Trecho da ES 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da ES 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento. Crédito: Luciney Araújo

Obra nem acabou e erosão derruba novo trecho da ES 060 em Meaípe

Outra parte do acostamento foi engolida pelo mar, em Guarapari. Ponto afetado não faz parte de trecho que ainda passa por obras do DER-ES após ter cedido em 2019

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 19/12/2022 às 10h51
Atualizado em 19/12/2022 às 16h10

Antes mesmo do término das obras de reparação do trecho que cedeu na ES 060, em Meaípe, Guarapari, ainda em 2019, um outro ponto da mesma rodovia estadual apresenta problema idêntico: o asfalto caiu em decorrência do avanço do mar. A erosão derrubou o acostamento e coloca em risco as faixas destinadas aos veículos.

Imagens feitas pelo cinegrafista Luciney Araújo, da TV Gazeta, mostram que a única separação entre a pista e a areia da praia são os restos do asfalto que caíram, misturados à vegetação e ao pedaço de um barranco. Veja vídeo:

No primeiro trecho que havia desabado em 2019, as obras não foram concluídas até o momento. O Departamento de Edificações e de Rodovias do Estado do Espírito Santo (DER-ES) terminou a primeira etapa da restauração, que consiste no enrocamento da rodovia, ou seja, na instalação de pedras entre o asfalto e a areia da praia. Trata-se de um trecho de 1.250 metros de extensão. 

No entanto, a obra também inclui o engordamento da faixa de areia da praia, para evitar que o mar avance sobre o asfalto. Essa ampliação da praia,  em uma extensão de 3.300 metros, ainda não começou. Agora é um novo trecho que vem sendo destruído pela ação do mar.

Transtornos com a erosão na ES 060 são antigos e interferem na vida dos capixabas há pelo menos 25 anos. Uma reportagem do jornal A Gazeta, em 1997, indicava que o trecho apresentava sensibilidade à ação dos ventos, da chuva e do mar. "A erosão já oferece perigo para os veículos naquele trecho", detalhava a reportagem. O século mudou, mas o problema continua o mesmo. Ou pior, já que novas erosões continuam surgindo desde então. Em 2019, um carro chegou a cair no mar por conta do buraco no asfalto.

Em entrevista à reportagem de A Gazeta na quarta-feira (14), o diretor-presidente do Departamento de Edificações e de Rodovias do Estado do Espírito Santo (DER-ES), Luiz Cesar Maretto, afirmou que o órgão tem ciência da erosão no novo trecho, localizado na saída de Meaípe, em direção ao município de Anchieta.

O ponto que está cedendo ainda não recebeu nenhum reparo recente, mas há previsão de obras no local para contenção do asfalto, segundo Maretto. Já o trecho que já teve o asfalto restaurado recentemente fica entre Maimbá e Meaípe e, segundo o presidente do DER-ES, por lá não há nenhum ponto em que o asfalto tenha voltado a apresentar problemas. "O lugar em que nós atuamos recentemente não cedeu, está intacto e não houve nenhuma intercorrência nos últimos dias", afirma.

Novo trecho da 060 cede em Meaípe, Guarapari

Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento. Luciney Araújo
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento. Luciney Araújo
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento. Luciney Araújo
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento. Luciney Araújo
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento
Trecho da 060 em Meaípe cede e deixa asfalto sem acostamento

O DER-ES não informa quando o asfalto começou a ceder no novo trecho, mas segundo imagens do Google Maps o ponto está cedendo pelo menos desde junho deste ano. Pela plataforma é possível ver que a cratera está aberta há pelo menos seis meses.

O buraco aumentou desde então, como mostra o comparativo abaixo. A imagem da esquerda foi obtida pelo Google Maps e tem data de junho de 2022. À direita, está o registro do cinegrafista Luciney Araújo na última segunda-feira (12). 

Trecho está cedendo há pelo menos 6 meses na Rodovia ES 060
Trecho está cedendo há pelo menos 6 meses na Rodovia ES 060. Crédito: Montagem | Google Maps | Luciney Araújo

De acordo com Maretto, foi instalada uma massa asfáltica no local para evitar que o problema aumente. No entanto, o presidente do DER-ES afirmou que não é possível informar uma data para a conclusão do restauro. 

Luiz Cesar Maretto

Diretor-presidente do DER-ES

"O trecho que está cedendo vai passar por obras. Ainda não há um prazo para terminar, mas vamos recuperar o trecho rodoviário"

De acordo com o representante do órgão ligado ao governo do Estado e responsável por obras públicas no Espírito Santo, serão instaladas pedras e um novo asfalto. Nesse caso, não haverá engordamento da praia, como está previsto no trecho inicial.

Maretto alertou que a cratera ainda não afeta a faixa dos veículos. O buraco começa a termina no acostamento da pista, apenas no sentido sul da ES 060. O problema é encontrado, por exemplo, por motoristas que acessam Anchieta.

