Uma tecnologia capaz de dar autonomia e mobilidade e servir como ferramenta para a melhoria na aprendizagem de alunos com deficiência visual acaba de chegar ao Espírito Santo. Tratam-se de 54 óculos que, acoplados com um dispositivo de inteligência artificial, auxiliam estudantes cegos no processo de leitura, identificação de cores, de cédulas de dinheiro e até mesmo de outras pessoas.
Os acessórios serão entregues para 35 escolas estaduais, 14 unidades dos Centros de Referência da Juventude (CRJs) e para os quatro Centros Estaduais de Educação Técnica (CEETs), situados em Castelo, João Neiva, Vargem Alta e Vila Velha. Uma das unidades foi doada para o Instituto Braille, que, em breve, deve receber mais unidades do equipamento.
Para a aplicação da tecnologia nos ambientes de ensino, professores de Atendimento Educacional Especializado (AEE) foram capacitados com o apoio da empresa responsável pelo equipamento.
Como funciona?
Oriunda de Israel, a tecnologia instalada nos equipamentos pode ser utilizada por pessoas cegas ou com baixa visão para variadas atividades do cotidiano. O OrCam MyEye, que funciona sem a necessidade de conexão com a internet, tem as seguintes funcionalidades:
- Leitura em voz alta: com um recurso de mira a laser, o dispositivo captura e lê qualquer texto escolhido pelo usuário; basta elevar o objeto de leitura ao nível dos olhos ou apontar para o que deve ser lido;
- Reconhecimento facial: a atual versão do equipamento pode gravar dados sobre até 150 pessoas. O usuário para na frente da pessoa que deve ser identificada e diz o nome da mesma; após isso, sempre que a pessoa estiver perto de quem usa o dispositivo, um sinal sonoro é emitido com o nome da pessoa em questão;
- Identificação de produtos: com o recurso da câmera, o dispositivo pode reconhecer cerca de um milhão de produtos e ainda lê o código de barras, passando informações sobre o item em voz alta para o usuário;
- Notas de dinheiro: lendo as informações na nota que está na mão do usuário, o dispositivo identifica a cédula e especifica o valor que a pessoa está portando;
- Reconhecimento de cores: com o simples gesto de apontar e segurar determinado item, o dispositivo é capaz de identificar cores de roupas, paredes, carros e várias outras superfícies;
- Relógio: se o usuário fecha o punho e para na frente do rosto como se estivesse olhando um relógio, o dispositivo identifica a ação e informa as horas.
Basicamente, trata-se de uma câmera que, com um banco de dados instalado, é acoplada na alça da armação de um óculos e reconhece o ambiente onde o usuário está, fazendo a leitura de micro informações para identificar o que está ao redor, passando os detalhes em português, espanhol ou inglês, a depender da configuração escolhida.
Sete estudantes da rede estadual de ensino receberam o dispositivo de realidade assistida. Evelyn de Araújo, aluna da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Maria de Lourdes Poyares Labuto, em Cariacica, foi uma das contempladas com o material e comemorou a novidade.
“Gostei muito da experiência e sei que pode me ajudar muito no meu dia a dia. Às vezes, tenho dificuldade com letras que não estão em braile e agora vou poder ler o que eu quiser”, disse a jovem.
Izumi Peixoto, aluno da EEEFM Professor Renato José da Costa Pacheco, em Vitória, tem a Síndrome de Stargardt, doença degenerativa que não tem tratamento e afeta a área central da retina, impossibilitando a distinção de cores e conversão da luz em impulsos nervosos que o cérebro transforma em imagens.
Atualmente, o jovem tem apenas 15% da visão e precisa de variadas ferramentas para conseguir estudar e fazer as demais atividades de sua rotina: desde sistemas de acessibilidade no telefone ao auxílio de colegas que fazem leituras sobre os assuntos de que ele gosta. Agora, com os óculos, o estudante espera ter mais autonomia.
“Hoje eu não consigo ler nenhum tipo de livro. Então, esse óculos vai me ajudar nisso. Vai me deixar ler documentos e também me ajudar a identificar rostos, que é uma grande dificuldade que tenho”, pontua.
Izumi Peixoto
Estudante
"Eu dependo muito da minha mãe, principalmente em questões da escola, e, para mim, isso vai deixar de ser incômodo e vai ajudar na minha independência"
Pensando no futuro, o jovem conta que pretende seguir a carreira de ator, profissão que depende de variadas leituras. Com o dispositivo, Izumi acredita que o sonho está mais perto de ser realizado.
“Mesmo que um ator trabalhe muito com a fala e interpretação, ele ainda precisa muito da leitura, que é mais técnica. Então, para essa parte visual, vai ser bem útil”, detalha Izumi.
Estado deve receber novos dispositivos em breve
Entrega dos óculos inteligentes para alunos com deficiência visual no ES
Segundo o governador Renato Casagrande (PSB), o Espírito Santo deve receber mais unidades do equipamento em breve. Ele cita que a chegada dos óculos faz parte de um movimento de investimento em inovação e tecnologia no Estado.
Cada um dos equipamentos custou R$ 17,1 mil e, no primeiro lote, foram comprados através das Secretarias da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti) e da Educação (Sedu), totalizando R$ 923,4 mil em investimentos.
“Com essa tecnologia, nossos estudantes com deficiência visual terão mais autonomia e independência, o que transformará suas experiências na escola e no dia a dia. Os óculos inteligentes são mais do que apenas uma ferramenta tecnológica. São um passo importante para garantir que cada aluno tenha acesso ao conhecimento e às oportunidades que merecem”, pontua o secretário Bruno Lamas, responsável pela Secti.
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