A emoção marcou o primeiro contato entre uma aposentada e um policial militar internado na UTI do Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves, na Serra, na manhã desta quinta-feira (28). Uma semana após chegar ao Espírito Santo, transferido de Manaus após o colapso no sistema de saúde do Amazonas, mãe e filho conseguiram conversar pela primeira vez.
Altamir Gomes de Oliveira, 49 anos, é um dos 36 pacientes que chegaram ao Estado, transportados em dois voos da Força Aérea Brasileira (FAB), no último dia 21. O policial chegou a passar mal durante o percurso, segundo relata o filho, Tiago Augusto Barreto de Oliveira.
Com a ajuda da tecnologia e da equipe de enfermagem da unidade hospitalar, Altamir realizou o seu desejo: ele queria ver e conversar com a mãe, Raimunda de Oliveira, 68 anos. Com dificuldade, o policial pôde amenizar a saudade da mãe e relatar a sua condição: “Oi mãe, estou melhor um pouco. Passei um momento muito mal”, contou Altamir, durante a ligação.
Do outro lado da tela, Raimunda não escondia a emoção. “Estou transbordando de felicidade. Vi meu filho, sei que está melhorando e que em breve voltará. Só tenho que agradecer, porque ele foi a tempo de se recuperar, de fazer o tratamento. E oro muito porque ele está sendo cuidado com muito zelo pela equipe de médicos e enfermagem. Se pudesse, abraçaria cada um deles”, relatou a mãe em entrevista para A Gazeta.
Raimunda explica que em Manaus a situação de Altamir se agravava. “Meu filho foi daqui muito mal, fiquei numa angústia que só Deus sabe, um sofrimento grande. Mas hoje foi um presente sem explicação, só quem é mãe sabe a alegria”, relata a mãe, ao se referir ao momento em que conversou com Altamir.
Nos primeiro meses da pandemia, Raimunda conta que perdeu um tio querido, de 70 anos, e mais dois primos para a Covid-19. “Aqui não está fácil, você abre as redes sociais, todos os dias têm parentes informando a perda de familiares, de amigos”, conta.
Sua expectativa agora é com o retorno do filho para Manaus. “Você vai ver lágrimas, vou chorar de alegria”, desabafa.
Tiago é um dos três filhos de Altamir, que tem uma filha de 26 e outra de 10 anos. Quando viu o quadro de saúde do seu pai, que estava sendo tratado em casa, piorar, não teve dúvidas: pediu a transferência para outro estado assim que o militar foi internado.
"Assim que ele deu entrada, eu falei: 'Aqui (em Manaus) ele não vai sobreviver, não vai ter oxigênio, não vai ter UTI, não vai ter nada'", recorda-se Tiago sobre o momento que levou Altamir ao Hospital 28 de Agosto pela segunda vez – na primeira, eles foram mandados de volta para casa.
Assim que o pai embarcou, Tiago comprou uma passagem para o Espírito Santo. “Sai à meia-noite e cheguei às oito da manhã, depois de uma parada em Guarulhos (SP)", conta.
Apesar de aliviado pela transferência do pai, Tiago revela que os últimos dias foram de desespero. "No mesmo momento em que soubemos da Covid-19, descobrimos que 40% do pulmão dele já estava comprometido, no dia seguinte já estava com 50% de comprometimento e só agravando. Ele tem problema de pressão, é do grupo de risco. Fiquei muito preocupado", desabafa.
Tiago conta que tem acompanhado os avanços do pai. “Estava preocupado, mas de ontem para hoje teve uma melhora de 100%, graças a Deus. Ainda está na UTI, mas não está intubado e está sendo muito bem assistido. Esta semana, outros amigos meus perderam os pais. Talvez, se tivessem sido transferidos, ainda estariam vivos”, desabafa.
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