Ampliação da praia está em andamento

O novo ponto que cedeu não faz parte do trecho em está em obras, engolido pelo mar em 2019. Na época, a promessa era que a obra fosse dividida em duas etapas. Três anos depois, o problema não está totalmente resolvido.

Segundo planejamento do DER-ES, as obras foram divididas em duas etapas:

  • 1ª etapa: Enrocamento da rodovia: foram colocadas pedras entre o asfalto e a areia da praia. O trecho asfaltado foi recuperado, e as rochas passam a servir como uma defesa contra a água. O reparo inicial foi feito em uma extensão de 1.250 metros de praia. O diretor-presidente do DER-ES afirmou à reportagem de A Gazeta que a 1ª etapa foi totalmente concluída.
  • 2ª etapa: Engordamento da praia: significa a ampliação da faixa areia que separa o mar do asfalto. O projeto previa que essa distância passaria a ter 40 metros. Segundo o DER-ES a faixa de areia seria ampliada em uma extensão de 3.300 metros de praia.

Com a conclusão da primeira parte da obra, resta ao DER-ES promover o chamado engordamento da praia. A ideia é que a água do mar não alcance o trecho de asfalto. A segunda parte da obra, porém, dependia que uma licença ambiental. O documento, segundo Maretto, foi emitido na quarta-feira (14) pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).

"Estávamos aguardando um licenciamento ambiental do Iema para fazermos as obras. E recebemos hoje (quarta) o documento. A empresa está lá e, a partir de agora, vamos começar o engordamento da praia", afirmou.

A prioridade da ampliação da faixa de areia deve ser o trecho na altura da Prainha de Meaípe, considerando o aumento de turistas na região no verão.

Luiz Cesar Maretto

Diretor-presidente do DER-ES

"A rodovia cai atualmente porque o mar, em determinada época do ano, avança para dentro da rodovia. O que nós vamos fazer é colocar areia, como foi feito na Curva da Jurema e em outros lugares, por exemplo. Não teremos mais o mar invadindo a rodovia"

Ainda não há, no entanto, um prazo para que a 2ª etapa da obra na ES 060 fique pronta. De acordo com Marreto, o DER-ES deve manter conversas com a Prefeitura de Guarapari e a comunidade local para que o andamento das obras não seja prejudicado, mas também não atrapalhe o fluxo de turistas no verão. Maretto ainda considerou que as chuvas têm atrapalhado o andamento das obras.

A reportagem de A Gazeta perguntou ao diretor-presidente se a demora para o término da obra poderia custar mais caro ao Estado. De acordo com Maretto, a previsão segue a mesma: gastar R$ 67 milhões. "Não vamos gastar mais nada", disse.

Risco ambiental de engordamento

Como mostra a manchete do jornal A Gazeta, em 1997, a erosão em Meaípe é um problema antigo e constante. Mas a pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Oceanografia Ana Carolina Mazzuco explica que a situação é comum em várias partes do mundo. Segundo ela, o que os governos fazem para impedir que o problema continue é determinante para o meio ambiente e o fim da erosão.

Confira a entrevista com a pesquisadora:

É possível afirmar que o mar invade o asfalto? Por que a água avança a ponto de provocar erosão na ES 060?

Essa praia tem uma dinâmica erosiva e não há nenhuma formação natural, seja ilha, seja barreira, que impeça que as ondas cheguem à praia. A força das ondas é tão alta que tem, sim, o poder de remover o asfalto e a rocha que está por baixo, que é uma rocha sedimentar (arenito).

Casos como esse são comuns?

Quando há uma estrada próxima de um ponto de erosão costeira, em geral a sua estrutura ficará danificada e tende a ceder com o tempo. Muitas vezes o asfalto é arrancado pelas ondas e removido pelas correntes, ficando depois submerso em áreas próximas. Portanto, o mar tem influência direta sobre o dano na estrada.

A ampliação da faixa de areia é suficiente para evitar o problema?

Infelizmente, ações de engordamento de praia com a colocação de areia no local artificialmente são soluções paliativas e de curto prazo. Há tecnologias mais elaboradas que têm resultados melhores para mitigar a erosão costeira. Em geral elas envolvem a colocação de estruturas artificiais, como quebra-mar e barreiras, que podem dissipar a energia das ondas antes que elas atinjam a área de estrada ou que alteram o balanço sedimentar, influenciando positivamente na deposição de sedimento no local. É importante ressaltar que toda estrutura ou ação realizada na praia necessita de licenciamento ambiental, pois tem impactos negativos sobre esse ecossistema.

A velocidade da erosão aumenta ao longo do tempo?

A dinâmica da praia erosiva pode variar com o tempo, principalmente se houver alguma mudança na ação das ondas e subida no nível do mar na região. Também depende de fatores que transportam sedimentos ao local, como a ação de rios. Em alguns locais, o aquecimento global tem causado a subida do nível do mar e maior incidência de ressacas, agravando esse problema. A modificação da linha de costa por ação humana também pode alterar esta dinâmica, piorando o problema.

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