Escolas de vitória
Escolas de vitória . Crédito: Fabrício Christ

Mapa: em 1 ano, botão do pânico foi acionado 57 vezes em escolas de Vitória

Dados obtidos por A Gazeta via Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam quais regiões tiveram mais e menos chamados; reportagem também apurou motivo de acionamentos

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Vitória
Publicado em 07/02/2024 às 07h33

O botão do pânico, ferramenta utilizada em escolas de Vitória para acionamento da Guarda Municipal em casos de risco à segurança, foi acionado 57 vezes durante o ano de 2023 - o primeiro período letivo completo em que a ferramenta foi usada. Dados obtidos pela reportagem de A Gazeta via Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam quais regiões tiveram mais e menos chamados. A reportagem também apurou quais ocorrências motivaram os acionamentos da Guarda Municipal.

De acordo com dados obtidos pela LAI, todas as 103 unidades de ensino têm o botão do pânico desde dezembro de 2022. Além disso, o dispositivo também está presente nos seguintes locais: Escola da Ciência-Física, no Parque Moscoso, Escola da Ciência Biologia e História, no bairro Mário Cypreste, Praça da Ciência, na Enseada do Suá, e Planetário, na Universidade Federal do Espírito Santo.

São, ao todo, 110 dispositivos utilizados em espaços mantidos pela Secretaria de Educação municipal em Vitória. O valor previsto para investimento no botão do pânico em 2024 é de R$ 32.898 mensais, totalizando R$ 394.785,60 em todo o ano. O valor abrange a locação dos equipamentos (botão do pânico e smartphones) e a licença do uso dos softwares necessários.

R$ 394.785,60

Valor a ser investido em 2024 em botão do pânico em Vitória

Como mostram os números, as escolas que mais acionaram o botão do pânico estão nas regiões 4, 3, 7 e 2, nesta ordem. São regiões dos bairros da Penha, Grande Vitória, Mário Cypreste, Santo Antônio, São Pedro e Bonfim, por exemplo.

Por outro lado, as escolas que menos acionaram o botão do pânico estão nas regiões 5, 9, 8 e 6, nesta ordem. As regiões compreendem bairros como Barro Vermelho, Ilha do Frade, Praia do Canto, Mata da Praia e Goiabeiras.

A maior quantidade de acionamentos está presente em bairros considerados mais perigosos da cidade. E a menor quantidade de acionamentos, ou a ausência de chamados, é encontrado em bairros considerados de classe média ou classe média alta: ilhas do Frade e do Boi, além de Enseada do Suá e Jardim Camburi.

As avaliações de bairros perigosos ou seguros não são utilizadas por A Gazeta de forma subjetiva. Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, registrados em todo o ano de 2023, os bairros que mais tiveram vítimas de crimes letais estão nas regiões 2, 4, 7 e 3 – nesta ordem decrescente. A região 2, por exemplo, teve mais de 20 vítimas de crimes deste tipo no ano. Por outro lado, ainda considerando dados da Sesp em 2023, os bairros com menos registros de vítimas de crimes letais estão nas regiões 5, 8, 9 e 6 – nesta ordem crescente. A região 5, por exemplo, teve apenas uma vítima de crime deste tipo.

Ou seja, os dados apurados por A Gazeta mostram que estudantes de escolas em determinadas regiões sofrem mais interrupções no desenvolvimento do ensino. Enquanto em outros locais, estudantes sequer tiveram o botão do pânico acionados nas escolas em que estudam.

Botão do pânico passou a ser usado após ataque em 2022

A ideia de instalar o botão do pânico em escolas municipais surgiu em agosto de 2022, depois que uma escola do bairro Jardim da Penha, na capital, foi invadida por um jovem de 18 anos que estava com facas. Ele foi preso e autuado por tentativa de homicídio. Inicialmente, a ideia era era expandir a ferramenta para 32 escolas de Vitória.

