surgimento da doença, falar de HIV ainda envolve certo tabu.
Atualmente, 12.985 pessoas vivem com HIV no Espírito Santo. Esse é o número de pessoas registradas em cadastro da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e que recebem medicação pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Gente que pode ter uma vida tão comum e tão parecida com a sua que talvez você conviva, sem saber, com alguém que tem HIV.
Esta terça-feira (1) marca o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Para ajudar a desmistificar a doença, listamos - com a ajuda da médica e coordenadora do Programa de IST/Aids da Sesa, Sandra Fagundes, e da enfermeira e Coordenadora Municipal Programa de IST/Aids de Vila Velha, Maria Aparecida Lube, - 17 curiosidades que vão ajudar você a entender melhor o que significa viver com HIV nos dias atuais.
Uma pessoa com carga viral indetectável não transmite o vírus HIV pelo sexo, embora seja bom frisar que o ideal é que as relações sexuais sejam feitas com preservativo. Os remédios não matam o vírus, eles controlam a situação para o vírus não se multiplicar. Uma pessoa com carga viral indetectável não tem o vírus HIV no sangue, mas o vírus continua circulando por outras partes do corpo, como o cérebro e o intestino. Como o vírus está presente em outros locais, em 24 horas que a pessoa parar de tomar o remédio, o vírus volta a circular no sangue, explica coordenadora do Programa de IST/Aids da Sesa, Sandra Fagundes.
Desde 2015, o tratamento é feito com dois comprimidos. Os remédios podem ser tomados juntos, com ou sem comida, e precisam ser tomados todos os dias. Tem que ter uma adesão de 95% para carga viral ficar indetectável. A pessoa só tem direito de esquecer de tomar o remédio uma única vez no mês. Esse novo tratamento é mais potente, de forma simplificada e com menos efeito colateral. Com este novo tratamento, diminui a carga viral e, em seis meses, a pessoa fica com carga viral indetectável, afirma a médica.
A coordenadora do Programa de IST/Aids da Sesa afirma que a infecção por HIV só começou a ser notificada no Brasil em 2014. Até 2014, só se sabia quem tinha Aids e só recebia remédio no SUS quem tivesse Aids. Só notificava quem tinha Aids. Em julho de 2014, uma portaria do Ministério da Saúde mudou isso e passou-se a notificar os agravos por HIV.
Em janeiro de 2015, teve mudança no Brasil e o Ministério da Saúde passou a oferecer tratamento para toda pessoa que fosse HIV positivo, com remédio gratuito no SUS, com direito a tratamento, assim como a pessoa que tem Aids, esclarece a médica Sandra Fagundes.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, no Espírito Santo, os homens são a maioria dos infectados por HIV. Para cada mulher infectada, há três homens com HIV. Só em 2019 foram registrados 911 casos de HIV entre homens e 284 entre mulheres no Espírito Santo.
De acordo com dados da Sesa, atualmente, 12.985 pessoas vivem com HIV no Espírito Santo. Esse é o número de pessoas que estão cadastradas e recebem remédio pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Toda gestante, durante os primeiros meses de pré-natal, é submetida ao exame de HIV. Mães que testam positivo são submetidas ao tratamento com o objetivo de reduzir a carga viral e evitar que o vírus passe para o bebê. A gente trata a grávida semelhante à mulher HIV positiva. Todo mês faz exame para saber como está a carga viral dela. Mantendo carga viral indetectável, tomando o Antirretroviral direitinho, é 100% de chance de a mãe não transmitir HIV para o bebê, afirma a médica Sandra Fagundes.
Mesmo para as mães com carga viral indetectável, as mulheres com IHV não amamentam seus filhos para evitar qualquer risco de transmissão do vírus para a criança. No Espírito Santo, desde os anos 2000, filhos de mães HIV positivo têm direito a receber fórmula infantil até os 2 anos de idade através do SUS. Tem 20 anos que o Espírito Santo compra fórmula para todo recém-nascido filho de mãe HIV positivo, até 2 anos de idade. Em todas as maternidades públicas têm. A mãe é cadastrada para pegar o leito e o AZT líquido do bebê proporcional ao peso do neném. Mesmo a mãe tendo carga viral indetectável, o bebê toma AZT por 28 dias, como forma de prevenção. O bebê é acompanhado, explica a médica.
De acordo com a Sesa, nos últimos três anos, o Espírito Santo registrou dois nascimentos de crianças com HIV por ano. Foi assim em 2018, 2019 e também em 2020 - onde até o momento há dois casos notificados de crianças que nasceram com HIV. Ainda segundo a Sesa, em 2019, 78 gestantes testaram positivo para HIV no ES.
