Depois de dois anos de pandemia, a Festa da Penha, maior evento religioso do Espírito Santo e um dos maiores do Brasil, está de volta em formato presencial. Será realizado entre os dias 17 e 25 de abril de 2022. O tema deste ano é “Saúde dos enfermos, rogai por nós”, trecho da ladainha de Nossa Senhora. A escolha pelo tema é uma alusão à retomada da rotina, com cautela ainda necessária.
A reportagem de A Gazeta conversou com o guardião do Convento da Penha, frei Djalmo Fuck, que falou um pouco das lições de amor e compreensão de Nossa Senhora e sobre a expectativa da volta da Festa da Penha no formato tradicional.
Para ele, apesar de no começo da pandemia muita gente dizer que o mundo sairia melhor dela, não foi o que aconteceu. "As pessoas saíram mais briguentas e egoístas. O mundo só vai ser melhor quando a gente for melhor, é uma decisão pessoal", pontua. E lembra da história de Maria, que se colocou a serviço de Deus quando o anjo Gabriel a visitou.
"Foi uma decisão dela. Então, se eu também não tomar uma decisão de ser uma pessoa melhor, ou seja, iniciar um processo de conversão pessoal, o mundo não vai mudar."
O frei conta que Nossa Senhora da Penha também é conhecida como Nossa Senhora das Alegrias, em referência às sete alegrias de Maria. Os devotos procuram a Santa atrás de conforto, um porto seguro.
“As pessoas muitas vezes com problemas de saúde, com problemas pessoais, vão ao Convento para alimentar seu coração de esperança e alegria. Nossa Senhora se torna para elas uma referência para seguir em frente.” completou.
Frei Djalmo Fuck
Guardião e Reitor do Convento da Penha
"As pessoas com problemas de saúde, com problemas pessoais, muitas vezes vão ao Convento para alimentar seu coração de esperança e alegria. Nossa Senhora se torna para elas uma referência para seguir em frente"
As sete alegrias de Maria, segundo a bíblia, são:
- Anunciação,
- A visita à sua prima Isabel,
- O nascimento de Jesus,
- A adoração dos Reis Magos,
- O encontro do menino Jesus no templo,
- A ressurreição de Jesus,
- A assunção e coroação de Nossa Senhora no céu.
A Festa da Penha, que neste ano completa 452 anos, teve um início muito mais simples em 1571. Segundo registros, pequenos grupos de fiéis costumavam fazer missas em homenagem a Nossa Senhora.
As festividades começaram dois anos após a chegada da primeira imagem da santa, vinda de Portugal por encomenda do Frei Pedro Palácios, fundador do Convento. O evento começou a ficar maior a partir do século XX.
Quem é Nossa Senhora da Penha para o devoto?
É uma referência religiosa e cultural para o povo capixaba e para os devotos. O povo capixaba se compreende, a partir da sua religião, da sua fé, inspirado em Nossa Senhora. Quando ele olha para esse monumento, que é o Convento da Penha, representa para ele uma referência religiosa, um porto seguro. Então, Nossa Senhora da Penha é que dá sentido para nossa fé, nossa religiosidade e cultura enquanto povo capixaba.
Quais as lições de amor e compaixão deixadas por Nossa Senhora da Penha que podem ser aplicadas neste momento em que o mundo vive uma guerra?
Em todas as aparições de Nossa Senhora, ela sempre pediu muita oração e paz. Sobretudo em tempos de guerra. Tivemos muitas aparições durante a primeira e segunda guerra mundial, sempre pedindo paz e fraternidade aos povos. Somos uma família que vive neste mundo e precisamos nos respeitar mutuamente.
No contexto do Brasil, muita gente acaba enxergando “lados” e considerando quem pensa diferente como “inimigo”. Como tratar isso à luz da bíblia e dos ensinamentos religiosos?
