Vandré Galvão de Souza sabia que o Papa João Paulo II visitaria o Espírito Santo, mas não tinha interesse em vê-lo. Acabou indo para a região da praça, onde uma missa especial seria celebrada, só para levar a mãe e a irmã, que sonhavam em conseguir chegar perto do pontífice. Foi aí que, sem querer, ele teve a oportunidade de ficar lado a lado com o Papa.
O encontro repentino bastou para despertar em Vandré uma admiração instantânea. “Enquanto minha mãe e a minha irmã saíram pelas ruas procurando pelo Papa, fiquei parado, esperando as duas. E, quando eu menos esperava, João Paulo II passou ao meu lado. Foi emocionante, porque ele tinha uma energia maravilhosa. No fim das contas, minha mãe e a minha irmã só viram o Papa de longe, dentro do helicóptero, e eu, após esse dia, virei fã dele e passei a acompanhar a sua trajetória", contou Vandré para A Gazeta.
Era outubro de 1991 quando o Espírito Santo se mobilizou para receber João Paulo II. Nos dois dias que esteve no Estado, o religioso celebrou uma missa, no campinho que mais tarde foi batizado de Praça do Papa em sua homenagem, e visitou à região da Grande São Pedro, em Vitória, onde quebrou protocolo para se aproximar dos fiéis. Muitos capixabas, que acompanharam a passagem da santidade, escreveram para A Gazeta compartilhando suas experiências.
Todo um esquema de segurança foi montado para garantir a segurança do líder da Igreja Católica. Roberto Darós conta que fez parte da equipe conhecida como "Anjos do Papa". Ele explica que, para atuar como coordenador-adjunto da Operação Visita do Papa João Paulo II a Vitória, passou por um treinamento da Polícia Federal durante três meses.
"Atuei diretamente no sistema de proteção, além de coordenar essa missão sagrada. Durante todos os deslocamentos do Santo Padre em solo capixaba, posicionei-me no Papamóvel, somando forças com os policiais suíços. A quebra de protocolo e aproximação do Papa aos populares, sob chuva e pisando na lama do bairro São Pedro, demandou alerta crítico para minha equipe de segurança, mas foi muito gratificante ver a extrema emoção das crianças naquele local. Na foto (abaixo), sou o policial federal ao lado esquerdo do Papa, protegendo costas, tórax, cabeça, a região vital", revela Roberto.
Para Thales Gouveia Limeira, que participou do grupo que coordenava as ações de saúde para apoio à visita do Papa, o evento representou muito mais que uma experiência profissional. Ao final da missa na Enseada do Suá, ele ajudou uma criança a se aproximar de João Paulo II, em meio à multidão.
“Algumas pessoas tentavam aproximar-se dele, mas logo eram contidas pelos agentes de segurança. Percebi que perto de mim tinha um menino, com cerca de sete anos, que também queria chegar junto ao Papa, mas vendo a ação dos agentes, hesitou, desistindo assustado. Então, abusando de minha prerrogativa de livre trânsito, dei nele um empurrão, o que foi suficiente para lhe incutir coragem e fazê-lo correr, sem ser contido, para junto do pontífice, de quem recebeu uma carícia”, narra Thales Gouveia.
Alice Andreão Rodrigues, tinha apenas cinco anos, mas não esquece do momento em que ganhou um abraço e a benção do Papa. “Foi um dia especial, que marcou minha vida! João Paulo II me tomou pelos braços, me abraçou e me deu a benção. Lembro que voltei para minha mãe e disse: ele tem cheiro de rosas."
Quem também teve a oportunidade de estar bem pertinho da santidade foi Rosiani da Silva. Aos 14 anos, ela, que era membro da Paróquia São José Operário, foi escolhida para receber a comunhão das mãos de João Paulo II. "Fico me perguntando e gostaria muito de saber o por quê fui escolhida. Agradeço a Deus todos os dias por permitir viver este momento e me manter cada dia mais engajada no serviço da igreja”, afirma.
Cleuza Ferreira de Jesus ajudou a fazer o pão ofertado durante a missa. Ela participava da Paróquia da Ressurreição de Goiabeiras. “Lembro de ver João Paulo II passando no Papamóvel na Fernando Ferrari (em Vitória). Como moro próximo ao aeroporto, tive a chance de ver ele bem de pertinho, além de ter participado da missa, na qual tive a honra de fazer o pão do ofertório."
Durante a missa, o grupo de dança da Ufes e da Escola Técnica - que atualmente é o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) - se apresentou. Entre as alunas estava Rose Marie Del Fiume. "Comandadas pela professora Dulce, coreografamos o momento sob supervisão do (arcebispo) Dom Silvestre. Uma curiosidade é que a dança teve de ser realizada apenas com a leitura do texto, sem música, porque a responsável pela fita esqueceu em casa. Apesar disso, tudo correu bem e foi um momento inesquecível. Saber que dançamos para um santo é um privilégio, uma experiência para deixar de herança para a família", diz Rose Marie.
João Paulo Souza Minchio era apenas um menino de oito anos quando o pontífice veio ao Espírito Santo, mas a semelhança física do Papa com seu avô, que havia falecido naquele ano, deixou o evento ainda mais marcante. “Lembro que os ônibus das linhas alimentadoras, que na época tinham cor laranja, atravessaram a Terceira Ponte, todos com o letreiro "Missa do Papa", e estavam lotados. Fui à missa com meu pai e foi muito emocionante, pois naquele ano havia falecido meu avô, que tinha muita semelhança física com o Papa João Paulo II, que, aliás, carrego o nome.”
Já Maria da Penha Dantas Reis Alves foi com a irmã Marilda ver o pontífice no bairro São Pedro. Em meio à muita lama, as duas se esforçaram para chegar bem próximo ao alambrado. "Quando avistamos o Papa, começamos a gritar o nome dele. Minha irmã segurava e puxava o alambrado com tanta força, até que João Paulo olhou em nossa direção. Jamais esquecerei aquele olhar doce”, conta.
Como moradora da região de São Pedro, Irene Gonçalves fala da transformação do local após a visita do pontífice. "São Pedro era totalmente esquecido, com uma miséria e falta de saneamento desumanas. Muitas famílias sobreviviam do lixão que havia ali, catando materiais recicláveis para a venda, e minha família foi uma delas. Porém a passagem do Papa por São Pedro representou um marco importantíssimo para a melhoria da região. Hoje temos orgulho e boas lembranças da visita daquele nobre ser, que auxiliou o crescimento de um lugar que merecia ser lembrado, cuidado e amado, como o Papa amou. Somos muito gratos."
Visita de João Paulo II ao ES
Durante a passagem de João Paulo II por Vitória, a filhinha de Nádia Sampaio tinha 10 meses e estava doente. Mesmo assim, a mãe fez questão de levá-la ao encontro com o santo padre. "Fomos a Camburi para ver o Papa. Chegamos em cima da hora, pois minha bebê estava com uma pneumonia que se arrastava e tinha febre, mas conseguimos vê-lo em nossa frente. Naquele momento, ela adormeceu repentinamente em meus braços e nunca mais teve pneumonia", relata Nádia.
Em 2014, 23 anos após a visita ao Espírito Santo, João Paulo II foi considerado santo pela Igreja Católica. O primeiro milagre atribuído a ele é a cura da freira francesa Marie Simon-Pierre, que sofria de Parkinson, a mesma doença do Papa. Em 2005, logo após a morte do pontífice, Marie orou pedindo a sua ajuda e misteriosamente teve a saúde restabelecida.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.