O nascimento de um filhote de onça no único zoológico do Espírito Santo que fica em Marechal Floriano, na Região Serrana, chamou a atenção justamente pela surpresa do fato. O filhote nasceu e estudantes que visitavam o local fizeram o registro. Quando estava sendo lambido pela mãe, outra onça macho que estava no mesmo espaço pegou o animal e saiu correndo. A partir dessa cena, surgiram dúvidas sobre os cuidados necessários no nascimento do felino.
O g1ES conversou com especialistas para entender o que diz a legislação e também o passo a passo que precisa ser feito em um zoológico para garantir a proteção da mãe e do filhote durante e antes do período gestacional.
Inicialmente, a administração do zoológico havia negado a procedência do vídeo e o nascimento do filhote. No entanto, na tarde desta quarta-feira (23), o estabelecimento divulgou uma nota informando o nascimento de uma onça-pintada.
Segundo a nota, mãe e filhote passam bem e estão sendo monitorados pela equipe.
"Ressaltamos ainda que recebemos a vistoria do órgão ambiental responsável, Iema, que constatou que os animais estão recebendo os devidos cuidados", informou a nota.
De acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), a fêmea e o filhote estão em uma estrutura separada das demais onças e sendo observados, visto que o animal está estressado e a situação exige o mínimo de contato possível no momento.
O Iema ressaltou ainda que foi comunicado do fato apenas no final da noite desta terça (22). O zoológico está autorizado a funcionar e é vistoriado periodicamente pela equipe de fauna do Iema.
O médico veterinário Vinícius de Seixas Queiroz, que já foi consultor do Centro Nacional de Conservação de Predadores Naturais (CENAP), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio ), explicou que a legislação brasileira estabelece que o empreendedor de um zoológico é o responsável legal pelo local e também pelos animais por meio de um projeto assinado pelo empreendedor e o responsável técnico, que, neste caso, é o órgão estadual.
Esta resolução, que é do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), define as categorias de atividades ou empreendimentos e estabelece critérios gerais para a autorização de uso e manejo, em cativeiro, da fauna silvestre e da fauna exótica.
No entanto, segundo Vinícius, apesar da resolução estabelecer critérios gerais, ainda não existe nas normas brasileiras nenhuma restrição formal para a reprodução em cativeiro.
O médico veterinário esclareceu ainda que, desde a década de 1980, foram elaboradas estratégias para tentar direcionar essa reprodução e tornar a população de animais em cativeiro em diferentes estabelecimentos uma ferramenta efetiva para a conservação, com alguns raros casos de sucesso bem documentados, como o mico-leão-dourado e a ararinha-azul.
O veterinário ressaltou ainda que nenhuma instituição de cativeiro é obrigada a participar desses Planos de Manejo, que não oferecem nenhuma vantagem para o estabelecimento.
O médico veterinário ressaltou ainda que o órgão responsável por organizar estes Planos de Ação e de Manejo é o ICMBio. No entanto, muitos filhotes de onça continuam a chegar aos centros de triagem no Pantanal, Cerrado e Amazônia.
Segundo a bióloga e coordenadora do Projeto Felinos, Ana Carolina Srbek, a percepção da gestação da onça pode não ser muito visível, mas o animal dá alguns sinais de que está esperando um filhote.
A partir dessa percepção, a bióloga indicou que a fêmea já precisaria ser separada dos outros machos, justamente para evitar qualquer problema com os outros animais.
Além disso, a especialista frisou que o acasalamento de onças ocorre ao longo do tempo, então os animais estariam dando sinais no comportamento do casal, que serviriam de alerta sobre uma possível gravidez.
A gestação da onça-pintada vai de 90 a 100 dias, então o ideal, de acordo com a Ana Carolina, seria que a equipe já estivesse monitorando para conseguir separar a fêmea com uma margem de erro de dias, lembrando que o filhote pode nascer um pouco antes ou depois.
Ana Carolina destacou que principalmente pela onça fêmea estar em um recinto com machos, o comportamento poderia mudar entre eles.
Separada dos outros animais, a onça ficaria em um ambiente parecido com o que ela faria na natureza, que sereia buscar um cantinho separado para o nascimento do filhote.
"O comportamento dentro de um cativeiro é alterado. Os felinos são solitários, então a fêmea estaria sozinha para ter o filhote e buscaria um local seguro. Então, elas não encontrariam um indivíduo, eles evitam situações de risco para não expor o filhote", indicou.
A bióloga explicou que a onça é protetora com o seu filhote, então na natureza ela só deixaria o animal no ninho e sempre busca por um local mais protegido. Apenas depois dos primeiros meses de vida o animal sairia com a mãe e poderia ter contato com outros.
Alguns pontos, segundo a bióloga, podem ter levado a equipe a não identificarem exatamente a gestação da onça.
"O que a gente pode dizer é que houve falha de manejo, alguma falha existiu, só não sabemos em que ponto. Como a gestação da onça-pintada vai de 90 a 100 dias, o que pode ter acontecido ali é eles não terem percebido uma gestação mais avançada e não esperavam que ela tivesse o filhote agora", comentou.
O nascimento de um filhote de onça é sempre um momento de celebração, segundo a bióloga. Principalmente por ser uma espécie em extinção. Mas a bióloga lamenta que tantas questões ainda não tenham sido esclarecidas pelo zoológico.
Além disso, a bióloga reforçou que todo o nascimento de onças-pintadas, por serem uma espécie ameaçada, possuem um registro especial.
"Todos os animais em cativeiro são cadastrados em um banco nacional. A gente tem dado de procedência, quando ele chegou, várias informações. Isso auxilia o programa de reprodução", finalizou.
*Com informações do g1ES
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