A gente precisa tratar a saúde das relações. Aliás, o tema da Festa da Penha este ano é saúde dos enfermos. Mas saúde entendida no sentido mais pleno, completo e integral. A gente está pensando aqui na saúde física, emocional e das relações. O mundo, sobretudo o Brasil, precisa ser curado dessa ferida. A grande nota de todo evangelho é esta: nós formamos um só povo, escolhidos pelo mesmo Deus. Então, nós nascemos na unidade, e a busca pela unidade é tarefa de todos. Nessa compreensão cristã-católica de Nossa Senhora como mãe, nós sabemos como funciona isso. Nas nossas casas… Infelizmente a gente vai perdendo isso. Não é possível que a gente continue vivendo em um mundo polarizado desse jeito.
Frei Djalmo Fuck
Guardião do Convento da Penha
"A Festa da Penha deste ano representa para nós, capixabas, um recomeço, quem sabe uma volta à normalidade. A construção das relações, laços de fraternidade, de amor, um reencontro. A gente vai poder celebrar e retomar de alguma forma a nossa normalidade."
Como vão abordar a saúde do corpo, da mente e também do ambiente? Como Nossa Senhora da Penha pode contribuir para a cura dessas doenças?
Através da fé, das orações, das preces das pessoas sinceras. Claro que quem sobe ao Convento vem buscar um milagre, mas esse milagre não acontece por si só. Ele exige de nós um esforço, nossa participação, o nosso empenho. Sim, Nossa Senhora é nossa intercessora, ela cura, ela leva nosso pedido a Jesus, mas a gente precisa mudar nossa vida, precisa entrar em um processo de conversão.
A doença da mente é o desafio? A igreja sente que tem mais pessoas com depressão, ansiedade e outras enfermidades? Como é o trabalho para tirar esse fardo na vida dos devotos?
Sim, é um desafio. A gente atende confissões aqui todos os dias. Muitas pessoas, com a pandemia, ficaram isoladas, então essa retomada é sempre muito difícil. A gente, no começo, poderia achar que estar em casa seria a solução para problemas familiares. Mas notamos que, depois de um tempo, as pessoas começaram a ficar cansadas, passaram a brigar com os filhos, cônjuges, irmãos. As pessoas procuram o Convento da Penha, Nossa Senhora, para esse momento de reconciliação, perdão.
Frei Djalmo Fuck
Guardião do Convento da Penha
"Conversamos muito com o poder público, nossa contrapartida é sensibilizar as pessoas que completem seu ciclo vacinal. Quem não tomou a segunda dose da vacina, tome; quem está atrasado com a dose de reforço, que o faça. A igreja convida, sensibiliza as pessoas a se vacinarem, porque assim a gente poderá fazer uma festa ainda mais segura."
Como será a festa neste ano? O que teremos de inovações após dois anos de pandemia? O que o devoto pode esperar?
Em 2022, a Festa da Penha será a primeira festa religiosa nacional a acontecer presencialmente, mas não queremos perder o aspecto online, esse aspecto que fomos aprendendo a trabalhar. Uma das características da festa deste ano é que o formato virtual também vai permanecer. Todas as romarias, até as mais conhecidas que são a dos Homens e das Mulheres, vão ser transmitidas online. As pessoas vão poder acompanhar toda a programação, todas as atividades de forma online. Pelo celular, pela sua televisão. A Gazeta vai ser parceira da gente transmitido pelas redes sociais, pelos jornais e pela TV.
Um dos momentos mais aguardados pelos fiéis e devotos de Nossa Senhora da Penha é a tradicional Romaria dos Homens. Tanto a de 2020 quanto a de 2021 foram online. Quais as expectativas dessa volta ao presencial?
É uma das romarias mais importantes e significativas para o povo capixaba. Estima-se cerca de 600 mil pessoas presentes nessa romaria. A gente até está chegando a projetar um número maior, quem sabe até 100 mil pessoas a mais, porque estamos há dois anos sem romaria presencial. A pergunta que todos nos fazem aqui no Convento é sobre as romarias, especialmente a Romaria dos Homens. É uma romaria muito conhecida esperada, que vem gente de todo Espírito Santo participar.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.