O principal cartão-postal e importante símbolo histórico-cultural do Espírito Santo, o Convento da Penha, em Vila Velha, foi alvo de escavação arqueológica em um trabalho de responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Durante a pesquisa, chamada pelos profissionais envolvidos de "etapa de prospecção" e finalizada neste sábado (19), foram encontrados materiais antigos usados no cotidiano de muitos anos atrás, entre eles vidros, louças, cerâmicas e telhas.
À reportagem de A Gazeta, arqueólogos participantes do grupo que fez a escavação no local explicaram que a pesquisa tem a finalidade de realizar uma sondagem preliminar, para saberem como foi a ocupação no local e informações sobre cotidiano, dieta, utensílios usados e materiais construtivos, e se existem relações ou não com as partes evidentes das ruínas, na parte mais baixa do Convento da Penha, longe do acesso ao público.
De acordo com informações do Iphan, a pesquisa arqueológica faz parte de uma série de ações de conservação do patrimônio, que buscam preservar e realizar manutenção em diversas frentes.
A pesquisadora Dionne Azevedo, que coordena o Levantamento Arqueológico, reforçou que esse projeto é de caráter preliminar, sendo uma pesquisa que, a pedido do Iphan, tenta sistematizar informações sobre o Convento da Penha para potencializar futuras pesquisas. “Na parte de arqueologia, foi feito um trabalho pontual de levantamento da área, por meio de uma intervenção que fizemos, de abertura de poço-teste, para caracterizar a área como sítio arqueológico”, iniciou.
Dionne Azevedo
Arqueóloga
"Encontramos uma camada de aterro profunda, de onde saíram diversos materiais de várias épocas. Não podemos antecipar informação muito detalhada porque tudo vai passar por análise de laboratório. Na escavação, não conseguimos levantar grandes dados, mas é um material que traz contextos de várias épocas. Há bastante material para construção, de cerâmica utilitária, que podem estar associados a uma questão de cotidiano, mas não podemos afirmar nada em definitivo justamente por ser uma pesquisa preliminar"
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional informou que o estudo teve início em janeiro deste ano, com objetivo de proporcionar informações arqueológicas e históricas ainda não coletadas sobre o bem tombado e da contextualização local.
Ainda conforme o Iphan, duas áreas específicas foram selecionadas para a prospecção arqueológica: uma, que compreende a ladeira dos penitentes e a gruta do Frei Pedro Palácios; e a segunda é o dormitório dos visitantes, popularmente conhecido como senzala. A pesquisa envolve levantamento dos dados documentais, produção de cartilha educacional, levantamento prospectivo e atividade de socialização do conhecimento.
PARA ONDE FOI O MATERIAL JÁ ENCONTRADO?
A coordenadora do trabalho, a arqueóloga Dionne Azevedo, explicou que o material encontrado nas pesquisas se encontra nas dependências do Instituto de Pesquisa Arqueológica Etnográfica Adam Orssich (Ipae). “Lá, faremos toda a etapa de laboratório, como limpeza, análise e catalogação, para entender os materiais de forma aprofundada. Após análise, os resultados vão ser inseridos em relatórios técnicos que serão entregues ao Iphan e traduzidos em uma linguagem mais acessível, para ser usada na parte educativa do Convento da Penha”, disse.
ÁREA "SENZALA” SERIA CASA DE HÓSPEDES
Sobre a área do Convento da Penha conhecida como senzala, os pesquisadores apontaram que o local guarda questões nebulosas para os historiadores. “Pesquisas históricas e arqueológicas apontam que, na verdade, as ruínas não se tratam de uma senzala, como alguns insistem, mas de uma casa de hóspedes, que teria sido construída por volta de 1.650, mas, em algum momento, foi abandonada. Isso porque, ao comparar com as senzalas de Vitória, observamos que a estrutura era completamente diferente”, diz o documento que também é assinado pelos coordenadores da pesquisa Ludimila Caliman, Ananda Cardozo, Dionne Azevedo, Celso Perota e Igor Erler, além de outros dez pesquisadores.
Ainda no documento, os arqueólogos e historiadores afirmam que o local seria um campo para jogos e atividades ao ar livre. “A nossa pesquisa indica que o espaço se tratava exatamente da frente do Convento, portanto teria uma importante função como um espaço de sociabilidade destinado a quermesses, festejos, jogos e abrigar casas que eram usadas para alojamento dos fiéis. Vale destacar que a documentação indica que, em época de festejos, não havia espaço suficiente na vila para abrigar os devotos que, muitas vezes, vinham de muito longe, por isso a importância do local”.
Em algum momento, segundo os estudiosos, o atual “Campinho” foi priorizado e o espaço das ruínas foi abandonado, se tornando, gradativamente, um local destinado ao depósito de entulhos. E sobre essa transformação do espaço, ainda não se compreende bem o porquê.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.