Escolas de Vitória terão botão do pânico
Escolas de Vitória terão botão do pânico: esta foi a promessa em 2022. Crédito: Fabrício Christ

Tiros, ameaças e até desaparecimento

Em entrevista à reportagem de A Gazeta, o secretário de Segurança Urbana de Vitória, Amarílio Boni, avaliou que os 57 acionamentos do botão do pânico durante o ano não é considerando um número alto. O secretário reforçou a importância do dispositivo na segurança das unidades educacionais.

Amarílio Boni

Secretário se Segurança Urbana de Vitória

"O objetivo do botão do pânico foi dar velocidade na resposta às escolas. O número de acionamentos [registrado em 2023] não é alto. De uma maneira geral, consideramos o botão do pânico uma estratégia muito eficiente, conseguimos dar uma resposta em 3 minutos. O acionamento das escolas é prioridade dentro da nossa central de atendimento"

Conforme apurado por A Gazeta, estes foram alguns dos motivos dos acionamentos do botão do pânico em 2023:

  • Oito ocorrências em que alunos ameaçaram professores dentro das escolas
  • Seis ocorrências em que disparos de arma de fogo foram ouvidos fora da escola
  • Duas ocorrências em que facas (arma branca) foram encontradas com alunos dentro das escolas
  • Duas emergências de saúde
  • Houve acionamento por desaparecimento de aluno
  • Também houve acionamento por acidente, sem a intenção de chamar a Guarda Municipal, quando não havia risco aos alunos

De acordo com o secretário de Segurança Urbana de Vitória, apesar das ocorrências que representavam algum risco aos alunos e professores, não houve chamado da Guarda por "natureza grave".

Guarda Municipal monitora chamados de escolas com prioridade
Guarda Municipal monitora chamados de escolas com prioridade. Crédito: Pedro Paulo Picoli

"Não tivemos nenhum acionamento de natureza grave, que é o principal. As invasões que registramos foram tentativas de pais entrarem no ambiente escolar. Mas nada parecido com o ocorrido em Jardim da Penha em 2022. Os investimentos em educação e a presença da Guarda têm sido fatores positivos nisso", completou.

"Insegurança afeta desenvolvimento dos estudantes", avalia professora

Os dados apurados indicam uma relação entre a insegurança nos bairros e a quantidade de acionamentos do botão do pânico. Bairros que somaram mais homicídios dolosos durante o ano de 2023, segundo números da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, também tiveram mais chamados da Guarda Municipal para insegurança em escolas. Segundo a professora do Departamento de Psicologia Social e Desenvolvimento da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Edinete Rosa, a relação indica um efeito negativo da falta de segurança no desenvolvimento dos estudantes.

Edinete Rosa

Professora do Departamento de Psicologia Social e Desenvolvimento da Ufes

"Obviamente não é por acaso. Os dados mostram que há percepção do perigo em alguns lugares da cidade. É importante analisar qual foi o resultado do acionamento do botão do pânico, mas o que podemos afirmar com certeza é que a percepção da ameaça e violência, além de um ambiente de insegurança, está mais instalado em regiões mais pobres e mais vulneráveis"

Ainda conforme a professora, algumas condições são necessárias para que um estudante tenha acesso a uma educação de qualidade e a um ambiente propício ao ensino. A falta destas condições compromete os resultados no desenvolvimento de um aluno.

"Não há dúvidas que a insegurança afeta o desenvolvimento dos estudantes. Um desenvolvimento saudável é baseado em três fatores: afeto, segurança e o limite, que significa o que a sociedade me mostra ser permitido ou não fazer. Em uma constituição de uma pessoa, um cidadão, essas condições precisam estar postas", afirma.

Edinete Rosa avalia também que a insegurança na região da unidade de ensino fragiliza não apenas a escola, mas as relações entre professores e alunos. Isso significa que, além dos conteúdos, os alunos precisam se preocupar com a insegurança onde moram e estudam.

A responsabilidade, segundo a professora, é do poder público, que deve garantir segurança para as crianças e adolescentes.

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