Segundo a médica Sandra Fagundes, um novo critério do Ministério da Saúde estabelece que a partir de novembro deste ano, nos casos de gestante HIV positivo, o bebê deve passar pelo exame de carga viral ao nascer. Todo neném que nasce de mãe HIV positiva vai fazer exame de carga viral na maternidade, ao nascimento, para saber se há vírus circulando no sangue do bebê. Faz de novo depois de 28 dias e outro no quarto mês de vida. Isso é para ter um diagnóstico firmado o mais rápido possível, esclarece.
Casais sorodiscordantes - em que apenas um deles vive com HIV - podem ter filhos. Para isso, o parceiro que vive com HIV deve fazer o tratamento corretamente a fim de manter a carga viral indetectável, enquanto o outro parceiro deve iniciar o tratamento de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). A PrEP consiste na tomada diária de um comprimido que impede que o vírus causador da Aids infecte o organismo, antes de a pessoa ter contato com o vírus. "Nosso método de barreira é a camisinha, mas - quando um é soropositivo e o outro não - e o casal quer engravidar, quem não tem HIV usa da PreP para não pegar o vírus. A PreP é uma medicação que deve ser tomada de forma contínua para que o casal possa ter relação sexual sem que um contamine outro. Os serviços de referência possuem toda a orientação para esses casais", explica a enfermeira Maria Aparecida Lube.
Uma das preocupações mais comuns a respeito do HIV é sobre a possibilidade de quem vive com o vírus contaminar outra pessoa por meio do contato com o sangue, como em casos de acidente. É fato que soropositivos não podem doar sangue, por exemplo, mas isso não significa que você estará em risco caso alguém que viva com HIV sofra um acidente com perfurocortante. De acordo com a Unaids, o risco médio de infecção por HIV após uma exposição, por agulha ou corte, ao sangue contaminado por HlV é de 0,3%. Dito de outra forma, 99,7% das exposições por corte e agulha não levam à infecção. "Você não vai sair colocando a mão em cima do sangue de ninguém, ou colocar o sangue na boca. Não se deve ter contato com o sangue de ninguém Os cuidados são os mesmos que se deve ter com qualquer pessoa", reforça Maria Aparecida Lube.
De acordo com coordenadora do Programa de IST/Aids da Sesa, Sandra Fagundes, em 10 anos, se não fizer o tratamento corretamente, o vírus destrói o sistema de defesa do corpo e a pessoa adoece. Para adoecer tem que estar com a imunidade muito baixa, isso é a Aids. O vírus destrói o sistema de defesa da gente. O vírus HIV causa doença crônica 10 anos depois, que é a Aids. Já que a doença não tem cura, o objetivo é controlar o vírus no começo, igual se controla a diabetes. É testar e tratar imediatamente, com o paciente ainda bem, antes de cair a imunidade dele, esclarece.
De acordo com a Sesa, nos últimos 5 anos, a média é de 200 mortos em decorrência da Aids por ano no Espírito Santo. Em 2019, foram 205 óbitos por Aids no Estado.
De acordo com a Unaids, o programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, existem no mundo pelo menos 36 países, territórios e áreas que impõem alguma forma de restrição de entrada, permanência ou residência de pessoas que vivem com HIV, baseados em estado sorológico. Em 17 territórios, indivíduos são deportados uma vez que seu estado sorológico é descoberto. Em pelo menos 5 países, a pessoa precisa demonstrar que é HIV negativa para ter a entrada permitida, mesmo para períodos curtos (10 a 90 dias). E em outros cinco territórios existe proibição total de entrada e permanência de pessoas vivendo com HIV: Brunei, Omã, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iêmen.
O teste é rápido - basta uma gota de sangue no dedo -, semelhante ao teste de diabetes, e pode ser feito de forma gratuita em qualquer unidade de saúde pública. O resultado sai em 15 minutos. Além disso, desde março de 2020, a Secretaria de Saúde do Espírito Santo distribui o autoteste - que pode ser feito em casa - nos 26 Serviços de Atenção Especializada espalhados pelo Estado (SAE). Todos devem fazer teste, qualquer que seja a pessoa tem direito a fazer de graça na Unidade de Saúde. É gratuito e sai na hora, em 15 minutos. Desde março em 2020, a Secretaria de Saúde distribui o autoteste, em que a pessoa que faz em casa. Cada pessoa pode levar até cinco autotestes para casa, para levar para os amigos também, com o compromisso de, se der positivo, comunicar aos órgãos de saúde, informa a médica.
Segundo a Unaids, se a terapia antirretroviral é iniciada cedo e tomada por toda a vida, estima-se que a expectativa de vida das pessoas vivendo com HIV seja a mesma das pessoas que vivem sem o vírus. Cuide-se!
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